A fábula da criança e o índio ancião

A fábula da criança e o índio ancião

O panorama histórico da final da Série C, entre Boa Esporte e Guarani.

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De um lado um cacique ancião, com 105 anos de história. Do outro, uma criança ousada e bem-nascida, de apenas 5 anos de idade.

O ancião é também um gigante. São décadas e décadas bem-vividas, quando conquistou glórias históricas. Sua origem do interior jamais o intimidou. É o cacique mais respeitado dentre todos os que saem do interior do Brasil.

A criança é neta de um idoso amador, que nunca foi profissional no futebol. Teve um antecessor que até tentou a sorte a partir de 1998, mas que abandonou tudo pela criação do filho, nascido em 2011. Para isso, trocou de cidade e batizou o menino com o nome de seu avô. Boa homenagem.

O estado de São Paulo é pouco para os grandes triunfos do velho indígena. Suas glórias ultrapassaram barreiras e ele ficou conhecido de ponta a ponta, do Rio Grande a Roraima, em duas oportunidades no passado. Uma em primeiro nível; outra, em segundo escalão.

Mas o tempo não foi generoso com o ancião. Além do prestígio, ganhou algum dinheiro em sua era dourada, mas jamais soube como gastar, como bom matuto que é. Outros se aproveitaram de sua honestidade.

Guarani e Boa empataram em 1 a 1 no primeiro jogo da decisão da Série C (Foto: Israel Oliveira/Guarani Press)
Guarani e Boa empataram em 1 a 1 no primeiro jogo da decisão da Série C (Foto: Israel Oliveira/Guarani Press)

Dinheiro é o que não falta para a criança. Está em fase de aprendizagem e ainda não sabe o que é uma grande conquista na vida. Mas, por conta de algumas negociações de seu pai, nunca enfrentou grandes dificuldades. Não sabe o quão fundo é o poço.

O índio sabe. De décadas para cá, viu o tempo desgastar seu patrimônio. Foi obrigado a vender sua própria casa para sanar parte das dívidas. Hoje, mora de favor – mas pode ser despejado a qualquer momento.

A situação difícil rende piadas para seu maior e mais antigo inimigo – um primata que divide a cidade em dois. Os fãs de um, contra os fãs de outro. Um chama o conterrâneo de decadente. O outro responde dizendo que o rival jamais conquistou algo para perder.

Muito nova, a criança não tem inimigos. E nem muitos amigos. Sua popularidade é tímida, parte por desconhecimento, parte por um preconceito contra os mais jovens, e, principalmente, de boa saúde financeira.

Vive em uma cidade pequena diante da imensidão do Brasil. Sabe que, independente do que aconteça, nunca terá a mesma dimensão do velho indígena. Mas quer, ao menos, conquistar o respeito de seu povo.

E, além disso, honrar seu pai. Antes de seu nascimento, em 2010, o patriarca sucumbiu diante de potiguares na mesma etapa que o filho está hoje. Bateu na trave.

Já para o indígena, a vitória servirá para recuperar parte de seu prestígio. Seria sua terceira glória a nível nacional – embora em um escalão mais modesto que os do passado. Suficiente para esfregar na cara de seu arqui-inimigo.

História à parte, o destino os colocou frente a frente. A criança quer um começo. O ancião quer a volta por cima.

O primeiro duelo entre ancião e criança não teve vencedores. O segundo é uma incógnita. O mais velho saberá levar na experiência? O mais jovem compensa na disposição?

E o mais importante: a vitória trará o que o vencedor realmente busca? Essa pode ser respondida por um clichê repetitivo, mas útil: só o tempo dirá.

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