Nos dias de hoje, não é estranho que haja clubes com uniformes inspirados em acontecimentos históricos que os envolvem ou utilizem-nos para prestar algum tipo de homenagem. No Brasil, há dois exemplos recentes. O primeiro é o do Madureira-RJ, que há poucos anos lançou camisas alusivas às suas excursões a Cuba e China nos anos 1960.
Já o segundo é o da Desportiva Ferroviária-ES, que estampou em seu terceiro fardamento o rosto de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul e símbolo da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que imperou naquele país por quase cinco décadas. Em 1991, ele esteve na cidade capixaba de Cariacica em sua primeira visita ao Brasil.
Desta vez, a novidade vem de um clube que atualmente disputa a Primera D, a quinta e última categoria do futebol argentino para os times diretamente filiados à AFA.
O Central Ballester lançou na semana passada uma camiseta que faz tributo aos fuzilados de José León Suárez, na zona norte da Grande Buenos Aires, na passagem do dia 9 para 10 de junho de 1956.
Na ocasião, militantes do peronismo e civis que se rebelaram foram fuzilados pelo regime militar autodenominado como Revolução Libertadora, que no ano anterior havia derrubado o governo constitucional do presidente Juan Domingo Perón.
Das 12 vítimas, cinco morreram e sete conseguiram escaparam.
A repressão da ditadura contra o levante foi imortalizada pelo jornalista Rodolfo Walsh, autor de “Operação Massacre”.
A capa do livro é inspirada no quadro “Os Fuzilamentos de 3 de Maio” (1814), do pintor espanhol Francisco de Goya.
Ademais, a banda Los Redondos também usou a referência do artista ibérico no álbum “Bang, Bang, estás liquidado”.
Na obra, Goya retrata o fuzilamento em Madri pelas tropas francesas de Napoleão, que assassinaram um grupo de espanhóis que haviam se sublevado contra a ocupação de seu território. A figura central é um homem ajoelhado e com ambos os braços abertos para cima, que foi redesenhado no peito da camisa reserva do Central Ballester.
A ideia nasceu do dirigente Ezequiel Rodríguez, segundo conta em seu blog Nicolás Diana, que se encarregou de representar na imagem um patrimônio cultural e social de José León Suárez e gerar senso de pertencimento do clube para com seu bairro de origem.
Um importante resgate para a memória e para a justiça daqueles que morreram lutando pela democracia, mostrando a grandeza do povo argentino e de tantos outros companheiros de luta em qualquer parte do mundo, mutilados quase sempre por governos autoritários.