Em camisa, clube argentino homenageia fuzilados pela ditadura

Em camisa, clube argentino homenageia fuzilados pela ditadura

Central Ballester, da quinta divisão nacional, usa como referência obra inspirada em Francisco de Goya

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Central Ballester
Camisa reserva apresentada no fim de fevereiro pelo Central Ballester (Foto: Reprodução)

Nos dias de hoje, não é estranho que haja clubes com uniformes inspirados em acontecimentos históricos que os envolvem ou utilizem-nos para prestar algum tipo de homenagem. No Brasil, há dois exemplos recentes. O primeiro é o do Madureira-RJ, que há poucos anos lançou camisas alusivas às suas excursões a Cuba e China nos anos 1960.

Já o segundo é o da Desportiva Ferroviária-ES, que estampou em seu terceiro fardamento o rosto de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul e símbolo da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que imperou naquele país por quase cinco décadas. Em 1991, ele esteve na cidade capixaba de Cariacica em sua primeira visita ao Brasil.

Operação Massacre, de Rodolfo Walsh
Capa do livro sobre o fuzilamento ocorrido em 1956 (Foto: Reprodução)

Desta vez, a novidade vem de um clube que atualmente disputa a Primera D, a quinta e última categoria do futebol argentino para os times diretamente filiados à AFA.

O Central Ballester lançou na semana passada uma camiseta que faz tributo aos fuzilados de José León Suárez, na zona norte da Grande Buenos Aires, na passagem do dia 9 para 10 de junho de 1956.

Na ocasião, militantes do peronismo e civis que se rebelaram foram fuzilados pelo regime militar autodenominado como Revolução Libertadora, que no ano anterior havia derrubado o governo constitucional do presidente Juan Domingo Perón.

Das 12 vítimas, cinco morreram e sete conseguiram escaparam.

Os Fuzilamentos de 3 de Maio
Quadro do pintor espanhol Goya (Foto: Reprodução)

A repressão da ditadura contra o levante foi imortalizada pelo jornalista Rodolfo Walsh, autor de “Operação Massacre”.

A capa do livro é inspirada no quadro “Os Fuzilamentos de 3 de Maio” (1814), do pintor espanhol Francisco de Goya.

Ademais, a banda Los Redondos também usou a referência do artista ibérico no álbum “Bang, Bang, estás liquidado”.

Na obra, Goya retrata o fuzilamento em Madri pelas tropas francesas de Napoleão, que assassinaram um grupo de espanhóis que haviam se sublevado contra a ocupação de seu território. A figura central é um homem ajoelhado e com ambos os braços abertos para cima, que foi redesenhado no peito da camisa reserva do Central Ballester.

A ideia nasceu do dirigente Ezequiel Rodríguez, segundo conta em seu blog Nicolás Diana, que se encarregou de representar na imagem um patrimônio cultural e social de José León Suárez e gerar senso de pertencimento do clube para com seu bairro de origem.

Um importante resgate para a memória e para a justiça daqueles que morreram lutando pela democracia, mostrando a grandeza do povo argentino e de tantos outros companheiros de luta em qualquer parte do mundo, mutilados quase sempre por governos autoritários.

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