Em 1983, uma pedra decidiu o confronto entre Lens e Anderlecht

Em 1983, uma pedra decidiu o confronto entre Lens e Anderlecht

Jogo pelas oitavas da Copa da UEFA acabou decidido por conta de uma pedra atirada no campo

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O goleiro belga segura a pedra que causou a confusão (Foto: Reprodução)
O goleiro belga segura a pedra que causou a confusão (Foto: Reprodução)

Algumas partidas de futebol são decididas de maneira inesperada. O craque do time pode falhar na hora H, um reserva pode entrar e marcar o gol no fim, um erro de arbitragem pode mudar drasticamente o resultado. Mas quando os jogos são decididos por fatores externos o buraco é ainda mais embaixo.

Em 1983, O Lens-FRA e o Anderlecht-BEL duelaram pelas oitavas de final da Copa da UEFA. Apesar de ter entrado na competição como vice-campeão belga, o Anderlecht era o franco favorito para o duelo. Além de ser o atual campeão, o time contava com jogadores da espinha dorsal da seleção belga nos anos 1980, como Frankie Vercauteren, Erwin Vandenbergh e Rene Vandereycken. Ainda havia os reforços dos dinamarqueses Frankie Arnesen e Morten Olsen, que encaixavam-se para formar uma equipe de respeito.

Já o Lens se sentia confortável no papel de azarão. O time já tinha surpreendido ao alcançar o quarto lugar no Campeonato Francês da temporada anterior, e disputar uma competição europeia já era lucro. A força do time vinha principalmente do conjunto, muito bem montado pelo novato Gerard Houllier, que ganharia destaque cerca de duas décadas depois pelo Liverpool.

O time francês já havia derrubado dois adversários belgas na campanha até as oitavas de final, em confrontos dramáticos. Primeiro contra o Gent, em uma vaga resolvida somente na prorrogação após dois empates em 1×1. Depois, contra o Antwerp, o Lens chegou a estar perdendo por 2×0 a partida de ida em casa, mas buscou o empate. Na volta, aplicou um 3×2 como visitante para passar de fase.

O cenário estava pronto, e o estádio Felix-Bollaert, em Lens, receberia o primeiro jogo, que acabaria ficando marcado pelo motivo insólito. A partida transcorreu de forma truncada até os 42 do segundo tempo, quando o Anderlecht aproveitou uma chance para abrir o placar, com gol de Vandenbergh.

O campo do Felix-Bollaert era bem próximo das arquibancadas, e a essa altura os ânimos da torcida do Lens já estavam exaltados. Vários objetos eram atirados na direção do gramado, principalmente perto do gol defendido pelo goleiro belga Munaron. Mal sabiam aqueles torcedores o que viria a seguir.

Aos 44, a defesa do Anderlecht conseguiu neutralizar um ataque dos donos da casa e resolveu trocar passes em seu campo para controlar o jogo nos minutos finais. Kenneth Brylle deu um passe para trás na direção de Morten Olsen, que fez um corta-luz para que a bola chegasse no goleiro Munaron.

O passe foi fraco, e a jogada parecia sob controle, mas de alguma forma a bola acabou passando direto pelo arqueiro. À primeira vista, o lance indicava uma falha grosseira do goleiro, mas o replay mostrou que a bola havia desviado em algum objeto justamente no momento em que Munaron iria dominá-la.

Desesperado, ele pegou o objeto para mostrar para o juiz, pedindo que o lance fosse anulado. Era uma pedra, atirada pelos torcedores do Lens em meio à confusão de minutos antes. O árbitro recolheu a pedra e entregou para o representante da UEFA à beira do gramado, mas como não havia visto o objeto no lance, não pôde marcar nenhuma irregularidade.

Os jogadores do Anderlecht ficaram possessos e a torcida do Lens foi à loucura de vez. Alguns tentaram invadir o gramado, e a polícia entrou em ação, aumentando a encrenca. A essa altura a partida já havia sido encerrada, e as esperanças dos franceses estavam renovadas.

No jogo de volta no entanto, não houve “intervenção divina” que fosse suficiente para ajudar o Lens. Precisando de um gol a qualquer custo, o time foi para cima e até criou chances, mas acabou derrotado por 1×0. O Anderlecht chegaria na final naquele ano, onde seria derrotado pelo Tottenham. Mas nem a decisão do título repercutiu tanto quanto a pedra da discórdia no Felix-Bollaert.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio