Eliminação com um gosto ainda mais amargo

Eliminação com um gosto ainda mais amargo

O contexto dos Jogos Olímpicos deixou a eliminação da seleção de futebol feminino ainda mais dolorosa

COMPARTILHAR
Seleção brasileira d futebol feminino
Jogadoras consolam Marta após eliminação para a Suécia; Brasil ainda vai disputar o bronze (Foto: Reprodução/Ministério do Esporte)

A situação do Brasil era delicada quando Andressinha, 21 anos, caminhou do meio de campo até a marca da cal para executar a quinta cobrança da seleção canarinho, diante de um Maracanã lotado e obsessivo pelo inédito ouro olímpico do futebol brasileiro.

Sua responsabilidade era enorme para corresponder às expectativas daquela torcida que havia abraçado com tanta tenacidade a equipe nacional feminina nos Jogos do Rio.

Naquele momento, o Brasil estava rigorosamente empatado com a Suécia, com três gols convertidos e um chute bloqueado ambos. Na meta, a experiente Hedvig Lindahl, de 33 anos, já havia defendido o chute de Cristiane e olhava fixamente para a bola, tentando fazer história. À frente dela, Andressinha respirou, deu uma corrida de quatro passos e chutou forte, no canto direito da rival. Sem sucesso.

Agora todas as esperanças eram depositadas na santificada Bárbara, responsável por pegar o último pênalti na disputa contra a Austrália, no Mineirão, e garantir o avanço do selecionado para a semifinal. Do outro lado estava Lisa Dahlkvist.

A camisa 1 pulou três vezes antes da batida, para se manter aquecida, livrar-se do nervosismo ou talvez parecer maior, descansada. E acertou o canto. Sem sucesso.

Desta maneira, a Suécia se credenciou para buscar uma conquista inédita no futebol feminino do país europeu. Na única vez que lutou para subir ao pódio na modalidade, perdeu a disputa do bronze para a Alemanha, por 2 a 0, em Atenas-2004.

Ao Brasil, restaria bater o Canadá sexta-feira, em São Paulo, na Arena Corinthians, e ficar em terceiro lugar como espécie de prêmio consolação, após tanta fantasia dourada.

Convenhamos, leitor, que foi tudo muito cruel. Uma eliminação ainda na fase de grupos, mesmo jogando em casa, não teria sido tão dolorosa. Explico meu raciocínio: a seleção feminina, a despeito de todas as adversidades que as jogadores encontraram na vida, driblando preconceitos e falta de investimentos, resgatou um patriotismo há muito adormecido, o orgulho ferido de vestir a glorisa camisa amarela.

A flor desabrochou em meio ao asfalto e nos fez sonhar, acreditar, sentir novamente a empatia que exalava daquele aroma natural. Ao som de cada apito final, éramos todos uma só corrente de tensão, um só cansaço, físico e emocional, uma só gota de suor escorrendo pelo rosto desgastado por tanta pressão. Estávamos demasiadamente envolvidos, torcendo como há muito não tínhamos torcido. Por isso foi tudo muito cruel.

A identificação do povo com o time que demonstrou tanto empenho amplificou o nosso sofrimento, mas a dor pelo revés não abalou nossa gratidão. Às filhas dessa pátria, estendemos nossos corações ainda no Maracanã, oferecendo-lhes conforto e carinho por meio de gestos e cantos. Vale lembrar que nem sempre a derrota é negativa, aliás. Como de tudo fica um pouco, dela podemos edificar um novo futuro, mais brilhante.

O discurso pode soar genérico, mas de fato precisamos saber como encarar a situação e tomar atitudes concretas em relação a ela para criarmos novas oportunidades. O caminho é muito muito mais longo que 90 minutos ou um ciclo olímpico. Nessa difícil trilha, o que deve permanecer é o laço que nos uniu na busca pelo sonho dourado.

Deixe seu comentário!

comentários