O futebol, apesar de se locomover pela insípida e restritiva dimensão da contemporaneidade, ainda tem essa adorável mania de nos surpreender de tempos em tempos com figuras relativamente excêntricas. Na Inglaterra, por exemplo, o ex-operário Jamie Vardy briga hoje pela artilharia e pelo título da Premier League com a camisa do Leicester. Em Portugal, vale ressaltar a curiosa história do uruguaio Emiliano Albín.
Atualmente no Arouca, Albín iniciou sua trajetória como futebolista no setor ofensivo do time de sua cidade natal, o Artigas de Sauce. Depois, transferiu-se para o conterrâneo Liverpool de Canelones.
Em 2008, devido aos estudos, precisou mudar-se para a capital do país, Montevidéu, onde pretendia seguir a carreira de agrônomo. No entanto, uma aprovação nos testes do Peñarol transformaria sua vida.
Ele debutou profissionalmente aos 20 anos, das mãos do treinador Julio Ribas, que o pôs no lado esquerdo da volância para enfrentar o Montevideo Wanderers no Campeonato Uruguaio 2009/10, do qual sairia campeão. Por orientação de Víctor Púa, sucessor de Ribas, passou a atuar na lateral. Já sob o vitorioso comando de Diego Aguirre, alternou bastante sua posição até 2012, quando foi negociado com o Boca Juniors.
Na Argentina, o defensor, que havia sido finalista da Copa Libertadores em 2011, teve a oportunidade de compartilhar vestiário com Riquelme e o compatriota Santiago Silva. Mas o sucesso de Albín não se concretizou na outra margem do Rio da Prata, o que o fez retornar ao “carbonero” no ano seguinte, onde ficou até 2015. Sem renovar seu vínculo com o Peñarol, ele decidiu retomar os estudos para trilhar a mesma profissão de seu pai, um engenheiro agrônomo.
Foi devido ao nível de exigência da Libertadores que Albín teve de deixar a Universidade da República em 2011, pois as constantes viagens e concentrações o impediam de conciliar a vida estudantil com o futebol. Para quem já havia enfrentado Cristiano Ronaldo e Neymar, a decisão de pôr os livros de lado não aparenta ter sido tão difícil quanto deter os melhores jogadores do mundo. Mas Albín nunca esqueceu a caneta.
No meio de 2015, ele voltou à universidade com a experiência de ter capitaneado a seleção charrúa nos Jogos Panamericanos de 2011 e viajado a Londres para os Jogos Olímpicos de 2012.
Na última ocasião, esteve ao lado das principais estrelas uruguaias da atualidade, como Suárez e Cavani. Obviamente, como relata em entrevista à seção de esportes do jornal local El Observador, seus curiosos colegas de sala lhe fizeram várias perguntas.
Embora tenha resolvido dedicar seu foco aos estudos, Albín voltou a treinar no Liverpool de Montevidéu para manter seu condicionamento físico. Em janeiro deste ano, assinou contrato com o Arouca (apesar de ter, digamos, perfil para integrar a Acadêmica de Coimbra). De maneira surpreendente, a equipe comandada pelo treinador angolano Lito Vidigal está no quinto lugar, dentro da zona de classificação para a Liga Europa.
Pouco utilizado entre os titulares, Albín, de 27 anos, continua com os pés nos chãos. Literalmente. Na mencionada entrevista, ele revelou que costuma ir aos treinos a pé, conversando com torcedores durante o trajeto. Tudo isso o caracteriza como um jogador distinto – mais pelo fator extracampo do que por seu talento, é verdade, porém que merece ser reconhecido. Quando os gramados perderem um atleta batalhador, os campos deverão ganhar um engenheiro agrônomo igualmente dedicado.