Em 2010, o estádio 11 de Novembro, em Angola, foi palco de uma consagração e um momento histórico para o futebol africano. Quando o atacante Gedo se infiltrou na defesa da seleção de Gana e bateu de chapa para fazer o gol do título egípcio, estava selado um recorde: pela primeira vez um país conquistava três Copas das Nações Africanas consecutivas.
Na época, algumas discussões se iniciaram. Por que o Egito tinha um sucesso tão avassalador no torneio continental e não conseguia mostrar o mesmo desempenho nas eliminatórias para a Copa do Mundo? Será que a hegemonia na Copa Africana iria fazer o torneio perder interesse?
Essas foram as questões levantadas após o tricampeonato, mas os indagadores não imaginavam o que estaria por vir nas edições seguintes. O torneio que havia consagrado um mesmo campeão nas últimas três vezes iniciava uma espécie de maldição, onde os detentores do título não conseguiriam sequer passar da primeira fase.
A primeira vítima seria, obviamente, o próprio Egito. Consagrados com o tricampeonato em 2010, os egípcios iniciaram uma fase de renovação sem a mesma qualidade da geração anterior. Somado a isso, o momento turbulento da política do país fez com que alguns jogadores se afastassem da seleção.
Os resultados em campo mostraram o desgaste. O Egito não conseguiu sequer se classificar para a edição de 2012 da Copa das Nações Africanas. Nas eliminatórias para o torneio, venceu apenas um jogo, terminando na lanterna em um grupo que contava com Níger, Sudão e Serra Leoa.
Quem aproveitou bem a ausência dos campeões foi a seleção da Zâmbia, que em uma zebra histórica conseguiu levar o título continental em 2012, após derrotar a Costa do Marfim nos pênaltis.
Só que um ano depois a Copa Africana seria realizada novamente, e a Zâmbia retomaria seu status de coadjuvante. Chaveada com Nigéria, Burkina Faso e Etiópia, a detentora do título empatou todos os jogos da primeira fase, resultados insuficientes para chegar aos mata-matas.
A Nigéria conquistaria o terceiro título de sua história naquele torneio. Um time tradicional, figurinha carimbada em todas as edições da Copa Africana de Nações, certo? Mas a Nigéria não conseguiria defender seu título também.
Nas eliminatórias para a competição de 2015, acabou em grupo difícil, com África do Sul, Sudão e Congo. Com apenas 8 pontos, não pôde se qualificar para o torneio na Guiné Equatorial, que teria a Costa do Marfim como campeã.
E é aí que chegamos à quarta vítima da tal “maldição”, na edição atual. Favoritos, como não poderiam deixar de ser, os marfinenses chegaram ao Gabão com moral para tentar o bi. Mas sucumbiram à falta de organização e acabaram surpreendidos, eliminados sem nenhuma vitória na fase de grupos.
O futebol africano, de fato, sempre foi prolífico em surpresas, algumas ótimas e outras ruins. A irregularidade de algumas seleções favoritas acaba sendo uma das marcas do esporte no continente, algo que torna as disputas ainda mais emocionantes e imprevisíveis. Quem será a próxima vítima da sina dos campeões?