A figura do pivô no futebol, aquele centroavante imponente, alto, forte, capaz de disputar espaço com zagueiros de seu porte físico e voar para cabecear uma bola nem sempre foi onipresente no futebol.
Na era pré-1970, o futebol brasileiro, principalmente, contava com atletas de relativa baixa estatura para posições ofensivas: ter entre 1,7 m e 1,75 m era mais que suficiente. Os zagueiros eram consideravelmente maiores que os atacantes, mas isso não fazia muita diferença. Técnica e velocidade sempre se sobressaíam.
Isso começou a mudar a partir da década de 80. O jogo mudou, a intensidade mudou e os zagueiros passaram a ser não apenas mais fortes e grandes, como também velozes. Do meio-campo para a frente, os times passaram a jogar de forma mais organizada, diminuindo os espaços e tentando recuperar a posse de bola com mais firmeza.
As mudanças dificultaram o trabalho de quem contava com certa técnica e velocidade. Isso não bastava: era preciso pensar no jogo de forma mais coletiva. Voltaram com força as jogadas ensaiadas, focadas principalmente no jogo aéreo – algo que não era tão frequente assim nos anos 80, mas passou a ser regra nos anos 90.
Assim, nomes como Van Basten, George Weah, Brian Laudrup e Gabriel Batistuta explodiram para o futebol. Em comum, o posicionamento: movimentação restrita à grande área e entornos, posicionamento de costas para o gol e muita batalha por espaço com os zagueiros adversários.
Mesmo aqueles que não contavam com tamanho porte físico, casos de Stoichkov, Milla e Zamorano – Romário era a exceção da exceção – cumpriam a parte tática pré-estabelecida no novo ofício da posição. Alguns que se sobressaiam muito em vários aspectos, como Ronaldo, tinham liberdade para atuar em todo o ataque. Mas era raro.
O futebol brasileiro, como era de se esperar, demorou a absorver essas mudanças. Mesmo nos anos 90, porte físico não era uma regra para que um atacante fosse goleador. Nem o posicionamento estático, o famoso “ponto de referência” da grande área. Técnica, velocidade e dinamismo ainda eram sobrevalorizados. Surgiu aos poucos, com nomes como Jardel, Guilherme e Paulinho McLaren.
Mas isso enfim ganhou força nos anos 2000. Adriano, Luís Fabiano, Fred, Jô, Washington, Aloísio Chulapa, Grafite, Kleber Pereira, Souza, Robgol, Acosta, Rafael Moura: a lista é interminável. De repente, era fundamental usar um jogador grande e forte para ganhar espaço no campo de ataque.
A dinastia são-paulina no Brasileirão, é claro, contribuiu para isso. No esquema de Muricy, o centroavante não era necessariamente o fazedor de gols, mas sim um abridor de espaços, e, ao mesmo tempo, cabeceador e oportunista. Foi assim com Aloísio, Lenílson, Alex Dias e Borges. Nenhum craque, mas todos fundamentais para o tricampeonato.
São Paulo este que nos últimos anos não fez questão de segurar Luis Fabiano, Alan Kardec e Kieza, e tem certo receio com Chavez e Gilberto. Centroavantes que, em outros tempos, seriam muito mais valorizados.
Isso porque, atualmente, o ofício de centroavante é muito mais complexo. Atletas que jogam com pouca movimentação simplesmente são engolidos até pelas defesas de times regionais nos estaduais.
É preciso saber a hora certa de jogar de costas ou de frente para o gol, trocar de posição com meias, volantes e pontas, pressionar a saída de bola adversária com intensidade e ainda contar com recursos técnicos, como dribles e passes de qualidade.
Isso fez com que jogadores como Gabriel Jesus, Calleri, Pratto, Borja, Guerrero, Ricardo Oliveira e até Diego Souza fossem os destaques do cenário nacional, reunindo em comum boa parte das qualidades acima, e que atletas como André, Barrios, Alecsandro, Gustavo, Rafael Moura e Henrique Dourado terminassem 2016 desvalorizados.
Mesmo aqueles que ainda seguem o estilo trombador e que não foram mal, casos de Fred, Grafite, Sassá, Pottker, Ábila e Leandro Damião, estão em um patamar abaixo dos demais. Hoje, taticamente é mais válido para as equipes apostar em um time sem centroavante quando não há um de boa movimentação no elenco – como fez o Grêmio na Copa do Brasil.
O caminho para esses jogadores é se reinventar. Isso pode acontecer por conta própria, ou por algum técnico que consiga alterar a mentalidade dos atletas em campo. A marcação na defesa adversária, por exemplo, é um item básico. Algo que Vagner Love aprendeu a fazer com Tite em 2015. Sofreu no início, mas no fim, saiu campeão.