Cabinho, o brasileiro que conquistou o México

Cabinho, o brasileiro que conquistou o México

Centroavante baiano é o maior artilheiro do Campeonato Mexicano

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A tradição histórica do futebol brasileiro em revelar grandes nomes costuma fazer com que atletas do país garantam lugar em listas de ídolos de diversos países. Infelizmente, essa profusão faz com que, em muitas oportunidades, alguns donos de marcas impressionantes acabem ficando esquecidos no tempo.

É difícil, por exemplo, encontrar alguém que conheça de memória o nome Evanivaldo Castro Silva. Talvez seja mais fácil lembrar pela alcunha com que ficou conhecido no mundo da bola: Cabinho. Nada ainda? Então vamos facilitar.

Nascido na Bahia, Cabinho perdeu seus pais de maneira prematura, passando a viver cada vez mais tempo com o tio, comandante da Polícia Militar. A proximidade com a rotina do exército e o gosto por acompanhar os treinamentos militares foram suficientes para render o apelido, baseado em uma das patentes da corporação.

Foi revelado pelo América de Rio Preto em 1968. Alto e com uma explosão fora do comum, mostrava uma enorme facilidade para brigar com os defensores adversários e romper em arrancadas fulminantes na direção do gol. Suas características chamaram a atenção do Flamengo, clube que o contratou em 1969.

No rubro-negro carioca, a forte concorrência no posto de referência do ataque, que envolvia ainda o ídolo argentino Doval e o folclórico Fio Maravilha, acabou limitando as chances de Cabinho. Depois de apenas seis partidas disputadas ele acabou retornando a São Paulo, para defender a Portuguesa de Desportos.

Foi na Lusa que Cabinho obteve seu maior sucesso no país. Na primeira passagem, em 1971, marcou sete gols em 19 partidas. Depois de uma breve passagem pelo Atlético-MG, onde brigou pela posição com Dadá Maravilha, ele retornou ao time paulista em 1973, quando acabaria sendo centro de uma polêmica.

Naquele ano, a Portuguesa chegou à final do Paulistão contra o fortíssimo Santos de Pelé, que tentava conquistar mais um título, talvez seu último. A decisão disputada em jogo único, acabaria entrada para a história como uma das mais controversas do futebol brasileiro.

Ainda no primeiro tempo, depois de um vacilo do zagueiro Vicente, Cabinho escapou pelo campo de ataque, driblou o goleiro Cejas e marcou o gol. No entanto, a jogada já havia sido paralisada pelo árbitro Armando Marques. O 0x0 no placar persistiu, levando a decisão para os pênaltis.

Depois de perder suas três primeiras cobranças, a Portuguesa viu o Santos abrir uma vantagem de 2×0 nos penais. Armando Marques encerrou a disputa, dando o título para o alvinegro praiano, embora teoricamente ainda existisse chance do empate. Quando percebeu-se o erro, já não havia mais tempo para chamar os atletas da Lusa de volta ao campo e, portanto, o título acabou dividido entre as duas equipes.

Depois do episódio pitoresco, Cabinho ainda ficaria na Portuguesa até meados de 1974, quando a chance de sua carreira apareceu. Uma boa proposta do Pumas agradou os dirigentes lusitanos, que liberaram a venda do jogador para o futebol mexicano.

Era o começo de uma rotina impetuosa e recheada de gols. O México ainda não possuía a força que tem hoje no mundo do futebol, então não demorou para que o atacante se destacasse em meio a outros profissionais que ainda engatinhavam na carreira. Logo na primeira temporada, título e artilharia da Copa México, com 14 gols.

Cabinho e sua rotina de gols (Foto: Reprodução)
Cabinho e sua rotina de gols (Foto: Reprodução)

Era como um adulto jogando em meio a crianças. Durante as cinco temporadas em que defendeu o Pumas, Cabinho acabaria no topo da tabela de artilheiros em quatro oportunidades, com direito a um título da liga em 1976-77. Além disso, formou uma dupla de ataque eficaz com o então novato Hugo Sánchez, “El Niño de Oro”, um dos maiores astros do esporte no México. Ao todo, o brasileiro anotou 151 gols em 184 jogos.

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O atacante durante sua passagem pelo Atlante (Foto: Reprodução)

 

Ao final da temporada 1978-79, o goleador resolveu respirar novos ares, partindo para um novo desafio mexicano, dessa vez no Atlante. A história continuou a mesma: gols atrás de gols. Foram mais três artilharias do campeonato local, perdendo o posto apenas na temporada 1982-1983.

Mais uma transferência, para o León de Guanajuato. A idade avançada não fez muita diferença, e mesmo com 37 anos ele ainda se sagraria artilheiro mais uma vez, na temporada 1984-85. Mas chegava a hora de um retorno, ainda que breve, à sua terra natal, o Brasil. Cabinho chegou como reforço do Paysandu, mas sua volta ao país não durou mais que um ano: Em 1986, iria novamente ao México, para defender o Tigres.

Aquela seria a última temporada do artilheiro, que embora já não tivesse a velocidade de outrora, ainda conseguiu deixar sua marca nove vezes. Somando suas dez temporadas no México, Cabinho terminava sua carreira no país com 312 gols marcados, tornando-se o maior goleador da história da liga local. Ainda ficou marcado como o maior artilheiro do Pumas e do Atlante, feitos insuperáveis até hoje.

Encerrando a trajetória como atleta, Cabinho manteve-se no ramo do futebol, atuando como olheiro e empresário. Foi um dos “descobridores” do atacante Edilson, que brilharia mais tarde por Vitória, Palmeiras e Corinthians. Mas sua marca no esporte acabou com menos força do que um multi-artilheiro merecia.

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