“Awaydays” e a busca por identidade no mundo dos hooligans

    “Awaydays” e a busca por identidade no mundo dos hooligans

    Filme inglês conta a história de um torcedor do modesto Tranmere Rovers

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    Membros da "The Pack" e suas roubas combinando (Foto: Divulgação)
    Membros da “The Pack” e suas roubas combinando (Foto: Divulgação)

    A mitologia por trás da cultura hooligan já foi abordada diversas vezes no mundo das artes. Dos livros, como o ótimo “Entre os Vândalos”, de Bill Bufford, até o cinema, com o bem-sucedido “Hooligans”, são várias as produções que abordam os aspectos dos braços violentos das torcidas de futebol inglesas.

    Girando nessa órbita com um pouco menos de destaque está “Awaydays”, filme de 2009 que nem mesmo chegou a ser divulgado no Brasil. Embora com menos brilho do que as obras citadas acima, Awaydays é um estudo interessante não apenas dos hábitos desses torcedores, mas também de suas motivações.

    Baseado no livro homônimo de Kevin Sampson (que recebe os créditos pelo roteiro), o filme conta a história do jovem Paul Carty, torcedor do Tranmere Rovers que tenta se adequar aos costumes da torcida mais violenta do clube, conhecida como “The Pack”.

    Assim como qualquer conto sobre hooligans, o filme mostra cenas de encontros entre facções rivais repletos de brigas de rua, com uma certa romantização dos confrontos demonstrando o quanto aqueles grupos parecem preencher o vazio de suas vidas com a adrenalina da violência.

    Mas o mais interessante em “Awaydays” é notar algumas sutilezas na descrição das identidades. Diferentemente de outras torcidas caracterizadas pelo visual intimador, a do Tranmere é mostrada como dona de um senso estético particularizado, como se a forma como se apresentassem influenciasse no respeito que conquistariam.

    Com isso, uma das boas sacadas é mostrar ao longo do filme o quanto eles se preocupam com as vestimentas, principalmente os calçados originais da Adidas, com o protagonista de origem mais humilde tentando fazer o máximo para acompanhá-los, mas ficando sempre com o modelo anterior.

    No fundo, isso serve para mostrar um fenômeno sociológico da formação dos hooligans. Paul não parece praticar os atos violentos apenas pelo prazer de bater em outros jovens, mas sim para fazer parte de um grupo, sentir-se parte de algo maior.

    O filme escorrega um pouco no trato das relações humanas, que em certo ponto parecem forçadas. O líder da “The Pack”, Godden (interpretado por Stephen Graham, nome mais conhecido do elenco), serve em alguns pontos como antagonista e em outros como figura paternal, mas a transição entre as partes não é feita corretamente.

    No saldo final, “Awaydays” conta uma história que não chega a surpreender, mas tem alguns retalhos para compor a imensa colcha de obras do gênero, ajudando a entender essa cultura e o quanto o futebol pode estar ligado à formação social do indvíduo.

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    Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio