Em 1966, Almir Pernambuquinho estragou a festa do Bangu

Em 1966, Almir Pernambuquinho estragou a festa do Bangu

Em 1966, jogador iniciou briga que resultou em 9 expulsões e acabou com a final do Carioca

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Almir, ao centro, com a camisa do Flamengo, sendo segurado durante confusão (Foto: Reprodução do livro “Maracanã – Meio século de paixão)

Em época de decisões nos campeonatos estaduais, sempre me lembro das histórias que meu pai me contava sobre Almir Morais de Albuquerque, o famoso Almir Pernambuquinho.

Conhecido por ser um jogador de temperamento explosivo, o atacante parecia ter pré-disposição genética para se envolver em episódios de violência dentro dos gramados.

Por conta de sua forte personalidade, ele protagonizou diversas polêmicas na carreira, tendo como destaque a batalha campal na decisão do Campeonato Carioca de 1966.

O recifense havia chegado à Gávea em 1965. E foi no rubro-negro que o talentoso e controverso atleta escreveu o capítulo mais violento de seu livro, superando o da confusão generalizada entre as seleções de Brasil e Uruguai no Sul-Americano de 1959.

(Assista aos momentos de agitação a partir de 3:06 e 14:14)

Em 18 de dezembro de 1966, o Flamengo, então atual campeão estadual, reeditou a última final contra o Bangu, que havia amargurado dois vice-campeonatos consecutivos.

No dia anterior, Almir, provocador, deu um prelúdio do que viria a acontecer no Estádio do Maracanã, declarando que só uma volta olímpica era possível: a do Flamengo, óbvio.

As equipes mediram forças diante de 143.978 torcedores, público recorde do torneio na época. Superior, o Bangu converteu dois gols em 30 minutos, com Ocimar e Aladim.

Logo após o intervalo, Paulo Borges, que seria o artilheiro da competição com 16 tentos, ampliou a vantagem para os banguenses, que dominavam os flamenguistas.

Atrás no placar e bastante desconfiado de que o goleiro do seu time e o árbitro teriam sido comprados pelo rival, Pernambuquinho decidiu, literalmente, acabar com o duelo.

Aos 26 minutos da segunda etapa, Almir aproveitou uma discussão entre Ladeira, do Bangu, e Paulo Henrique, do Flamengo, para dar início à briga. E atingiu seu objetivo.

Expulso, o destemido atacante estava se retirando do gramado quando deu meia-volta e correu em direção ao centro do campo para desencadear uma pancadaria antológica.

(Veja as cenas lamentáveis a partir de 3:05)

Para delírio dos torcedores flamenguistas, que gritavam “por-ra-da”, houve um festival de pontapés, socos e voadoras. Almir desafiou quase o time inteiro do Bangu para a briga.

Após inumeráveis agressões e xingamentos para ambos os lados, inclusive para radialistas, o explosivo jogador mantinha intacta sua, digamos, vocação para encrencas.

Finalizada a confusão, o juiz expulsou nove homens, quatro alvirrubros e cinco rubro-negros. Como o mínimo permitido para um time é de sete atletas, o jogo foi encerrado.

O Bangu, então, finalmente saiu da fila e faturou o segundo título carioca de sua história. No entanto, graças a Almir Pernambuquinho, não conseguiu dar a volta olímpica.

Ele foi um habilidoso jogador que demonstrava excesso de vontade, é verdade. Muitas vezes, só é lembrado por seu comportamento agressivo, mas de maneira injusta.

A BATALHA DO RIO

Almir começou a carreira em 1956, no Sport do Recife. Depois,  atuou no Vasco da Gama (1957 a 1959) e no Corinthians (de 1960 a 1961), quando foi chamado de “Pelé Branco”.

Em 1962, vestiu as cores do Boca Juniors-ARG. No mesmo ano, mudou-se para o Genoa, da Itália. Retornou ao Brasil na temporada posterior, quando foi contratado pelo Santos.

No time da Vila Belmiro, foi campeão da Copa Libertadores, em 1963. No Intercontinental, ele substituiu Pelé, que estava machucado, em dois jogos contra o Milan, no Maracanã.

Na primeira partida, na Itália, o time da casa venceu por 4 a 2. Na volta, no Rio de Janeiro, os visitantes abriram 2 a 0, porém o Santos devolveu o 4 a 2 nos últimos 45 minutos.

Almir, inclusive, colaborou com um dos gols que forçou o terceiro duelo. E brilhou no encontro de desempate, outra vez em território carioca, mesmo sem balançar a rede.

Ele já havia aplicado um carrinho memorável no compatriota Amarildo, que fez uma provocação sobre a ausência de Pelé, e também acertou o goleiro Luigi Balzarini.

Na verdade, Balzarini havia se atirado em uma bola de maneira arriscada. Sem tirar o corpo da jogada, o recifense acertou a cabeça do arqueiro na dividida, fazendo-o sangrar.

No entanto, a principal atitude do atacante brasileiro ocorreu no primeiro tempo do terceiro e decisivo confronto, em um ímpeto de coragem. Ou até mesmo de loucura.

Almir viu Cesare Maldini levantar o pé para cortar um lançamento na área milanista e não teve dúvida: meteu a cabeça no meio do caminho, conquistando um pênalti valioso.

Com a infração, Maldini foi expulso. Depois de minutos de protestos, Dalmo converteu a cobrança que garantiu o bicampeonato mundial ao time santista.

Infelizmente, o sangue quente foi um dos fatores que colaboraram para abreviar a história de Almir. Em 6 de fevereiro de 1973, aos 35 anos, o ex-jogador, que ainda defendeu o América-RJ antes de se aposentar, foi assassinado.

Ele discutiu com três portugueses que ofendiam um grupo de atores, no bar Rio-Jerez, em frente à Galeria Alaska, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A confusão virou tiroteio. Então, uma bala acertou a cabeça de Almir e acabou por lhe tirar a vida.

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