O Superclássico pelas oitavas de final da Copa Libertadores, realizado nesta quinta-feira (14), entrou definitivamente para a história. Mas não da maneira como grande parte do público imaginou, já que o duelo de volta entre Boca Juniors e River Plate, no Estádio La Bombonera, em Buenos Aires, durou apenas 45 minutos e não teve gols.
Após o fim do intervalo, os jogadores do time da casa foram os primeiros a entrar em campo. Na sequência, quando os visitantes atravessavam o túnel que liga os vestiários ao gramado, houve um tumulto. Os atletas começaram a passar mal, atordoados pelo spray de pimenta que lhes fora lançado sabe-se lá por quem.
As imagens que rodam o mundo mostram alguns “millonarios” sofrendo com os efeitos do gás lacrimejante e também com leves queimaduras. O ataque, inclusive, ficou marcado nas camisetas dos jogadores. Literalmente. Os uniformes de Maidana, Kranevitter, Funes Mori e Ponzio, por exemplo, estavam manchados em um tom alaranjado.
Daí em diante, a situação esteve a uma distância olímpica de melhorar. É bastante provável, inclusive, que os eventos posteriores tenham conseguido superar o escândalo ainda mal resolvido. No campo, jogadores do Boca se aqueciam, talvez na esperança de dar continuidade ao confronto. Na lateral, os do River tentavam amenizar as dores com água.
Embora tenhamos consciência sobre as dimensões da rivalidade deste clássico argentino, é impressionante observar que os “boquenses” pouco se importaram com a saúde dos colegas de profissão, excetuando-se Pablo Osvaldo, que, em determinado momento, mostrou-se preocupado e dirigiu-se aos afetados para lhes perguntar se estavam bem.
Passada pouco mais de uma hora do início da confusão, o árbitro Dario Herrera tomou coragem para enfim suspender a partida. Antes da palavra final do juiz argentino, o que se viu em campo foram cenas patéticas envolvendo dirigentes, técnicos, policiais e representantes da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
Na verdade, foi um vergonhoso desfile de engravatados que perambulavam pelo círculo central sem saber muito bem o porquê. Estavam com seus telefones em punho, conversando com quem quer que seja, enquanto os jogadores do River precisaram esperar por quase três horas até que pudessem retornar aos vestiários, pois torcedores rivais lhes atiravam objetos e impediam sua saída.
Não existe ainda uma data para o reinício do jogo, mas, independentemente do resultado, nenhuma das duas equipes ganhará. Em um dos Superclássicos mais importantes e tensos da história, quem saiu como grande vencedor foi o escândalo de nível internacional.
A Conmebol já emitiu comunicado oficial afirmando que o Boca Juniors terá até sábado (16) para enviar sua defesa. Segundo o regulamento, o clube xeneize pode ser eliminado do torneio continental se for considerado culpado pelo incidente. O River venceu o jogo de ida por 1 a 0. Quem se classificar enfrentará o Cruzeiro nas quartas de final.
Não sejamos ingênuos ao ponto de indicar um único lado como motivador do ocorrido e abordar de maneira simplista um assunto tão complexo como a violência no futebol, que nada mais é do que um reflexo da sociedade em que vivemos.
São diversos os agentes responsáveis por esse fenômeno e todos nós estamos de acordo com eles, em grande ou pequena parcela. A diferença é até que ponto estamos dispostos a tolerá-los. O limite na última noite foi um spray de pimenta. Amanhã, poderá ser outro. Enquanto a polêmica noite em La Bombonera não termina, seguimos aguardando a apuração do caso e as medidas que serão tomadas pelas autoridades.