Em 1987, mordida de cachorro ajudou o Torquay a escapar do rebaixamento

Em 1987, mordida de cachorro ajudou o Torquay a escapar do rebaixamento

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McNichol sai de campo mancando após a mordida do cão policial (Foto: Reprodução)
McNichol sai de campo mancando após a mordida do cão policial (Foto: Reprodução)

Dizem que o cão é o melhor amigo do homem. Até quando ele morde? A resposta é sim, pelo menos para os torcedores do Torquay United, modesto time que atualmente se encontra na quinta divisão do futebol inglês. E uma mordida canina foi fundamental para fazer com que o clube tivesse um dos poucos momentos de fama de sua história.

O ano era 1987, e o Torquay vivia uma situação dramática. Último colocado da Football League 2 (equivalente à quarta divisão inglesa) nas duas temporadas anteriores, o time de Devon, na região sudoeste da Inglaterra, via-se mais uma vez na lanterna do campeonato.

Parece estranho um time repetir a última colocação em dois anos seguidos, mas naquela época ainda não havia rebaixamento automático para a quinta divisão. O descenso começou a valer justamente na temporada 1986-87, por isso o Torquay não podia vacilar. Seria necessário pelo menos um empate contra o Crewe Alexandra para escapar do rebaixamento, em uma briga que ainda contava com Burnley e Lincoln City.

A fiel torcida do Torquay ocupou os 6,5 mil lugares no estádio Plainmoor para o jogo decisivo contra o Crewe. Mas nem a força da torcida no campo acanhado ajudou o time no primeiro tempo. Os visitantes abriram 2×0 de vantagem, com um dos gols marcados por um então desconhecido David Platt, que se tornaria uma das estrelas da seleção inglesa na Copa do Mundo três anos depois.

No entanto, pouco antes do intervalo, um dos herois improváveis da história resolveu apareceu. Jim McNichol, um lateral-direito regular cuja maior conquista até então havia sido representar a seleção sub-21 da Escócia dez anos antes, apresentou-se no campo ofensivo e conseguiu diminuir o placar após desviar de cabeça uma cobrança de falta.

O gol pouco antes do fim da primeira etapa reacendeu os ânimos do Torquay. Mas aquele ainda não era o momento de maior importância de McNichol no jogo. Algo muito mais impressionante e pitoresco estava reservado.

Apesar de martelar bastante, os “pelicanos” donos da casa acabavam tropeçando no próprio nervosismo, desperdiçando muitas chances. Mesmo assim, o time manteve a pressão, subindo com praticamente todos os jogadores para o campo de ataque. E foi em uma dessas investidas que tudo mudou.

O jogo chegava nos acréscimos, e a torcida começava a provocar tumultos na arquibancada, o que fez com que a polícia fosse acionada para controlar os ânimos. Mas a bola não parou de rolar. Empolgado com o gol nos acréscimos, McNichol continuou indo ao campo de ataque, e já nos acréscimos da partida foi buscar perto da arquibancada uma bola que espirrou pela linha lateral.

Foi aí que apareceu o outro protagonista da história: Bryn, o guarda canino. Enquanto seu responsável monitorava a situação dos torcedores, Bryn viu McNichol se aproximando em velocidade. Provavelmente sentindo uma ameaça ao seu parceiro, o cão não vacilou, e mordeu a perna do lateral-direito com força. McNichol caiu.

O jogo, que já estava muito próximo do fim, foi paralisado. Enquanto os médicos tratavam a mordida, o técnico do Torquay tentava bolar estratégias para conseguir o gol salvador. Só que o time já havia feito as três substituições, então restavam poucas alternativas: Ou McNichol voltava ainda lesionado ou o time jogaria com um a menos.

O lateral acabou voltando no sacrifício, com a perna enfaixada. O jogo recomeçou, e após um chutão pra frente, a bola acabou sobrando para o centroavante Paul Dobson. Cara a cara com o goleiro adversário, ele não perdoou. Metade do time foi abraçar o autor do tento, enquanto o resto ia para a lateral comemorar com o machucado McNichol. O Torquay estava salvo, e o rebaixamento acabou sobrando para o Lincoln City.

Depois do jogo, McNichol recebeu os cuidados apropriados dos médicos, incluindo 17 pontos na ferida provocada pelo cachorro. Um dia depois, já de folga, o lateral recebeu a visita de seu “agressor”, que dessa vez veio mais calmo e acompanhado do cuidador. A pedido dos repórteres no local, McNichol perdoou Bryn e declarou que provavelmente o clube não escaparia se não fosse o momento dramático. e a paralisação do jogo. Um cumprimento selou a paz dos herois de Torquay.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio