As noites de Libertadores certamente terão menos brilho a partir da próxima temporada. Não o falo em virtude dos imbróglios ocorridos neste ano (episódios de violência extracampo) ou das parvoíces exercidas pela Conmebol (leniência com irregularidades, final única e jogo em Madri), e sim em razão do emblemático meia-atacante Pablo Daniel Escobar, do The Strongest, que se aposentou na última quarta-feira (19), aos 40 anos.
Nascido em Assunção, no Paraguai, e naturalizado boliviano, o jogador deu adeus aos gramados de maneira inesquecível, balançando a rede quatro vezes na goleada por 8×0 sobre o Blooming, no Estádio Hernando Siles, em La Paz, pela rodada de fechamento do Clausura, o que garantiu ao “Tigre” o vice-campeonato e um lugar na pré-Libertadores. Apesar da decisão, ele manifestou que um dia pretende voltar ao clube como técnico.
Ao chegar à Bolívia em 2004, depois de passagens por Olimpia e por Gimnasia de Jujuy-ARG, Escobar defendeu o San José e quase jogou no Bolívar, mas foi justamente no maior rival deste que ele construiu sua história, amealhando cinco taças nacionais, empilhando recordes no futebol local e tornando-se o maior ídolo do The Strongest. Com mais de 200 gols, é também seu máximo artilheiro, seja em ligas domésticas ou continentais.
Dono da camisa 10 do time da capital, o “Pássaro” desfilou seu talento vestindo o referido uniforme 300 vezes, somadas suas três passagens, mais do que qualquer outro jogador nos 110 anos de existência do Tigre. O poder de finalização da perna esquerda, os dribles curtos, a habilidade de cadenciar o jogo e a liderança o tornaram uma referência no país andino. Graças a esses atributos, ele inevitavelmente deixará uma lacuna em campo.
Com tantas façanhas no currículo, obviamente o capitão Escobar chegou ao selecionado boliviano, pelo qual disputou as eliminatórias para as Copas do Mundo de 2014, no Brasil, e de 2018, na Rússia, marcando 6 gols em 26 aparições. Inclusive, foi exaltado pelo presidente da nação, Evo Morales, antes de seu último jogo, além de ter sido laureado por outras instituições do públicas país que o adotou e ao qual ele é “infinitamente grato”.
Ademais dos clubes aludidos, Escobar voltou ao Paraguai para defender o Cerro Porteño (2006), fez escala no The Strongest (2007) e ficou no Brasil de 2008 a 2011, passando por Ipatinga, Santo André, Mirassol, Ponte Preta e Botafogo antes do retorno definitivo a La Paz. Mesmo longe, nunca deixou de acompanhar o Tigre. “Foi como seguir minha família, seguir minha casa”, disse. Um verdadeiro caso de amor correspondido.