Se Keylor Navas, principal destaque da campanha da Costa Rica no Mundial de 2014, não conseguiu deslanchar após trocar o Levante pelo Real Madrid, era de se esperar que os demais não conseguissem brilhar da mesma forma que em junho do ano passado. Isso aconteceu, em termos.
Enquanto a seleção caribenha estava protegida na meta, muitos jogadores foram fundamentais dentro de campo para que a equipe alcançasse as quartas de final do torneio:, Joel Campbell, Christian Bolaños, Celso Borges, Yeltsin Tejeda e Óscar Duarte são alguns exemplos. Mas a principal referência era o capitão e camisa 10 dos Ticos: Bryan Ruiz.
Regendo a equipe, o meia-atacante canhoto desfilava categoria e facilmente se sobressaía tecnicamente de seus companheiros, com bom passe, controle de bola e visão de jogo. Além de ditar o ritmo da Costa Rica, Ruiz mostrava muita presença no ataque, sendo o artilheiro do time na Copa, com dois gols, marcados sobre Itália, na fase de grupos, e Grécia, nas oitavas.
O jogador, contudo, estava longe de ser um garoto mostrando potencial. Aos 28 anos, Ruiz já acumulava oito anos de experiência no futebol europeu. Foram três de muito sucesso no Gent (Bélgica), dois no Twente (Holanda), dois e meio no Fulham (Inglaterra) e seis meses de empréstimo no PSV (Holanda).
Antes de chegar ao Reino Unido, em 2011, Ruiz atuava mais avançado, como um segundo atacante goleador, que por vezes caía pelas pontas. Seu auge foi no Twente, entre 2009 e 2011, quando conquistou a Eredivisie de 2010, a primeira do clube. Avassalador, o costarriquenho liderou a equipe, com 30 gols em 49 jogos logo em seu ano de estreia no futebol holandês. Terminou como vice artilheiro do torneio, com 25 tentos, dez a menos que um certo Luis Suárez, então no Ajax.
A grande temporada rendeu interesse de grandes clubes europeus, mas, naquela época, dinheiro não era problema para o Twente, e Ruiz ficou. Entretanto, o desempenho do costarriquenho não foi tão espetacular. O atleta terminou a temporada com nove gols em 40 jogos. Chegou a ficar 11 confrontos consecutivos sem marcar.
A solução encontrada foi recuar Ruiz. O agora meia-atacante seguia com forte presença na área, mas funcionava principalmente como um armador, sem a obrigação de marcar tantos gols. A estratégia deu certo, e o costarriquenho, apesar de tudo, terminou a temporada em alta, com o vice campeonato na Eredivisie e o título da Copa da Holanda.
Em alta? Em partes. A temporada abaixo da média afastou os clubes grandes da Europa que o seguiam. Ruiz foi então procurado pelo intermediário Fulham, da Inglaterra. O Twente, já sem tanto interesse em segurá-lo, o liberou no último dia da janela, apesar do arrasador início de ano do atleta, que marcou cinco gols em oito jogos.
O novo técnico da equipe britânica, Martin Jol, o enxergava como um provável artilheiro do clube. Ruiz fez dupla de ataque com Bobby Zamora no início, mas a escassez de gols fez com que ele ficasse no banco. Demorou, mas o costarriquenho recuperou o posto de titular ao atuar atrás de Andy Johnson e caindo pela direita, em um esquema 4-2-3-1. Não brilhou, mas ajudou a equipe a terminar na nona colocação daquela Premier League, mostrando um pouco de técnica em meio a atletas de nível mediano.
Para piorar, Ruiz se lesionou em abril de 2012, perdendo o restante da temporada. Retornou com um desempenho similar, sem conseguir se estabelecer como um atleta insubstituível da equipe. Acabou emprestado no início de 2014 ao PSV. De volta à Holanda, se saiu melhor: terminou a temporada como titular e em boa fase, chegando ao Mundial em alta.
Valorizado após a Copa, retornou ao Fulham, que havia sido rebaixado e disputaria a segunda divisão local. Marcou em seu segundo jogo na temporada, prometendo manter a boa fase. Mas ficou por aí. Ruiz anotou outros cinco gols. Entretanto, fez partidas apagadas, abaixo da média, sendo sempre a primeira opção de substituição do técnico Kit Symons. Muito em função de seus companheiros, de talento muito inferior.
Bryan iniciou 2015 fora até mesmo do banco. Voltou a ser aproveitado nos últimos jogos, mas parece não contar com a total confiança da comissão técnica, que, ao invés de buscar o acesso à elite inglesa, luta para evitar um novo descenso, ocupando a 19ª colocação. A impaciência com um atleta do estilo do costarriquenho é tradicional no futebol do país, que valoriza a força à técnica. Algo não muito diferente no futebol brasileiro em times desesperados, que brigam na parte debaixo da tabela.
O atleta por muito pouco não foi negociado na janela de transferências de inverno. O Levante, da Espanha, chegou a fechar acordo com o Fulham, mas por atraso na documentação, a janela fechou e Ruiz acabou ficando. Recentemente, foi especulado como possível alvo do Cruzeiro.
Para o costarriquenho, o melhor seria mesmo uma mudança de ares. Sua carreira na Inglaterra parece perto do fim, mas há inúmeras ligas nas quais seus dribles e passes longos seriam valorizados. O Brasileiro é um deles, assim como o Holandês. Quem sabe um retorno triunfal ao Twente? Quem sabe uma vinda ao Brasil? O Alambrado torce.