A cena já é costumeira para os torcedores do Midtjylland. Ir ao estádio em Herning para ver seu clube do coração, na esperança de mais uma notável apresentação de um jovem baixinho que passa como um raio pelos marcadores no lado esquerdo do ataque. Obstáculos não são grandes preocupações para Pione Sisto. Ele aprendeu a superá-los desde que era um bebê.
Sisto é um tipo de jogador que merece atenção tanto pelo desempenho em campo quanto pela história de vida. Os pais do meia-atacante nasceram no Sudão do Sul, e fugiram do país por conta da guerra civil na região. Em meio às fugas de um local para outro, o nascimento do menino ocorreu em Uganda, em 1995.
Quando Sisto tinha apenas dois meses de vida, sua família, que ainda incluía seis irmãos, conseguiu refúgio na Dinamarca. Era a chance de uma vida melhor em um país livre dos horrores da guerra, mas a jornada do garoto estava apenas começando.
É de se imaginar a dificuldade de adaptação de uma família africana na Europa. Na Dinamarca, não foi diferente. E a maneira que Sisto encontrou para superar o preconceito e transformar suas diferenças em vantagens foi o futebol.
Com apenas sete anos, já encantava olheiros de diversos clubes do país em torneios infantis. Enfileirava marcadores com leveza impressionante. Por conta disso, foi chamado para a academia do Midtjylland, que desde aquela época já mostrava uma grande preocupação com o futebol de base.
Aproveitando o bom trabalho de formação do clube, Sisto se desenvolveu a ponto de estrear no time profissional com 17 anos. E conquistar a torcida do time dinamarquês não foi tão difícil.
Com extrema velocidade e capacidade de improviso, logo tornou-se um dos destaques do time, que passou a ganhar espaço nas competições europeias. No confronto de mata-mata da Liga Europa deste ano contra o gigante Manchester United, Sisto marcou gols na ida e na volta, e saiu com saldo positivo mesmo após a eliminação.
Era o que faltava para atrair de vez a atenção dos grandes clubes da Europa. Representantes da Inglaterra, Alemanha e Itália tiveram seus interesses despertados por um jovem que havia mostrado tanta personalidade em um momento decisivo.
O status de estrela em um dos clubes que vive melhor fase no país lhe trouxe frutos em vários sentidos. Para garantir que poderia contar com o atleta, a federação de futebol local mexeu os pauzinhos para agilizar seu processo de cidadania dinamarquesa.
Depois de jogar pela Dinamarca na última edição da Euro Sub-21, o meia acabou sendo chamado também pela seleção principal, em duas oportunidades. A garantia da aceitação no país que o acolheu, entretanto, não o afastou de suas raízes.
No dia de sua primeira convocação, Sisto e sua família relembraram as origens e participaram de uma espécie de ritual de boa sorte, típico da região de onde são oriundos.
Como todo jovem, ainda faz escolhas erradas dentro de campo e precisa melhorar seus atributos físicos para atuar nas grandes ligas, já que costuma perder muitos jogos por lesão.
Mas com 21 anos, Sisto demonstra imensa qualidade e dotes suficientes para ser considerado um jogador extremamente promissor. O desafio agora é transformar seu talento em sucesso, algo com boa chance de acontecer para alguém que já superou problemas muito maiores.