Hoje com 67 anos, Francisco Antonio Maturana García, apelidado como “Pacho”, foi um caso raro entre os jogadores de futebol. Influenciado por uma família preocupada com os estudos, conciliou o início de sua carreira profissional com o ingresso na Universidade de Antioquia até se formar em Odontologia. Mas nem tudo foi fácil em sua vida.
Nascido no município de Quibdó, capital de Chocó, povoada majoritariamente por afrocolombianos, mudou-se aos 8 anos para Medellín, situada 230km a leste. Foi criado lendo as “Mil e Uma Noites” e mitologias gregas, antes de conhecer os poemas do uruguaio Mario Benedetti e as impactantes obras de Eduardo Galeano, entre outros.
Ele mesmo explica, em entrevista publicada pelo jornal El Tiempo. Seu pai, Marceliano Maturana, quando chegava à noite em casa, introduzia os filhos aos textos clássicos e entregava prêmios, em geral alguns “trocados”, aos que respondiam a mais perguntas.
Sua mãe, Hilda García, era professora e ficava nervosa quando Francisco jogava bola com os sapatos que custaram tanto esforço de Marceliano.
Certa vez, o menino os tirou para se divertir e percebeu que havia sido furtado. Pensou em várias desculpas, mas acabou de castigo. Por isso, foi proibido de praticar o esporte, embora o fizesse às escondidas.
Aos 13 anos, no Liceo Antioqueño, onde estudava, “Pacho” conheceu o técnico Julio Ulises Terra, das divisões inferiores do Atlético Nacional.
O clube verdolaga, como o jovem saberia depois, havia incorporado o time local pelo qual Francisco atuava, o Sulfácidos y Repuestos. Assim, ele foi avançando de categoria em categoria até chegar ao time principal.
Segundo o próprio ex-defensor, ele gozava de relativo talento com a bola nos pés, mas seu principal objetivo era formar-se na universidade. Aos 23 anos, já com seu diploma, ainda não havia debutado na primeira divisão. Sua estreia, enfim, ocorreu em 1973, quando o Atlético Nacional encerrou um longo jejum e voltou a ser campeão nacional.
Sua ideia, a princípio, era outra. Queria deixar o futebol para montar seu consultório longe de Medellín, mas foi convencido por um amigo a seguir sua carreira dentro dos gramados e a montá-lo em um edifício da região. Já exercendo seu novo ofício, atendeu a colegas de equipe, como Raúl Navarro e sua família, e pequenos fãs que desejavam vê-lo.
Após uma década vestindo a camisa do Atlético Nacional, 359 partidas e 15 gols, ele acertou sua transferência para o conterrâneo Bucaramanga.
A grande motivação de “Pacho” para trocar de clube foi a de viver sozinho, já que ele tinha 29 anos e morava com sua mãe, além da chance de prestar serviços sociais a crianças no interior do país.
Antes de ir ao estádio, passava por uma clínica da cidade homônima para cumprir as obrigações impostas pelas leis aos estudantes da área de saúde. Seguiu a mencionada rotina por um ano.
Depois, resolveu defender o Tolima (aquele mesmo), que tinha um bom time. Mas também não permaneceu por muito tempo, encerrando a carreira em 1983, tendo defendido a Colômbia 6 vezes nas eliminatórias para a Copa de 1982.
Com as chuteiras penduradas, voltou a Medellín para atender a uma clínica infantil. Exerceu a profissão até 1986, quando, das mãos de Juan Martín Mugica, Luis Cubilla e Aníbal Ruiz, iniciou no Once Caldas sua vitoriosa trajetória à beira do gramado, que merece um texto próprio, a ser escrito mais para frente.
Em resumo, foi campeão da Libertadores de 1989 com o Atlético Nacional, ajudou a classificar a Colômbia para a segunda fase do Mundial de 1990 e a conquistar o título inédito da Copa América, em 2001, além de ter orientado o histórico selecionado que venceu a Argentina por 5 a 0 em pleno Monumental de Núñez.
Entre outras façanhas, também ficou conhecido por introduzir novos conceitos táticos à seleção e pela habilidade de elaborar frases de efeito. Tem visão apurada dos fatos e fala com a propriedade de quem aprendeu com grandes referências, sem nunca perder a influência recebida desde cedo pela família, que o ajudou a se tornar o ícone que é hoje.