Pfaff e a brincadeira que implodiu a seleção belga em 1982

Pfaff e a brincadeira que implodiu a seleção belga em 1982

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Pfaff foi um dos grandes goleiros da década de 1980 (Foto: Divulgação/Bayern)
Pfaff foi um dos grandes goleiros da década de 1980 (Foto: Divulgação/Bayern)

“Brincadeira de mão não pode!!!!”. Quem já foi uma criança na beira de uma piscina rodeado por amigos já deve ter ouvido algum adulto responsável falando essa frase. Mas em algumas vezes esse espírito bagunceiro permanece vivo mesmo em gente bem crescida, o que pode provocar acidentes e até mesmo estragar o clima de uma seleção em plena Copa do Mundo.

Para contar a história, vale um pouco de contextualização. Muito antes de Hazard, De Bruyne, Kompany e Lukaku, entre outros, formarem uma equipe popularmente (e jocosamente) conhecida como “Ótima Geração Belga”, o país já havia apresentado ao mundo uma boa fornada de jogadores na década de 1980. Gente do calibre de Jan Ceulemans, Erwin Vandenbergh, François Van der Elst e, principalmente, o personagem principal desta história: Jean Marie-Pfaff.

Reconhecido como um dos melhores goleiros da história, Pfaff chegava à Copa do Mundo de 1982 com a moral de alguém que tinha acabado de assinar um contrato com o poderoso Bayern de Munique. Algo que com certeza não fazia nenhum mal para a moral de um arqueiro famoso pela sua postura em campo, que ocasionalmente o incentivava até mesmo a fazer embaixadinhas perante os atacantes adversários.

Pfaff não era nenhum gigante (1,80m), mas sua auto-estima com certeza era enorme, e seu desempenho em campo justificava sua confiança. Mas esse comportamento não caía bem com seus colegas na seleção belga, que à época consideravam que o goleiro não sabia conviver em grupo.

Sabendo do clima tenso entre os jogadores, a Federação Belga resolveu organizar um evento para melhorar a integração do grupo. Logo depois de garantir a classificação para a segunda fase do Mundial, com direito a vitória sobre a atual campeã Argentina, foi feita uma festa na piscina do hotel em que a delegação estava hospedada. Uma oportunidade para comemorar, relaxar os ânimos e até mesmo melhorar a imagem do grupo com a imprensa do país, que também foi convidada para a festa.

Um dos jornalistas convidados era Jan Wauters, famoso radialista que participava de um programa que misturava futebol com humor. O espírito brincalhão fez com que Wauters se sentisse no direito de pregar uma peça em Pfaff. Aproveitando um momento de distração do goleiro, empurrou-o para dentro da piscina.

Mas Wauters e os jogadores da Bélgica que riam da situação não sabiam de algo importante: Pfaff não sabia nadar. Foram alguns segundos de desespero do folclórico goleirão até que percebessem que havia algo errado.

Para não dar o braço a torcer e não perder a pose, Pfaff declarou para a imprensa belga que tudo não passava de fingimento e que em momento algum ele havia corrido risco. Mas a tensão nos vestiários permanecia, principalmente entre o goleiro e o capitão Eric Gerets.

A rixa acabou sendo levado para dentro de campo. Durante a última partida da primeira fase, contra a Hungria, Pfaff e Gerets acabaram se chocando em um cruzamento na área. Gerets levou a pior no encontro e caiu desacordado. O zagueiro precisou ser substituído e aguardar a chegada da ambulância fora de campo.

O veículo só chegou quando a partida já havia acabado, mas a desavença ganharia um novo capítulo. Pfaff entrou na ambulância antes, alegando uma forte dor no ombro por causa da colisão durante o jogo. Como no carro só havia espaço para um paciente, Gerets acabou grogue do lado de fora.

A vingança do goleiro não passaria impune pelo técnico Guy Thys, que o substituiu por Theo Custers na partida seguinte, na derrota por 3×0 contra a Polônia. Na última rodada da segunda fase, com a Bélgica já quase eliminada, Pfaff continuou no banco, dessa vez para terceiro goleiro Jacques Munaron. Mais uma derrota, 1×0 para a União Soviética. A campanha belga havia sido destruída, e tudo havia começado em uma brincadeira.

O tempo acabaria curando as feridas daquela equipe. Depois de ver o quanto as vaidades haviam prejudicado o grupo, os líderes do elenco resolveram acertar as diferenças e conseguiram se unir pelo bem da Bélgica. Algo que culminaria na excelente campanha da Copa do Mundo seguinte, no México, onde a seleção terminaria com um honroso terceiro lugar.

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio