Os símbolos são indiscutivelmente muitos fortes no futebol e nos ajudam a criar nossa identidade dentro do referido meio. Embora muitos se esforcem dia e noite para desconstruí-la com uniformes de tonalidades randômicas, como critica em seu blog o ilustre Douglas Ceconello, ainda há quem resista e tente preservar suas origens. Isso inclui, de forma natural, a rejeição a tudo que faça referência aos arquirrivais.
O Corinthians, por exemplo, tentou ao máximo evitar o uso do verde durante a construção de sua arena. Por esse motivo, a construtora responsável pela obra em Itaquera precisou importar vidros internos extraclaros para que o objeto não lembrasse a cor do Palmeiras. Houve até estudos para implementação de um gramado preto ou cinza, mas o projeto não foi adiante devido à inviabilidade de funcionamento de uma grama de outra cor.
É possível citar inúmeros casos. O Grêmio barrou o vermelho da Coca-Cola no patrocínio de seu uniforme e nos copos de plástico do saudoso Olímpico. Na Turquia, a torcida do Besiktas fez tanta pressão que o McDonald’s teve de usar preto e branco em sua fachada, abandonando o vermelho e o amarelo (do Galatasaray). Já o Ceará se desentendeu com a Wilson em função das cores do Fortaleza. Agora, a bola da vez é o Nacional-URU.
O clube de Montevidéu não permitirá que os árbitros responsáveis por dirigir jogos no Parque Central vistam camisa amarela e calção preto, tonalidades clássicas do Peñarol. A informação foi confirmada pelo representante e assessor do Nacional, Guillermo Pena Fernández, que revelou ter feito essa cobrança para o trio de arbitragem peruano que conduziu o jogo da última quarta-feira (2), contra o River Plate, pela Copa Libertadores.
Segundo declarações de Fernández ao programa Pasión Tricolor, o juiz Victor Carrillo e seus auxiliares, Yonny Bossio e Raúl López Cruz, iriam a campo trajando uniformes aurinegros. Foi quando o assessor interveio e explicou-lhes que aquelas eram as cores do arquirrival e poderiam gerar interpretações equivocadas e até mesmo atos violentos. Então, eles usaram camisas vermelhas.
“Bom, enquanto eu estiver aqui, isso não vai acontecer [de novo]”, respondeu Fernández, quando lhe disseram que árbitros já haviam vestido amarelo e preto no Parque Central.
Mas a mudança de roupa não impediu críticas por parte da torcida local. O motivo? Na metade do segundo tempo, a bola chutada pelo atacante Leandro Barcia acertou o travessão, ultrapassou a linha do gol e saiu. Porém, o bandeira Raúl Cruz não validou o tento dos anfitriões, que empataram sem gols e têm dois pontos em duas rodadas.
Polêmicas à parte, é revigorante notar que ainda haja quem defenda seus valores em um esporte amplamente tomado por práticas mercadológicas que desprezam a tradição. Mesmo que seja por meio de gestos simples e aparentemente bobos, como evitar referências às cores do rival.