São raríssimas as vezes nas quais clubes de futebol representaram a seleção de seus países. No Brasil, houve quatro casos. O primeiro envolveu o Palmeiras, que trajou verde e amarelo para enfrentar o Uruguai em setembro 1965, na inauguração do Mineirão.
No mesmo ano, o Corinthians vestiu azul e branco para jogar contra o Arsenal, na Inglaterra. Em dezembro 1968, foi o Atlético-MG quem ostentou o uniforme canarinho em um amistoso com a Iugoslávia, em Belo Horizonte.
Já o Internacional, por sua vez, não representou exatamente o país sul-americano, mas teve 11 jogadores convocados por Jair Picerni e foi a base do time que faturou a medalha de prata dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles.
Durante a campanha em território norte-americano, a equipe mediu forças com Alemanha Ocidental, Marrocos, Arábia Saudita, Canadá, Itália e, na disputa pelo lugar mais alto do pódio, a França, diante de mais de 100 mil espectadores no Rose Bowl.
Eventos como os citados, todavia, não se restringem apenas ao Brasil. Na América do Sul, é sabido que alguns clubes também tiveram o privilégio de atuar com as cores de suas nações. O primeiro foi o Nacional-URU, que pisou no gramado da Sociedade Hípica Argentina, em Palermo, Buenos Aires, no dia 13 de setembro de 1903, vestindo uma camisa celeste com uma faixa horizontal branca que partia do ombro direito.
No jogo anterior entre as duas seleções, em 20 de julho de 1902, a Argentina havia aplicado uma goleada de 6 a 0 no bairro Paso Molino, em Montevidéu. Para o encontro seguinte, a liga uruguaia designou como titulares oito jogadores do Nacional e três do hoje extinto Central Uruguay Railway Cricket Club, que, inconformado com a ausência do atacante Lorenzo Mazzuco, recuou-se a ceder seus atletas para o compromisso.
Para substituí-los, foram convocados jogadores do Montevideo Wanderers, que também declinaram da proposta. Diante desse cenário e do possível adiamento da partida, o Nacional, campeão invicto em 1902, reclamou o direito de representar o futebol uruguaio contra o selecionado argentino, que tinha como base os futebolistas do Alumni, potência local à época, e reforços de Belgrano, Lomas e Estudiantes.
O resultado? Com Amílcar Céspedes; Carlos Urioste e Ernesto Reyes; Miguel Nebel, Luis Carbone e Gaudencia Pigni; Bolívar Céspedes, Eduardo de Castro, Gonzalo Rincón, Alejandro Cordedo e Carlos Céspedes, chamado de última hora, o Uruguai venceu por 3 a 2 – seu primeiro triunfo internacional na história, com dois gols de Carlos Céspedes e um de Bolívar Céspedes. O histórico atacante Jorge Brown descontou para os anfitriões.
O segundo caso ocorreu com o Naval de Talcahuano-CHI, até os dias atuais o único clube que teve a honra de ser designado como equipe olímpica e representar o Chile nos Jogos de Helsinque, na Finlândia, em 1952.
Na época, o futebol amador possuía jogadores de alto nível e prestígio entre os fãs do esporte bretão, e o Naval havia conquistado em 1951 o campeonato regional mais importante do sul do país. Por isso, as autoridades olímpicas apostaram no time “chorero”.
Orientado pelo ex-jogador e então técnico Luis Tirado, o selecionado contou com reforços da Universidad Católica e do Colo-Colo e ajuda financeira dos clubes profissionais para viajar até a Europa. Apesar dos esforços, a equipe sul-americana foi eliminada na estreia da competição para o Egito, que venceu o confronto por 5 a 4.
A equipe que entrou em campo foi a seguinte: Manuel Roa; Luis Leal, José García; Domingo Pillado, Rubén González, Jaime Vásquez; Justo Albornoz, Irenio Jara, Fernando Jara, Julio Vial e Domingo Massaro.
Curiosamente, Jara, da Universidad Católica, e Vial, do Colo-Colo, marcaram dois gols cada. Do lado egípcio, Elfar, Mechaury, e Eldizwi, três vezes, balançaram as redes na atual Arto Tolsa Areena.
Em 1976, outro caso envolvendo Olimpíadas. Neste ano, a principal categoria de base do Newell’s Old Boys havia sido campeã sob o comando de Eduardo Bermúdez. Técnico da seleção argentina na ocasião, César Luis Menotti não tinha tempo para formar uma equipe para o Pré-Olímpico que seria disputado em Recife. Por isso, entrou em contato com o coordenador das divisões inferiores do Newell’s, Jorge Griffa, e pediu-lhe para que o vitorioso time representasse o país no torneio.
Com apenas 10 dias de preparação, a equipe de Griffa, que contava com Marcelo Bielsa, Ricardo Giusti e Roque Alfaro, venceu Chile (2 a 1), Peru (3 a 1) e empatou com a Colômbia (2 a 2). As derrotas para Uruguai e Brasil, ambas por 2 a 0, minaram as chances de classificação para a Olimpíada de Montreal, no Canadá, mas ainda assim renderam o terceiro lugar para o conjunto rubro-negro – o único clube argentino, ainda que na categoria sub-23, a representar a seleção nacional de forma absoluta.