Mecenas do futebol: Roman Abramovich

Mecenas do futebol: Roman Abramovich

Conheça o passado do milionário dono do Chelsea

COMPARTILHAR

Entre os empresários, Abramovich é um popstar. Virou uma personalidade do futebol, focalizado por câmeras de transmissão e tendo sua imagem divulgada amplamente ao redor do mundo. É aplaudido por milhares, ou talvez milhões de torcedores, que o têm como um filantropo do esporte. O playboy desapegado que investiu na paixão de muita gente. Que acompanha seu time religiosamente em quase todos os jogos, investindo e torcendo.

Com seus bilhões, Roman levou o Chelsea à hegemonia inglesa (Foto: Divulgação)
Com seus bilhões, Roman levou o Chelsea à hegemonia inglesa (Foto: Divulgação)

Muito diferente de quando surgiu, em 2003. Era um completo desconhecido ao redor do globo, e se bobear até em grande parte da Rússia, seu país natal. Enganam-se, porém, aqueles que acham que Roman vem de berço de ouro.

Abramovich nunca passou fome, mas vem de uma família que pode ser considerada algo equivalente à classe média na antiga União Soviética. Serviu ao exército de seu país antes de trabalhar como vendedor ambulante, e, posteriormente, como mecânico em empresas pequenas, afastadas de grandes centros.

Isso porque o outrora bilionário veio de uma cidade importante administrativamente, mas nem tão chamativa aos holofotes. Para um país gigante como a Rússia, a distância de 15h via terrestre para a capital Moscou nem é das maiores. Principalmente para Roman.

Deixou sua cidade natal e foi morar na maior de seu país, ainda jovem. Era um exímio negociador. Começou vendendo patos de borracha, os quais embalava e distribuía de seu modesto apartamento na metrópole.

Não teve muito sucesso com seu próprio negócio, e voltou para o mercado de trabalho. Por empresas intermediárias, passou a prestar serviços para a Gubkrin Institute of Oil and Gas, ramificação da prestigiada universidade pública com foco em ciências geológicas – notadamente, petróleo. Vendia pneus recauchutados.

Abramovich nas tribunas do Stanford Bridge: imagem frequente (Foto: Reprodução)
Abramovich nas tribunas do Stanford Bridge: imagem frequente (Foto: Reprodução)

Em ascendente, foi contratado pela Runicom, empresa suíça que, à época, realizava operações comerciais diversas na Rússia. As coisas mudaram quando veio Gorbachev, que, em meados dos anos 80, criou várias reformas econômicas para a União Soviética. Basicamente, um caminho de transição para o capitalismo, sob as rédeas do neoliberalismo.

Abramovich enxergou nessa política uma grande oportunidade. Voltou a empreender, começando com uma empresa que vendia bonecas. Aos poucos, aproveitando seus anos de experiência na Gubkrin, e o dinheiro feito com sua pequena companhia, moldou seus investimentos para o ramo do petróleo.

A fase era totalmente frutífera para empresários russos. A era das privatizações, que tirava as empresas das mãos do estado e passava adiante, gerou um respeitável número de magnatas no país. As riquezas, que até então eram divididas – de certo modo, é claro – passaram a se concentrar nos negociantes mais hábeis.

Nesse período, Abramovich teve, por exemplo, empresas de todos os tipos: de recauchutagem de pneus a segurança privada. Algumas faliram, outras foram vendidas. De transição em transição, logo acumulou uma pequena fortuna. Sua especialidade, afinal, era comprar empresas em declínio e as repassar em melhores condições.

Acabou por se estabilizar no ramo do petróleo. Virou sócio (e amigo) de Boris Berezovsky, provavelmente o magnata russo mais famoso mundialmente. Aos 30 anos de idade, já era tão rico a ponto de ser amigo próximo do presidente do país, Boris Yeltsin, e morar no Kremlin.

Aproveitou seu prestígio político e financeiro para se tornar governador da longínqua província de Chukotka – com a qual nunca teve relação – em 1999, sob a imagem de um magnata filantropo.  Por pouco não foi eleito para um segundo mandato, em 2005.

Seu passado, porém, não é livre de asteriscos. Chegou a ser preso em 1992 sob a acusação de roubo de propriedade pública ao supostamente ordenar o desvio de destino de um trem carregado de combustível de uma estatal, baseando-se em um acordo falso. Uma empresa terceira pagou a dívida e a multa, libertando o empresário.

Sem problemas oficiais com a justiça, nos anos 2000, já era o homem mais rico da Rússia. Com uma fortuna de bilhões em mãos, Abramovich aparentemente não sabia com o que gastar. Passou a investir no futebol: primeiro, no CSKA Moscou. Depois, no Chelsea.

A aquisição do Chelsea se deu quando o magnata mudou-se para o Reino Unido. Naquela época, a tradicional equipe inglesa estava à beira da falência. Abramovich sequer precisou investir muito de sua fortuna para ser seu novo dono.

Mas esboçou uma infinidade de dinheiro para transformar a quase falida equipe britânica em potência do futebol mundial. Abramovich não parecia se importar com o fato de que, apesar do tradicionalismo, o Chelsea não estava entre as mais vitoriosas equipes do esporte. Tratou de transformá-la.

Em seus dois primeiros anos, foram cerca de 165 milhões de libras investidos apenas em contratações. Crespo, Verón e Makelelé encabeçavam a lista, que inchou com as incontáveis chegadas de jovens talentos, como Kezman, Robben, Cech e Drogba, que futuramente se tornaria em uma das maiores lendas dos Blues.

Sua chegada repentina chamou a atenção do mundo inteiro. Quem era o louco que esbanjava tanto dinheiro no futebol? Fazia do esporte seu Football Manager da vida real. Foi, em termos, pioneiro entre os mecenas modernos do mundo da bola.

Pouco a pouco, sua vida passou a ser investigada pelos tabloides britânicos. A história da prisão foi uma das primeiras a vir à tona. Teorias de que o russo buscava burlar as autoridades locais – e o fisco – ao se mudar para a Grã-Bretanha se espalhavam aos quatro ventos. Nos informais pubs ingleses, a história que todos podem imaginar, mas que nenhum veículo pode publicar: estaria o russo lavando dinheiro?

Se está, provavelmente ninguém provará. Abramovich toma postura antimídia e quase nunca faz declarações públicas. Processa aqueles que dizem coisas na imprensa sem provas. Mais do que lavar dinheiro, é acusado de ter lucrado com a exploração ilegal e desumana de alumínio em um dos períodos mais conturbados da história da Rússia, no pós-União Soviética.

E as acusações não param por aí: suborno, fraudes financeiras, traição, tráfico de influência, intimidação e até ameaças, essas últimas vindo de ninguém menos que seu antigo amigo, Boris Berezovsky, que perdeu a causa na corte londrina.

Assim como todas as outras acusações, que jamais foram provadas. Denúncias à parte, Abramovich definitivamente marcou seu nome na história do futebol, apesar de mal ter chutado uma bola na vida. Levou o Chelsea a uma hegemonia inglesa e ao título da Liga dos Campeões, goste ou não. E, acredite: ele não está nem aí para isso.

Deixe seu comentário!

comentários