Disciplina e pioneirismo: A incrível carreira de Belfort Duarte

Disciplina e pioneirismo: A incrível carreira de Belfort Duarte

Símbolo de classe dentro de campo, ex-zagueiro trouxe várias inovações para o futebol brasileiro

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Qualquer pessoa pode se considerar referência em seu campo de atuação quando seu nome fica intrinsecamente vinculado a uma característica, a ponto de batizar um troféu entregue àqueles que seguem os mesmos princípios. Alfred Nobel, por exemplo, virou sinônimo de criatividade quando teve seu nome ligado ao prêmio mais importante da ciência.

No Brasil, uma figura dos primórdios da chegada do futebol teve honra parecida. Conhecido pela disciplina, honestidade e elegância dentro de campo, o zagueiro Belfort Duarte acabou emprestando seu nome ao prêmio dado aos jogadores que mais aplicavam os conceitos da desportividade nos gramados. Mas os destaques em sua carreira vão muito além disso.

O defensor marcou época no futebol brasileiro (Foto: Reprodução)
O defensor marcou época no futebol brasileiro (Foto: Reprodução)

João Evangelista Belfort Duarte nasceu em São Luís, no Maranhão, em 1883. Membro de uma família abastada, mudou-se ainda criança para São Paulo, onde fundou, junto com colegas da universidade, a Associação Atlética Mackenzie College.

Era o primeiro clube do país criado somente por brasileiros, e o pioneirismo não parava por aí. Em 1902, Belfort e sua equipe participaram da primeira partida oficial de futebol no Brasil, uma vitória por 2×1 contra o Germânia.

Em 1906, o atleta mudou-se para o Rio de Janeiro, e passou a atuar pelo America. Bastante influente e com traquejos políticos, ele influenciou na troca do uniforme da equipe, que usava camisas pretas, para o modelo utilizado até hoje, todo em vermelho.

Capitão do time, ele adotou práticas inexistentes na época, como hábito de saudar os torcedores antes do jogos. Durante esse período no “Diabo”, ficou marcada sua postura disciplinada, originando uma lenda de que ele teria avisado o árbitro sobre um pênalti que havia cometido. Ao que consta, jamais foi advertido em campo.

Campeão carioca em 1913, ele seguiria a carreira de jogador até 1915, quando passou a acumular as funções de técnico, tesoureiro e diretor. Como dirigente, abriu as portas do clube para atletas negros, quebrando a postura racista que dominava o mundo de futebol de então.

O time do América campeão em 1913 (Foto: Reprodução)
O time do América campeão em 1913. Belfort é o terceiro em pé, da esquerda para a direita (Foto: Reprodução)

Uma vida cheia de feitos, mas que seria encerrada prematuramente. Em 1918, quando se tratava por conta da Gripe Espanhola, foi assassinado dentro da própria casa, em um crime que permaneceu sem solução. Jornais da época apontavam que o homícidio havia sido causado por uma disputa de terras.

Sete anos depois, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) resolveu homenageá-lo com a criação do prêmio que levaria seu nome e seria entregue a jogadores com mais de 200 jogos na carreira sem nenhuma expulsão.

Boleiros famosos, como Didi, Telê, Vavá e Evaristo de Macedo foram vencedores do prêmio, que durou até 1981 em seu formato original. A distinção rendeu casos curiosos, como o do lateral Everaldo, que poucos meses após sua condecoração acabou suspenso dos gramados por um ano, por conta de um soco no árbitro.

Entre os jogadores, o troféu gerava pensamentos distintos. Enquanto alguns buscavam manter a linha de conduta irrepreensível, outros não levavam o famigerado “Fair Play” a sério. Entre eles, o defensor Moisés, do Corinthians, autor da seguinte frase: “zagueiro que se preze não ganha Belfort Duarte”.

Com outros moldes, a premiação seria retomada em 2008, quando a Rede Globo criou um sistema de pontuação baseado no número de infrações para saudar o jogador mais disciplinado do Brasileirão. No entanto, o novo formato teve breve duração, sendo encerrado no ano seguinte.

Considerando-se que atualmente o futebol é um jogo muito mais físico do que na época de Belfort, é compreensível que o valor do prêmio seja reduzido. Apesar disso, nada que manche sua importância como um dos personagens mais fascinantes do esporte no país.

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