O 10 de Maradona

O 10 de Maradona

A honra de Romagnoli em ser um dos prediletos do gênio. A glória de ser o grande ídolo de toda uma nação

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O futebol sempre me atraiu e me fascinou pelas pequenas coisas. Desde bem jovem, o interesse pelo maior esporte do mundo sempre foi grande. Em muitas das vezes, os programas infantis eram substituídos por partidas de futebol ou programas esportivos. As fontes de leitura eram, claro, os gibis, mas também faziam parte do conteúdo jornais e revistas.

A memória do ser humano é muita engraçada e nos prega diversas peças. As lembranças do nosso time do coração e da seleção brasileira se misturavam muito às comemorações observadas ainda bem jovem. Um pouco mais velho, você passa a entender melhor aquele jogo e acompanhá-lo mais de perto. Em 2001, aos nove anos, uma equipe fazia 4 a 1 no Corinthians e me despertava interesse gratuito.

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Pipo durante a disputa do Mundial sub-20 2001, na Argentina. Campeão e um dos destaques (Foto: Divulgação/clarin.com)

O jogo era válido pela extinta Copa Mercosul. As duas equipes buscavam o seu primeiro título internacional e o time argentino levou vantagem. Ainda pelo mesmo torneio, o San Lorenzo, do bairro de Boedo, batia o Flamengo e levava a quinta maior torcida argentina à loucura.

Aquela equipe estava guardada em minha mente. Os sentimentos dos matadores misturavam-se em um ano mágico. Após seis anos do último título nacional, conquistado em 1995, o time de La Gloriosa ganhava o Clausura e tinha ainda mais moral rumo ao seu primeiro título internacional.

Ainda que não tenha conquistado a Libertadores, o San Lorenzo se orgulha muito do biênio 2001/2002. Uma Copa Mercosul e uma Copa Sul Americana conquistadas de forma brilhante. Aquele ano era particularmente especial para o jovem e promissor Leandro Romagnoli. El diez tinha apenas 20 anos naquela temporada e já tinha o peso de ser a esperança de uma fanática torcida.

O fardo era enorme e o talento proporcional. Envergar a camisola de número 10, que fora de Maradona, também foi uma responsabilidade grande no mundial sub-20. A equipe galáctica da Argentina jogava em casa e vinha de duas conquistas em seis anos. José Pekerman comandava magistralmente aquela máquina que tinha entre suas principais engrenagens: Saviola (bola de ouro e artilheiro da competição), D’Alessandro, Coloccini, Cetto, Colotto e Maxi Rodriguez. A campanha arrasadora, com 100% de aproveitamento e melhor ataque, elevou ainda mais o patamar de Pipi Romagnoli- apelido em função da sua baixa estatura.

O jovem ganhava as páginas dos diários argentinos e internacionais. A veneração dos torcedores era comparável a outros ídolos do Ciclon, como Bernardo Romeo.

O agora tatuado, fã de cumbia e pai de duas meninas nem de perto lembra o baixinho meio-campista que estreava em 1998 com a camisa do San Lorenzo, ainda com 17 anos. A linhagem era boa (é filho de um ex-jogador do clube) e o físico continuava a lhe render comparações a muitos craques do futebol argentino.

Ser comparado a Maradona por jornalistas locais já era um grande mérito, mas nada comparável a receber muitos elogios do próprio ídolo. Em 2000, ao publicar sua biografia “Eu sou el Diego”, Romagnoli foi colocado por Dieguito como seu sucessor e o elegeu como 98° melhor jogador de todos os tempos. “O ‘rapazito’ fascina-me. Faltam-lhe pernas, físico, músculos, tudo, mas sobra-lhe coragem para fintar. O resto consegue-se num ginásio”, escrevia Maradona.

Aquilo era o limite. Nenhum elogio seria maior. Porém em 2002, sua grande atuação de gala aconteceu. Na final da estreante Copa Sul Americana, diante dos colombiano do Atlético Nacional, Romagnoli teve uma das melhores atuações de um jogador argentino em competições continentais.

A necessidade pela vitória fez o San Lorenzo se lançar ao ataque e aplicar 4×0 contra os únicos campeões colombianos da Libertadores à época. Vitória maiúscula. Uma das maiores da história do clube de Boedo.

O gol de Romagnoli, terceiro da goleada, foi digno de aplausos e muito parecido, guardadas as devidas proporções, aos de Maradona na Copa de 86 contra a Inglaterra.


Os olhos dos admiradores do futebol voltavam os olhos para aquele jovem franzino de drible fácil e ótimos passes. O típico camisa 10 que faz falta não só as equipes dos dias de hoje, mas ao futebol em geral.

A carreira de Romagnoli não decolou como se esperava. Algumas lesões o impediram de ir mais longe. Conhecemos bem essa história por aqui (Ganso). Passou por Veracruz e Sporting Lisboa sem muito sucesso. Na seleção Argentina, recebeu poucas chances. A decisão de voltar ao San Lorenzo foi mais do que acertado. Recentemente, foi do inferno aos céus em apenas um ano. Do quase descenso aos títulos nacional e da Libertadores.


O maior jogador da história do clube e o mais vencedor com cinco títulos. O quinto atleta com mais partidas com a camisa do San Lorenzo ficou na minha mente sempre marcado como sinônimo de talento. Aquele talento raro que leva ainda mais carnaval ao bairro de Boedo. O 10 que encantou um gênio. Pipi que encantou Maradona. Romagnoli que encanta até Jorge Bergoglio.

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Jornalista. Apaixonado por futebol, seja ele de onde for. Fanático também por futebol de base