São raros os times que disputam ligas de nações das quais não são originários. O Swansea City, por exemplo, é um das referências que se encaixam nessa descrição. Fundados em Gales, os “Swans” jogam na elite inglesa desde 2011. Mais raro ainda, porém, é ser bem-sucedido em dois países. É o caso do Derry City, da Irlanda do Norte.
Em outra oportunidade, vale lembrar, o Alambrado abordou o excepcional caso do Rapid Viena, ocorrido em 1941, dentro do contexto da anexação político-militar da Áustria pela Alemanha Nazista, quando os vieneneses foram campeões nacionais diante do Schalke 04. Cerrado esse breve parênteses, voltemos à história dos “Candystripes”.
Nascido em 1928 na segunda maior cidade da parte norte da ilha, quase na fronteira entre as duas Irlandas, o Derry City mandava seus jogos no Brandywell Stadium. Lá, conseguiu reunir adeptos locais e firmar-se paulatinamente, ganhando títulos das categorias inferiores nos primeiros anos até brigar por glórias de maior expressão.
A primeira delas veio na temporada de 1948-19, coroada com a vitória por 3 a 1 sobre o Glentoran na final da Copa da Irlanda do Norte. À referida façanha logo se somaram mais duas taças congêneres, em 1953–54 e 1963–64, todas curiosamente sobre o mesmo rival. No maior torneio do país, por outro lado, as chances ainda esbarravam na trave.
Na década de 1930, o Derry City acumulou cinco vice-campeonatos. Depois disso, seu melhor resultado nacional foi o terceiro lugar. Até o bendito ano de 1965. Das mãos do técnico Willie Ross, os Candystripes enfim atingiram o Olimpo, com 15 vitórias em 22 jogos, 62 gols feitos (melhor ataque) e 32 sofridos (segunda melhor defesa).
Porém, o atribulado cenário extracampo, marcado por conflitos históricos entre a maioria protestante e a minoria católica, logo resultou numa guerra civil. Basicamente, os problemas são de ordem étnica, política, social, econômica e religiosa. Enquanto aqueles desejavam preservar seus laços com a Grã-Bretanha, em resumo, estes buscavam a independência ou a integração com a Irlanda, de predominância católica.
Em 1968, a polícia reprimiu em Derry uma manifestação de católicos por mais direitos civis, que resultaria em confrontos armados por ambas as partes até 1998. Alguns jogos refletiam o antagonismo da época. Em 1970, houve confusão nas arquibancadas do Brandywell Stadium, em duelo de Derry City (católico) e Linfield F.C (protestante).
Como a casa dos Candystripes estava no centro de um território de instabilidade, a federação do país os impediu de atuar algumas vezes no local, por considerar a incapacidade de se efetuar o policiamento de forma adequada. O Linfield inclusive recusou-se a viajar para lá até 2005. Outros times o acompanharam no início.
Assim, o Derry City precisou atuar longe de seus domínios até a escalada de eventos fazê-lo considerar o ingresso na recém-reformulada liga irlandesa em 1985. Nos bastidores, havia conflitos, mas no final todas as entidades concordaram em fornecer permissão especial ao Derry para jogar no vizinho, mantendo sua sede em Brandywell.
Em 1989, sob o comando de Jim McLaughlin, o clube norte-irlandês afastou as turbulências e venceu o torneio nacional diante do Dundalk F.C., novamente com o melhor ataque (70 gols) e a segunda melhor defesa (24), façanha que se repetiria sobre o Bohemian em 1996-97, último ano de sua maior volta olímpica. Vice em 2005 e 2006, hoje o clube permanece na elite, sendo um campeão de resistência e superação.