Tentar interromper a trajetória de Lionel Messi no caminho para o gol é como tentar parar uma força da natureza. Hoje em dia muita gente sabe disso. Em 2007, alguns já desconfiavam. Afinal, o genial argentino já tinha dado algumas mostrar de seu talento, como no hat-trick marcado contra o Real Madrid algumas semanas antes, e no desempenho espetacular no Mundial Sub-20 de 2005.
Até então, Messi era um jovem extremamente habilidoso e promissor, que ainda gerava uma certa desconfiança por conta do físico frágil e das lesões. Mas há exatos 10 anos, no dia 18 de abril de 2007, o mundo do futebol inteiro foi obrigado a admitir que algo naquele garoto de 19 anos não era normal.
Foi ali, naquele duelo contra o Getafe, que Messi sedimentou de vez as comparações com Maradona, com um gol que muitos já viram dezenas de vezes e não parecem cansar de ver.
O placar já mostrava 1×0 para o Barcelona, graças ao tento de abertura anotado por Xavi, com uma bela assistência do argentino. Aos 28 minutos ele resolveu cortar o intermediário entre ele e o gol.
Quando Messi recebeu a bola no lado direito do campo de defesa barcelonista, ninguém imaginava que os próximos 12 segundos seriam históricos. O garoto baixinho e cabeludo dominou a bola e colocou entre as pernas do primeiro marcador. O segundo que quis tomar a melhor amiga de Lionel teve o mesmo destino.
O passeio continuaria em alta velocidade. Acelerando, Messi cortou mais dois defensores com apenas dois toques na bola. Faltava pouco. O goleiro, já desesperado, ficou no chão. E o pobre lateral direito que veio ao socorro dos colegas não conseguiu interromper o destino da bola para as redes.
Normalmente o lance é descrito assim. Messi é obviamente o protagonista, a magia transborda nos dribles, e os coitados que foram driblados…Bom, esses não costumam nem ter seu nome lembrado.
Pois bem, querendo ou não os marcadores desse valente time do Getafe, que acabaria revertendo o 5×2 sofrido nessa fatídica partida com um 4×0 na volta e se classificando para a final, também merecem alguma menção na história. Afinal, fazem parte dela. Confira quem são:
Javier Paredes
Lateral-esquerdo daquele time, Paredes provavelmente já sabia que teria algum trabalho durante aquele jogo, já que havia sido designado para marcar Messi individualmente. Como se vê, não deu muito certo. Paredes foi o primeiro driblado no lance, com um toque rápido entre as pernas. Ainda tentou segurar o adversário com o braço, mas já era tarde.
Aquela seria a última temporada do defensor pelo Getafe. No ano seguinte, ele se transferiu para o Zaragoza, onde foi titular da posição até 2014. Depois de um ano sem clube, foi para o Albacete, e hoje atua pelo Ebro, da quarta divisão.
Nacho Perez
Oriundo de uma família de jogadores, que contou ainda com seu pai e seu tio construindo carreiras sólidas no Málaga, Ignacio “Nacho” Perez era um dos jogadores polivalentes do Getafe, capaz de fazer todas as funções pelo lado esquerdo.
Ou melhor, quase todas. Marcar Messi aparentemente não era uma delas. Nacho foi a segunda vítima da Pulga no lance, ao tentar pegar o argentino desprevenido e falhar no bote. nacho não desistiu, seguiu tentando acompanhar o argentino até o final, e chegou a dar um carrinho já próximo à área, sem sucesso.
O ala foi fundamental no jogo de volta, que sacramentou a reviravolta do Getafe, participando efetivamente de dois gols na goleada por 4×0. Depois de sair do clube, teve passagens pela Real Sociedad e Málaga, até chegar ao Bétis em 2009. Ele se aposentou pelo time de Sevilha em 2014.
Alexis Ruano
Ao rever o lance e analisar a participação de Alexis, temos a impressão de que ele foi o mais esperto de todos os envolvidos. Afinal, é o único que não comete a “ousadia” de tentar interromper Messi, chegando ao ponto de travar no gramado e levantar os braços para garantir que o árbitro não marcasse falta.
Na época com 21 anos, o zagueiro era tratado como uma grande promessa pela imprensa madrilenha, que ventilava sua contratação pelo Real Madrid. Mas foi o Valencia quem acabou garantindo sua transferência, logo no fim daquela temporada. Alexis nunca se firmou como titular, mas chegou a disputar 75 jogos pelo clube.
Depois, passou pelo Sevilla e retornou ao Getafe, onde voltaria com a moral de antes. Foi um dos líderes do time entre os anos de 2012 e 2016, quando chegou ao Besiktas. Hoje está no Deportivo Alavés.
David Belenguer
Belenguer era um dos veteranos e destaques daquele time do Getafe. E pouco poderia fazer com Messi em alta velocidade, a não ser tentar um carrinho para finalizar a jogada ali, antes que ele entrasse na área. Nem isso adiantou.
A carreira do zagueiro teve início nas categorias de base do Real Madrid, mas foi no Bétis que ele começou a ter algum destaque, de 2000 a 2004. A tarja de capitão no Getafe mostrava o respeito que Belenguer havia conquistado no grupo.
Luis Garcia
O goleiro ainda teria alguma vantagem teórica na disputa individual contra o argentino, já que poderia fechar seu ângulo ou interromper a trajetória com as mãos. Mas quando Luis Garcia viu Messi à sua frente o destino já parecia selado. O baixinho ameaçou o chute e cortou pro lado e deixou o arqueiro no chão.
Luis Garcia era o goleiro reserva do Getafe, ficando no banco para o argentino Abbodanzieri durante os jogos do Campeonato Espanhol. Mas na Copa do Rei ele era o titular, e acabaria fazendo defesas importantes, apesar daquele 5×2 no Camp Nou. Se aposentou em 2014.
David Cortés
O único dos desafortunados citados que não chegou a ser driblado por Messi no lance. Mesmo assim, Cortés acabou no chão, tentando cortar a finalização do argentino com um carrinho e vendo a bola passar caprichosamente por cima ao entrar.
O lateral direito já estava acostumado com surpresas na Copa do Rei, já que havia conquistado o título pelo Mallorca em 2003. Depois de atuar no Getafe, ainda teve passagens por Hércules, Granada e Zaragoza.