Atualmente, os principais destinos de jogadores brasileiros são China, Emirados Árabes e Catar, motivados por milhões de reais. Mas há alguns anos atrás, o fluxo era Portugal. Antes das graves crises econômicas vividas no Velho Continente no final da década de 2000, o país luso contratava brasileiros às braçadas.
Para os tupiniquins, era a chance de ganhar um salário bem maior e ao mesmo tempo se apresentar ao principal mercado do futebol. Para os portugueses, era poder contar com a melhor escola de talentos do mundo, e ainda a certeza de obter um lucro inflacionado com a posterior venda milionária dos valorizados atletas a outros grandes centros.
Mas nem sempre.
A lista de casos de fracassos de jogadores brasileiros em Portugal é extensa. E quem se sobressai é o Benfica. Os Encarnados jamais negaram a política agressiva de contratação de jovens talentos aos montes. Do mundo todo, mas principalmente da América do Sul. A tática volta e meia dá certo – Mozer, Luisão, Léo, Ramires e David Luiz são reverenciados até hoje no Estádio da Luz. Por outro lado…
Paulo Nunes
O “Diabo Loiro” aprontou das suas no Rio Grande do Sul, mais especificamente no Grêmio. Atacante raçudo e goleador, se adequava às exigências de Luiz Felipe Scolari, ajudando o time a ganhar de tudo: Brasileirão, Copa Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Gaúcho. Formava uma dupla de ataque dos sonhos ao lado de Jardel. O sucesso o levou ao Benfica em 1997, com status de grande contratação.
Enquanto Jardel brilhava no Porto, Paulo Nunes sofria no Benfica. Estreou marcando seus únicos dois gols pelos encarnados. Jogou apenas mais quatro jogos. Se ausentava com frequência por conta de repetidas lesões e casos de indisciplina.
No ano seguinte, o brasileiro se despedia de Lisboa e desembarcava no Palestra Itália para reencontrar Felipão. Com a parceria refeita, o sucesso reapareceu – o folclórico atacante formou a base do time campeão da Libertadores de 99 e se tornou ídolo do Palmeiras, especialmente devido às suas provocações aos rivais dentro e fora de campo.
Roger Flores
Uma das maiores incógnitas do futebol brasileiro, Roger era uma grande promessa no fim da década de 90. Mostrou, no Fluminense, um futebol diferenciado, de muita técnica, que lembrava meias consagrados da época, como Marcelinho Carioca, Djalminha, Alex, Ricardinho, os Juninhos e outros. Ao mesmo tempo, uma falta de interesse e compromisso digna de Adriano, Pato, Ganso, Balotelli, El Shaarawy e muitos outros nomes do futebol atual juntos.
Sua ida ao Benfica em 2000 foi cercada de expectativas. Iria Roger aproveitar todo o potencial que tinha? Longe disso. O meia deu seus lampejos aqui e acolá, como no gol abaixo, mas não passou disso. Fazia muitos jogos sonolentos, nos quais mal pegava na bola. Era visitante frequente do departamento médico. Roger sendo Roger, como em qualquer outra passagem dele por clubes de futebol, à exceção, talvez, do Flu. Saiu dos Encarnados sem deixar saudades em 2005, quando seu contrato se encerrou.
Diego Souza
Um dos jogadores mais rodados dos últimos tempos, Diego Souza não deixou de passar pela máquina de flops benfiquista. Depois de se destacar no Fluminense, o meia recebeu sua primeira chance na Europa em 2005, então com 20 anos. Aliava velocidade, força e um chute forte com boa técnica. Tinha tudo para ser o novo Júlio Baptista.
Mas se nem mesmo sua inspiração havia se consolidado totalmente no cenário europeu, Diego Souza é que não iria. Não recebeu muitas chances nas Águias. Foi contratado por Luís Filipe Vieira, presidente do clube, sem o aval do então diretor José Veiga. Aparentemente, também sem a aprovação da comissão técnica, que não o aproveitou. Defendeu a camisa vermelha apenas em amistosos.
Atuou bem nos empréstimos a Flamengo e Grêmio, antes de ser comprado pelo Palmeiras em 2008. Anos mais tarde, também não conseguiu ser muito produtivo no Metalist, da Ucrânia. Mas teve bom desempenho no Alviverde, assim como no Atlético Mineiro, no Vasco, no Cruzeiro, e, atualmente, no Sport. Seu problema parece mesmo ser com a Europa.
André Luis
Zagueiro-zagueiro, André Luis foi revelado no Santos em 2000, fazendo parte da geração liderada por Robinho que conquistaria o Brasileirão de 2002, pondo fim a uma fila de 18 anos sem títulos importantes. Venceu outro Brasileiro em 2004 antes de ser vendido ao Benfica, em 2005.
Sua passagem por Portugal se resumiu a duas partidas. Logo foi emprestado ao Olympique de Marselha. O nome André Luís provavelmente provoca calafrios nos torcedores da equipe francesa. Aliava pouca técnica a um temperamento explosivo, além de ter falhado em alguns lances da temporada. No Benfica, inclusive, mesmo com tão pouco tempo de jogo.
Foi o suficiente para os dirigentes portugueses optarem por se desfazer do jogador. Em 2006, André Luis foi comprado pelo Cruzeiro. Em Minas, também não brilhou. Seu estilo agressivo, típico dos anos 90, estava defasado e prejudicava suas exibições. Só conseguiu algum destaque novamente em 2008, pelo Botafogo, onde protagonizou episódios inesquecíveis, como este abaixo:
Marcel
O centroavante conseguiu cumprir simplesmente cinco anos de contrato com o Benfica. No período, entrou em campo em apenas nove oportunidades, sem balançar as redes em nenhuma delas.
Entre 2000 e 2003, teve um bom desempenho no Coritiba, onde surgiu para o mundo da bola, antes de se mudar para o Suwon, da Coreia do Sul. Só chamou a atenção das Águias em 2005, quando se destacou atuando pelo Acadêmica. No gigante de Lisboa, contudo, o centroavante jamais se firmou. Ao longo do vínculo, foi emprestado para nada menos que seis clubes diferentes, entre eles Grêmio e Santos, pelos quais acumulou maior número de jogos.
Edcarlos
Como muitos desta lista, Edcarlos teve um início promissor no profissional. Revelado pelo São Paulo em 2003, chegou a atuar pela Seleção sub-20. Estreou aos 18 anos, sendo à época um dos mais jovens a defender o clube em partidas oficiais. Em meio à vitoriosa equipe tricolor da década de 2000, alternou fases entre o banco e o time titular, devido à forte concorrência no setor defensivo.
Ao longo de quatro anos, fez 67 partidas. Mesmo com bom desempenho na final do Mundial de 2005, diante do Liverpool, estava longe de se firmar e chegou a ser ofuscado por Breno, outra promessa do São Paulo, que estreava com apenas 17 anos após a Copa São Paulo de 2007.
Já aos 22, foi negociado junto ao Benfica. Atuou por uma temporada no clube, figurando entre os reservas e fazendo jogos abaixo da média. Acabou emprestado ao Fluminense, onde também não brilhou. Rodou por diversos clubes antes de chegar ao Atlético Mineiro em 2014, quando finalmente conseguiu alguma sequência de jogos.
Fellipe Bastos
Atualmente enfrentando críticas de torcedores gremistas, Fellipe Bastos já foi um dia uma grande promessa do futebol brasileiro. Formado no Botafogo, o volante nem mesmo havia estreado no profissional quando, aos 17 anos, assinou pelo PSV. No ano seguinte, foi contratado pelo Benfica.
Acabou sendo revelado pelo próprio clube lisboeta. E esta talvez tenha sido sua única história pelas Águias, já que atuou somente em quatro jogos, marcando um gol. Em 2009 e 2010, foi emprestado a Belenenses e Servette-SUI para ganhar experiência, mas também jogou pouco. Os portugueses nem dificultaram a saída do ainda jovem meio-campista para o Vasco, em 2010. Só veio ganhar algum reconhecimento em 2013, emprestado à Ponte Preta, quando ajudou a equipe na campanha rumo ao vice daquela Sul-americana.
Patric
De volta ao Atlético Mineiro nesta temporada após bom desempenho em um empréstimo ao Sport, o lateral direito chegou a disputar o Mundial Sub-20 de 2009, enquanto defendia o São Caetano. Atleta de potencial, nem mesmo chegou a passar por grandes clubes brasileiros e foi direto para o Estádio da Luz no mesmo ano.
Sem condições de estar no time principal, foi emprestado ao Cruzeiro na sequência. Pouco jogou pelo time mineiro, e, seis meses depois, foi emprestado ao Avaí. No time catarinense, conseguiu regularidade, mas acabou sendo negociado ao Galo no fim do ano. Deixou o Benfica sem disputar nenhuma partida oficial.
Felipe Menezes
Outra prova de que softwares de scout não são infalíveis. Revelado pelo Goiás, em 2007, então com 19 anos, Felipe Menezes mostrou potencial no início, especialmente durante a Copa São Paulo daquele ano. Sua inexperiência, contudo, levou o Esmeraldino a emprestar o meia ao Paulista em 2009, para a disputa do Paulistão. O que os dirigentes goianos não esperavam é que Felipe voltasse no término do Estadual com uma proposta do Benfica embaixo do braço.
Com a cara e com a coragem, Felipe Menezes chegou a Portugal desconhecido até mesmo dos brasileiros. Surpreendentemente, o desempenho não foi de todo modo ruim no começo. Ao longo de sua passagem de quatro anos por Portugal, acumulou 37 jogos e 12 gols. Mas a comissão técnica não o considerou suficientemente preparado para estar no time principal e passou a emprestá-lo, como faz com inúmeros outros atletas.
Foi aí que Felipe desandou. Jogou abaixo da média no Botafogo e no Sport. Seu retorno ao Benfica ficou para nunca mais. Mesmo assim, acabou contratado pelo Palmeiras em 2013, como um dos diversos reforços baratos para a disputa da Série B. Foi um dos atletas mais regulares da campanha do acesso, mas sofria com as críticas da torcida, que acusava o atleta de sumir na maioria dos jogos. As críticas se intensificaram em 2014, quando o Verdão quase caiu de novo. Para 2015, retornou ao Goiás.
Keirrison
Roger Flores pode ter sido uma das grandes incógnitas do futebol brasileiro, mas nada se aproxima de Keirrison. Para qualquer torcedor que acompanhava o esporte em 2008 e 2009, o “K9” seria um ídolo nacional no futuro. Disputaria Copas do Mundo, se não em 2010, ao menos a partir de 2014. Inexplicavelmente, após chegar à Europa, passou a mostrar um futebol digno de peladas de fim de semana.
Revelação do Brasileirão de 2008 pelo Coritiba, foi muito bem na sua primeira chance em um grande clube. Goleador do Palmeiras no primeiro semestre de 2009, então com 20 anos, tinha um faro de gol invejável. Não a toa, foi contratado pelo Barcelona. Pep Guardiola, contudo, julgou o rapaz muito cru, e autorizou seu empréstimo ao Benfica.
Apresentado com pompa pelas Águias, Keirrison parece ter sido “amaldiçoado” em Lisboa. Aparentemente, a única explicação possível para seu desempenho extremamente ruim. K9 era uma das últimas opções para o ataque. Fez apenas sete jogos oficiais, não marcou gols e seis meses depois foi devolvido ao Barça. Jamais jogou com o uniforme blaugrana, acumulando empréstimos (desastrosos) a Fiorentina, Santos e Cruzeiro. Culpa do Benfica?
Éder Luis
Revelado no Atlético Mineiro em 2005, o atacante chegou a ser comparado com o folclórico Euller, o “Filho do Vento”, devido à sua velocidade. Um de seus apelidos era “Neto do Vento”, em referência ao veterano, também mineiro e destaque no Galo. Em época de vacas magras para os alvinegros, Éder Luis parecia ser um poço de água no deserto.
Seu bom desempenho no Atlético o credenciou a um empréstimo ao São Paulo em 2008. Mas fez muito pouco no tricolor paulista. Contestado, foi devolvido ao Galo ao final da temporada. Voltou a render em Minas, e foi negociado ao Benfica em 2010. A experiência só durou seis meses. Depois de dez jogos, um gol e muitas críticas, acabou vendido ao Vasco, onde viveu nova boa fase. Atualmente, se destaca no futebol dos Emirados Árabes.
Alan Kardec
Recentemente disputado a tapa por Palmeiras e São Paulo, Alan Kardec nem sempre contou com tamanho prestígio. Revelação das categorias de base do Vasco, o centroavante de estilo clássico também se destacou pelas seleções de base do Brasil antes de ser emprestado ao Internacional, no final de 2009. Na época, o cruz-maltino disputava a Série B, e o Colorado, a Série A.
Pouco jogou no Rio Grande do Sul, mas mesmo assim virou uma das milhares de apostas de Jorge Jesus, atual técnico do Benfica. Foi comprado pelo time de Lisboa em 2010. Jogou com alguma frequência no início, mas criou certa rejeição com a torcida, principalmente devido à escassez de gols. Chegou a perambular pelo time B antes de ser emprestado ao Santos. Na Vila, teve passagem sem muito brilho. Só foi se consolidar no empréstimo seguinte, já ao Palmeiras.
Bruno Cortês
Ele chegou a ser apontado como o futuro dono da lateral-esquerda canarinho em 2011 por parte da eufórica imprensa brasileira. Convocado para amistosos, Bruno Cortês acumulou boas exibições no Botafogo, primeiro grande clube de sua carreira. Se destacava no apoio, com cruzamentos e trocas de passes eficientes pelas pontas. O prestígio o levou ao São Paulo, já em 2012.
No tricolor, chegou como um dos principais reforços da temporada. Foi titular na maior parte do ano, mas não por exibições sólidas, e sim por falta de opção. Sofria com fortes críticas da torcida e até da própria imprensa que o elogiou no início. Defensivamente, Bruno era um terror. Levava bolas nas costas aos montes por suas constantes subidas ao ataque, tinha pouca noção de posicionamento e não conseguia um desarme sequer.
Mas o plot twist da história viria em 2013: apesar da sofrível temporada anterior, Cortês conseguiu um inexplicável empréstimo ao Benfica. Obviamente, não deu certo. Foram apenas seis jogos, ainda piores que aqueles pelo São Paulo. Meses depois, foi devolvido. Hoje, está emprestado ao futebol japonês. Mistérios que cercam os laterais tricolores. Douglas que o diga…