Um gênio na décima divisão inglesa: A passagem de Sócrates pelo Garforth...

Um gênio na décima divisão inglesa: A passagem de Sócrates pelo Garforth Town

Relembre o retorno/despedida oficial do Doutor nos gramados

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Sócrates com a camisa do Garforth (Foto: Reprodução)
Sócrates com a camisa do Garforth (Foto: Reprodução)

Sócrates sempre foi um representante da rebeldia, do inconformismo e de um pensamento fora da curva. Nascido há exatos 64 anos, o Doutor ficou conhecido por posturas pouco ortodoxas, que fugiam do padrão encontrado nos jogadores de futebol até mesmo nos dias de hoje. E sua última passagem no mundo do futebol, pouco lembrada, é um exemplo claro disso.

Em 2004, o ídolo do Corinthians e antigo capitão da Seleção Brasileira já havia pendurado as chuteiras há tempos. Para ser mais exato, a última partida de Sócrates como profissional havia acontecido em 1989, pelo seu clube de formação, o Botafogo de Ribeirão Preto.

Existem diversos casos de jogadores que se aposentam e, pouco tempo depois, resolvem matar a saudade dos gramados. Geralmente atletas que primam pelos cuidados na parte física, e que mesmo em idade avançada conseguem manter um certo ritmo de treinos para acompanhar os mais jovens.

Certamente não era esse o caso de Sócrates. O cérebro por trás da Democracia Corintiana nunca foi um exemplo de colosso físico nem mesmo na época em que jogava, quanto mais em 2004, quando já contava 50 carnavais. Dificilmente seria uma escolha apropriada em um bolão sobre ex-atletas que pudessem retornar às atividades.

Mas o pedido inesperado aconteceu, e de um lugar mais inesperado ainda. Simon Clifford, um inglês apaixonado pelo futebol brasileiro e pelo já famoso engajamento do Doutor, resolveu convidá-lo para jogar pelo clube do qual era dono à época, o Garforth Town. O plano era atrair atenção para o time e fazê-lo crescer para alcançar a primeira divisão inglesa em… 2028.

Sim, o objetivo a longuíssimo prazo era fazer o Garforth subir nada menos que dez divisões. Sócrates claramente seria apenas um foco de atenção, e o que viesse a partir de então seria lucro. O cerebral meio-campista não tinha muito a ganhar além de passagens gratuitas para o gelado norte da Inglaterra. E mesmo assim topou o “desafio”.

Foi assim que em uma noite fria de novembro, um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro foi ao gramado do minúsculo Wheatley Park em Garforth, onde 3 mil fãs encantados esperavam sua estreia. O adversário era o igualmente Tadcaster Albion, mas pouco parecia importar

O momento tão esperado aconteceu aos 35 minutos do segundo tempo. Com o placar empatado em 2×2, Sócrates foi chamado pelo técnico e a torcida foi ao delírio. Logo que pisou no campo, ouviram-se os gritos de “passem a bola para Sócrates!”.

E o pedido foi atendido rapidamente: Poucos minutos depois de sua entrada, o Doutor recebeu uma bola na intermediária e chutou para o gol. O chute saiu desajeitado, como não poderia ser diferente ao se tratar de alguém que não jogava havia 15 anos. Foi a única participação de Sócrates no jogo. Ao fim da partida, perguntado como havia sido o retorno aos gramados, ele declarou ter sentido uma dor de cabeça insuportável ao entrar em campo.

Já bastava para os fãs do Garforth. O simples fato de ter uma estrela do futebol mundial vestindo as cores de sua equipe (ironicamente, trajes azuis e amarelos) já representava um feito para se gabar em mesas de bar. Sete anos depois, no velório de Sócrates, o dono do time deu uma declaração sobre aqueles dias que dão uma mostra do que foram aqueles dias.

“Decidimos que seria melhor não colocar Sócrates em outro jogo porque seu treino de aquecimento consistia em beber duas garrafas de cerveja e fumar três cigarros no vestiário”. Quem pode duvidar?

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio