Pelo legado de uma geração

Pelo legado de uma geração

Seleção da Argentina busca título para encerrar jejum e fazer história

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Vice na Copa, Seleção Argentina segue tentando quebrar jejum (Foto: Reprodução/AFA)
Vice na última Copa, alviceleste disputará três campeonatos antes do término do atual ciclo (Foto: Reprodução/AFA)

No futebol, podemos cravar sem medo: infestam a cabeça de todo torcedor memórias sobre grandes equipes que, às vezes por uma bola na trave, às vezes por uma falha de arbitragem, carregam para a eternidade a inglória fama de não ter conquistado um título sequer.

Com relativa frequência, também surgem no pensamento dos fãs lembranças de talentosos jogadores que, por um pênalti inexplicavelmente mal batido, ficaram longe da consagração definitiva e caminharam à margem do Olimpo do esporte bretão.

Essa frustração é, de certo modo, geral. Tomemos o exemplo da Holanda, país que convive com a injusta sina de jamais ter vencido uma Copa do Mundo (acumula três vice-campeonatos), ou o do Brasil, que lamenta até hoje a Tragédia do Sarriá, na Espanha, em 1982, considerada por muitos como a morte do jogo bonito.

Na atualidade, é a Argentina que atravessa um incômodo jejum de taças, mesmo tendo sido berço de diversas estrelas. No entanto, com uma significativa diferença se comparada às referências citadas: o time alviceleste ainda pode alterar os rumos de sua história.

Para ser mais preciso, o escrete sul-americano possui três chances de livrar-se do fardo do “quase” e brilhar. Após o segundo lugar no Mundial de 2014 diante da Alemanha, a equipe agora comandada pelo técnico Gerardo Martino terá pela frente os desafios da Copa América, no Chile, em 2015, da edição de Centenário da Copa América, nos Estados Unidos, em 2016, e da Copa do Mundo, na Rússia, em 2018.

É importante lembrar que os argentinos subiram ao topo do pódio pela última vez com a seleção principal em 1993, na Copa América sediada no Equador. Desde então, diversos nomes de peso foram estampados na camisetas azuis e brancas e retirados delas sem nenhuma conquista, como os de Javier Zanetti, Ariel Ortega, Juan Sebastian Verón, Hernán Crespo e Juan Román Riquelme.

Último título da seleção principal da Argentina foi na Copa América de 1993 (Foto: Reprodução /  AFA)
Último título da seleção principal da Argentina foi o da Copa América de 1993 (Foto: Reprodução / AFA)

Seria desmerecido, a meu ver, se Lionel Messi, Ángel Di María, Javier Mascherano, Carlos Tévez, Sergio Agüero e Gonzalo Higuaín, destaques em seus respectivos clubes na Europa, por exemplo, sofressem com um destino semelhante ao de seus compatriotas.

A última oportunidade para a atual safra ganhar uma competição antes do fim de seu ciclo será em território russo, pois até o pontapé inicial em 2018 eles terão rompido a barreira dos 30 anos, excetuando-se Tévez (31) e Mascherano (30), que já atingiram essa idade.

Não é minha intenção – ressalto – afirmar que todos os jogadores citados não tiveram valor com a camisa da Argentina. Afinal, os atletas do presente grupo, juntos, têm dois ouros olímpicos (Atenas- 2004 e Pequim- 2008) e dois mundiais sub-20 (Holanda- 2005 e Canadá-2007), além do vice-campeonato após 24 anos de ausência em finais de Copas.

Em caso de título no Chile, o selecionado receberá, digamos, um brinde, porque o vencedor das Américas garantirá participação na Copa das Confederações de 2017, na Rússia, embora a vaga no torneio seja apenas uma coroação de menor importância.

Agora, espero que o futuro não reserve à Argentina o caminho de amarguras que destinou a grandes esquadrões e jogadores. Para reforçar, realmente não penso que finalizar um ciclo sem títulos minimize a importância de alguém ou de alguma equipe.

Há pelo menos um consenso neste debate: o maior lamento para o esporte é o insuportável peso da injustiça histórica, a qual, muitas vezes, não pode ser reparada.

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.