Os seis desafios do Corinthians rumo ao sexto título

Os seis desafios do Corinthians rumo ao sexto título

Perto do hexa, Corinthians mostra história de reconstrução frente aos obstáculos na temporada

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Vitória contra o Coritiba deixou o Corinthians mais perto do hexa (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)
Vitória contra o Coritiba deixou o Corinthians mais perto do hexa (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)

Quando um time está prestes a ser campeão, o clima de euforia costuma tomar conta de torcedores, dirigentes, comissão técnica e até mesmo dos profissionais de imprensa. Uma chuva de elogios recai sobre os ombros dos iminentes vencedores, aplausos justos, em sua maioria, mas que às vezes encobrem uma realidade um pouco diferente em um passado não tão distante.

O Corinthians de Tite, com as duas mãos na taça e esperando apenas a confirmação do título para levantá-la e oficializar a festa, é um exemplo claro de reconstrução em meio às dificuldades. Se agora a vantagem de 11 pontos na liderança mostra uma superioridade indiscutível frente aos rivais, nem sempre foi assim.

A equipe enfrentou pelo menos seis grandes desafios durante a temporada para chegar no patamar em que se encontra agora, e parece ter superado todos, o que só valoriza a provável conquista do hexa. Confira:

*O “corte na carne”

O Corinthians começou o ano com tudo, apresentando um bom futebol tanto na Libertadores quanto no Campeonato Paulista, o que acabou rendendo exageradas comparações com os gigantes da Europa e criando uma sensação de que a equipe ganharia de quem viesse pela frente

No entanto, apesar das grandes campanhas na primeira fase de ambos os torneios, o time sucumbiu no mata-mata, com derrotas traumáticas para o arquirrival Palmeiras e o surpreendente Guarani-PAR, ambas em Itaquera.

Na Copa do Brasil, o time foi derrotado por mais um rival, dessa vez para o Santos, o que gerou insatisfação de boa parte da torcida, que dizia que “o Brasileiro já virou obrigação”. Paciente, Tite justificou que essas derrotas serviam para “cortar a carne” dos atletas, fazendo-os entender a diferença dos jogos decisivos. o grupo parece ter entendido o recado.

 

*O desmanche

Guerrero foi um dos atletas que deixaram o clube após a eliminação na Libertadores (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)
Guerrero foi um dos atletas que deixaram o clube após a eliminação na Libertadores (Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians/Divulgação)

Depois da eliminação na Libertadores, o Corinthians ficou sem chão. A cada dia surgiam informações novas sobre jogadores importantes que podiam deixar o elenco, e um dos maiores medos da torcida acabou se confirmando.

Paolo Guerrero anunciou sua saída rumo ao Flamengo, depois de meses da novela envolvendo sua renovação de contrato. Emerson Sheik também deixava o clube e ia para a Gávea. Fábio Santos, um dos líderes dentro de campo, partia para o Cruz Azul-MEX. O volante Petros, frequentemente utilizado, anunciava sua ida para o Bétis.

Em uma só tacada, o grupo ganhava quatro desfalques importantes, o que gerou instabilidade até para quem ficava. Rumores envolvendo Gil, Elias, Jádson e Renato Augusto eram frequentes, o que poderia ser considerado um verdadeiro desmanche. Mas as portas se fecharam, e a equipe conseguiu se reconstruir com os atletas disponíveis e algumas contratações pontuais, como a de Lucca, heroi nas últimas rodadas.

*Os salários atrasados

É de conhecimento popular que os salários de jogadores de grandes clubes fogem bastante da realidade do restante dos trabalhadores da sociedade. Mesmo assim, ninguém gosta (e nem deve gostar) de ter seus pagamentos atrasados.

O Corinthians chegou a dever 10 meses de direitos de imagem a alguns de seus jogadores, atraso decorrente de investimentos que não deram certo nas administrações anteriores e na utilização da renda de bilheteria para sanar as contas da Arena.

No entanto, em nenhum momento o desempenho do time foi afetado pela ausência de pagamento desses valores. Mérito total para os esforços da comissão técnica e dos atletas, que conseguiram manter o foco e confiaram que a diretoria iria cumprir com o combinado. Dito e feito.

*As retrancas

Quando Tite saiu do Corinthians, em 2013, a equipe terminou o Brasileiro com a melhor defesa, sofrendo apenas 22 gols. Mas a produção ofensiva do time deixava muito a desejar, com apenas 27 gols marcados no campeonato, o segundo pior ataque do campeonato atrás apenas do lanterna Náutico.

Em seu ano sabático, o técnico buscou soluções para aumentar o equilíbrio entre os setores da equipe, pois sabia que uma defesa sólida não seria suficiente para ganhar os jogos.

A iniciativa do treinador deu resultados claros. Se antes Tite era marcado pelo pragmatismo e concentração, o ataque implacável passou a fazer parte de seu esquema para montar um time vencedor. O Corinthians se mostra um time cirúrgico, com um alto nível de aproveitamento das chances que cria, sem se privar do ataque mesmo quando já tem um placar favorável.

*”Cadê a molecada da base”?

Malcom e Arana reeditam no time principal a parceira da base (Foto: Daniel Augusto.Jr/Agência Corinthians/Divulgação)
Malcom e Arana reeditam no time principal a parceria da base (Foto: Daniel Augusto.Jr/Agência Corinthians/Divulgação)

O questionamento era feito com frequência, e não sem uma dose de razão. Nos últimos anos o Corinthians conseguiu montar bons times sem grande representação de suas categorias de base, que vem conquistando títulos há muito tempo.

Qual seria o problema? Estilo dos treinadores, falta de qualidade dos atletas, falhas na transição para o profissional, deslumbramento… Várias causas eram apontadas enquanto o “Timãozinho” ganhava taças e não emplacava quase ninguém no time principal.

No entanto, até pela necessidade provocada pela crise financeira, Tite lançou mão de um bom número de pratas da casa do Corinthians. Malcom, que já havia conquistado seu lugar no ano passado com Mano Menezes, ganhou a companhia de seu amigo de infância Guilherme Arana na esquerda.

Além deles, o time contou com o reforço de outras revelações puramente corintianas, como Yago e Marciel, que deram conta do recado com boas atuações em jogos importantes, além de Fágner, que voltou ao clube em 2014 depois de passagem pelo Vasco.

*A mancha no título

O torcedor corintiano pode torcer o nariz, mas uma coisa precisa ser lembrada: de fato, as polêmicas envolvendo a arbitragem, principalmente nas três últimas rodadas do primeiro turno (quando o time sedimentou a ultrapassagem sobre o Atlético-MG) acabaram marcando o torneio negativamente.

Alguns erros bizarros de arbitragem que na ocasião beneficiaram o time do Parque São Jorge, e que renderam comentários de que o campeonato estaria manchado. O Corinthians só tinha uma alternativa para passar por cima dessa tese: continuar jogando e fazer o máximo pra mostrar que, com ou sem ajuda, o time faria por merecer uma eventual conquista.

A verdade é que com a campanha avassaladora no segundo turno (até aqui, 36 pontos de 45 possíveis) fica difícil não reconhecer a superioridade do clube alvinegro campeonato, ainda mais depois das duas vitórias no confronto direto com o valente time do Galo. Se em algum momento houve essa mancha, o Corinthians tratou de limpá-la com um desempenho quase irrepreensível, digno de um time prestes a comemorar o hexa.

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