A volta dos faraós

A volta dos faraós

Como a sensação da Fiorentina Mohamed Salah pode ajudar no ressurgimento da seleção do Egito

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O Egito não se notabilizou e ficou mundialmente conhecido pelo futebol. Um dos países mais notáveis do mundo, a nação do norte africano foi uma das primeiras potências mundiais da nossa história antiga. Geralmente, quando o seu nome é citado, logo vem a nossa mente as deslumbrantes pirâmides construídas há mais de três mil anos.

Se Gizé e Quéops foram, e ainda são, protagonistas históricas, o mesmo não se pode dizer do atual momento do futebol nacional. Ocupando as manchetes esportivas apenas pela violência das torcidas e brigas extracampo, a principal potência africana durante décadas não apresenta resultados positivos nos últimos anos. Os “faraós” parecem fadados, apenas, a glorificar um passado (recente) vitorioso.

A força da seleção saariana parece ter acabado com a aposentadoria de Aboutrika, Hassan e Cia. Apesar de uma safra interessante de jogadores, a “liga” existente nas equipes vencedoras parece não mais se repetir. Dominante no continente- comprovado pelo hexacampeonato da Copa Africana das Nações-, os ”faraós” parecem perder o poder dos deuses Hórus e Isis quando a competição passa ser Copa do Mundo.

Presente apenas em dois mundiais- sendo um deles em 1934-, o Egito não disputa uma Copa desde 1990, quando com uma ótima seleção caiu ainda na primeira fase. O país não conseguiu capitalizar a ótima geração da década passada, tricampeã da CAN e obter classificação para as respectivas Copas. A mais doída e emblemática ocorreu nas eliminatórias para o mundial de 2010: derrota no jogo desempate contra a arquirrival Argélia, em uma batalha no Sudão.

Futuro nebuloso

Com os recentes episódios envolvendo mortes de torcedores e a própria crise política que acomete o país desde 2011, o campeonato local vem enfraquecendo e as críticas quanto ao nível dos jogadores da atual seleção vêm aumentando.

Brinca-se, no país, que após a bonança da “geração dourada”, os egípcios já se acostumaram com a tempestade das profecias. O medo quanto à decadência do futebol nacional e o surgimento da “pior geração” já produzida é comentada pelos principais meios esportivos do Egito- agravada ainda mais após a aposentadoria do grande ídolo nacional Aboutrika.

Em meio à crise de identidade futebolística e o pessimismo contagiado por toda a nação, um jogador surge debaixo dos escombros e parece ser a esperança de um futuro melhor para os “faraós”.

A pirâmide faraônica

Uma esperança metade violeta e metade vermelha vem chamando a atenção da Europa no último mês. Após uma transferência muito comentada, em que foi trocado pelo colombiano Cuadrado, Mohamed Salah parece ter encontrado, após uma temporada sem brilho no Chelsea, a sua plenitude futebolística na Fiorentina.

Em Firenze, o atacante está em estado de graça. Melhor jogador do segundo turno da Série A, ele acumula números impressionantes: em oito jogos, foram seis gols e duas assistências. Sendo, inclusive, um tento marcado contra a Juventus fora de casa. Um golaço, na verdade.

Salah é a nova coqueluche do futebol italiano. Ele encanta e aterroriza a todos. Desde a sua chegada ao Artemio Franchi, a Fiorentina acumula quatro vitórias, três empates e apenas uma derrota. Números impressionantes e que fazem o torcedor da “Viola” sonhar. Uma vaga na Champions passou a ser possível.

Salah é a nova sensação do futebol italiano e da Fiorentina (Foto: Reprodução  /footballtarget.com)
Salah é a nova sensação do futebol italiano e da Fiorentina (Foto: Reprodução
/footballtarget.com)

O ressurgimento da Fiorentina e a adaptação de Salah impressiona o mundo. Para o jornalista da La Gazzetta Dello Sport, Luca Calamai, “essa foi a troca mais brilhante dos últimos tempos”. Brilhante, claro para a Fiorentina.
Até mesmo as comparações com Lionel Messi retornaram. Ainda no Basel, onde foi escolhido o melhor jogador da temporada 2012-2013 do campeonato suíço, e também durante o mundial sub-20 2011, Salah foi muito comparado ao argentino.

Devido ao físico franzino, às características de jogo e ao mágico pé esquerdo, as comparações foram inevitáveis e, após um período difícil no Chelsea, elas retornaram, até de certo ponto, de forma bem justa.

Salah é a principal esperança egípcia e já tem números positivos com a camisa do país (Foto: Reprodução/relvado.sapo.pt)
Salah é a principal esperança egípcia e já tem números positivos com a camisa do país (Foto: Reprodução/relvado.sapo.pt)

Se na Fiorentina os números são positivos, na seleção nacional eles não deixam a desejar. São 20 gols em 35 partidas. Além de ótimo desempenho nas seleções de base. Pra a jovem joia, resta conseguir pôr fim ao tabu egípcio sem disputar Copas do Mundo e alguns títulos da CAN para conquistar o país de vez, assim como fizeram Hassan, Zaki e Aboutrika.

O primeiro passo foi dado. A Europa está sendo colonizada. Falta agora um terreno todo cheio de pedregulhos. O novo “faraó” está pronto para por o Egito novamente no mapa do futebol. Talento não falta. E ele sabe disso.

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Jornalista. Apaixonado por futebol, seja ele de onde for. Fanático também por futebol de base