O pioneirismo de Raoul Diagne, ícone na França e em Senegal

O pioneirismo de Raoul Diagne, ícone na França e em Senegal

Jogador foi o primeiro negro a defender a França e também o primeiro técnico da história de Senegal

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Diagne abriu espaço para jogadores negros na França (Foto: Reprodução)
Diagne abriu espaço para jogadores negros na França (Foto: Reprodução)

Hoje em dia é muito comum observar na seleção francesa a presença de jogadores negros, que, às vezes, também são maravilhosos. Na final da última Eurocopa, por exemplo, havia sete atletas de origem africana na formação inicial dos donos da casa – a maioria, portanto. Evidentemente, esse cenário nem sempre foi assim.

O nome Raoul Diagne pode não lhe dizer nada, mas foi ele o precursor dessa mudança no selecionado nacional em questão. Nascido em 1910, na Guiana Francesa, onde sua família vivia durante missão diplomática, Raoul era filho de Blaise Diagne, um importante político senegalês que se tornou o primeiro deputado negro a ser eleito na França.

Quando Raoul tinha 18 meses de vida, seus pais se mudaram para Paris, onde o jovem teve acesso a prestigiados centros educativos para seguir os caminhos do seu progenitor, mas preferiu trocar os livros pela bola, a despeito da pressão familiar, e assinou com o Racing Club em 1926. Subiria para o time profissional quatro anos depois.

Naquela época em que o futebol estava caminhando para o profissionalismo no país, o Racing montou uma equipe relativamente forte, na qual Diagne, então com 20 anos, destacou-se em virtude de suas habilidades defensivas, além da grande envergadura e polivalência que demonstrava (jogou como goleiro em mais de uma ocasião).

Foram essas características que o levaram a seguir o pioneirismo do pai, só que em outra área. Ao debutar pelos Le Bleus em 15 de fevereiro de 1931, na derrota em casa para a antiga Tchecoslováquia, por 2 a 1, em Colombes, Raoul tornou-se o primeiro negro a defender a França. Apesar da convocatória, ele não se firmou imediatamente na equipe.

Dessa maneira, acabou ficando fora da disputa da Copa do Mundo de 1934, na Itália. Seus êxitos o levariam a dar a volta por cima. Na temporada 1935/36, o defensor ajudou o Racing a conquistar o único Campeonato Francês da história do clube. No mesmo ano, também faturou a Copa da França, a qual venceria em outras duas oportunidades.

Em 1938, em meio à tensão marcada pela prévia da Segunda Guerra Mundial, foi chamado para disputar a Copa sediada em território francês, na qual a seleção da casa perdeu por 3 a 1 nas quartas de final diante da Itália, futura bicampeã. Ao todo, Diagne jogou 18 vezes pelo escrete nacional, sem marcar nenhum gol.

Em clubes, ganhou mais duas vezes a Copa da França com o Racing. Curiosamente, a final do torneio de 1940 vencida sobre o Olympique de Marsella ocorreu cinco dias antes da invasão do pais pela Alemanha nazista. Sua passagem pelo Racing foi abreviada justamente por esse episódio histórico, que o levou a jogar no Toulouse e no Annecy.

Pouco depois de sua aposentadoria como jogador em 1946, ele aventurou-se à beira do gramado. Primeiro no Goreé, de Senegal, ganhando uma taça, e, mais tarde, ao redor do mundo. Passou pelo Oudenaarde, da Bélgica, Gallia Sports e CS Constantinois, da Argélia, e US Flers, da França, até 1960, época que coincidiu com a independência de Senegal.

A recém-criada federação de futebol do país queria alguém do quilate de Raoul Diagne para dar seus passos iniciais, desafio que o ex-jogador de origem senegalesa aceitou prontamente, tornando-se o primeiro técnico do selecionado local. Ele ocupou o cargo durante boa parte da década de 1960 e, devido ao seu trabalho, é reconhecido até hoje como “avô do futebol senegalês.” Honra digna a um grande pioneiro.

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Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, é apreciador do futebol latino, do teor político-social do esporte bretão e também de seu lado histórico.