O novo futebol que está por vir

O novo futebol que está por vir

Saiba o que mudará no jogo caso as novas regras testadas pela Fifa sejam aprovadas

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As famosas mesas redondas, símbolo do futebol brasileiro dos anos 90, estão em extinção. E não é de hoje. Seja pelo público que mudou, seja pelo Jornalismo Tiago Leifert, fato é que as acaloradas discussões para definir se aquele pênalti foi marcado corretamente no clássico estão com os dias contados. Ou não?

A partir da temporada 2017-2018, a Fifa, em conjunto com a International Board, fará testes para a implantação de uma série de novidades revolucionárias nas regras do futebol. Algumas já entrarão em vigor a partir de junho.

Essas mudanças poderão trazer novidades, encerrar alguns problemas e abrir outros, além de ter como consequência a aproximação do futebol com outros esportes coletivos ao redor do globo. Confira:

“Teleárbitro”
Já existe: rúgbi, esportes americanos

A mudança mais pedida enfim entrou na pauta da Fifa, com a troca de Blatter por Infantino na presidência da entidade. Mas só veio após pressão de diversas entidades ao redor do planeta. Até mesmo a CBF, cansada da enxurrada de críticas sobre a arbitragem brasileira, pediu autorização para implantar o teleárbitro no ano passado.

Juízes analisam replay durante partida da NBA (Foto: Reprodução)
Juízes analisam replay durante partida da NBA (Foto: Reprodução)

A pressão mais forte, porém, veio dos EUA. A Major League Soccer (MLS), liga que utiliza o formato de franquias tradicional no país, e estranho no resto do mundo, pediu licença à Fifa para a implantação do recurso, que já existe em todos os Big Four – os quatro esportes mais populares na região.

Funciona? Sim, funciona. Ao menos na grande maioria dos casos, especialmente em esportes mais exatos (e por turnos), como baseball e futebol americano. No basquete e no hóquei, porém – esportes mais próximos ao futebol – o recurso não é dos mais admirados.

Além de atrapalhar o dinamismo do jogo, parando por longos períodos para que os árbitros cheguem a um consenso sobre determinada jogada, o índice de acerto do recurso é muito relativo. Faltas no basquete costumam dividir até mesmo narradores e comentaristas, por exemplo.

Neto, Milton Neves e Morsa podem ficar tranquilos. O teleárbitro pode até resolver os problemas com impedimento, dúvida mais exata, mas os pênaltis seguirão como questão de interpretação do juiz. Neste caso, dos juízes.

Isso levanta outra consequência, mais direta: os jogos de futebol ficarão mais longos. As pausas para a análise das imagens, se for como no basquete, exigirão cerca de dois minutos para que se chegue a uma conclusão. Tenha três lances duvidosos em um jogo, o que costuma acontecer, e lá se vão seis minutos a mais. A Globo não vai curtir.

Outro impacto, embora menor, estará no desempenho dos atletas. As constantes pausas nos jogos podem provocar mudanças no andamento das partidas. Aquele time que pressionava, de uma hora para outra, ficará parado no campo. É mais difícil de recuperar a intensidade do que no basquete, por exemplo, que possui uma área três vezes menor.

A solução para isso poderia ser limitar o número de vezes em que o teleárbitro pode ser acionado. Mas e se, no último minuto, esgotados os replays, Rivaldo levar uma bolada na perna e levar as mãos ao rosto? Paciência.

Mas e se as análises forem feitas com o jogo rolando? Isso também está na pauta de testes da Fifa. Seria no mínimo inusitado ver o árbitro gesticulando minutos depois de um gol, com a bola rolando, afirmando que o atacante estava impedido e que o placar voltou a 0 a 0.

Substituição extra na prorrogação

O futebol é um dos raros esportes coletivos do mundo em que as trocas são limitadas. Outro exemplo é o rugby, que, no entanto, permite nove substituições, sendo duas de funções específicas.

Infantino, novo presidente da Fifa e entusiasta da tecnologia no futebol (Foto: Reprodução)
Infantino, novo presidente da Fifa e entusiasta da tecnologia no futebol (Foto: Reprodução)

Discute-se na Fifa a permissão de uma substituição extra quando os jogos vão para a prorrogação. Aparentemente, é uma excelente mudança. Afinal, prorrogações costumam ser entediantes na maioria dos casos – jogadores com câimbra, caídos no gramado, e ninguém aguentando correr.

A medida, contudo, deve ser testada primeiro. Isso porque a International Board e a Fifa querem saber se os técnicos utilizarão a troca extra como tática ou se simplesmente colocarão um jogador cansado em campo.

Trocando em miúdos, querem saber se entrará aquele batedor de pênaltis de 37 anos que estava no banco, que pouco acrescentará à prorrogação, ou aquele volante marcador para segurar o resultado. O que, diga-se, é bem provável.

Isso pode fazer com que o futebol se aproxime de rugby e futebol americano no sentido de contar com especialistas. No caso, figuras como o kicker, que entra apenas para bater pênalti, ou o goleiro pegador (alô, Van Gaal).

Punição extra
Já existe: futebol inglês

Na Premier League, um cartão vermelho mostrado direto, independente do número de cartões amarelos, culmina em uma suspensão automática de três jogos.

A ideia da Fifa é adaptar a rigorosa regra do Campeonato Inglês para todos os torneios oficiais do mundo. No entanto, funcionará somente em casos muito específicos. Mais precisamente quando um jogador impedir irregularmente um gol claro dentro da área e acabar expulso.

Neste caso, o cartão vermelho acarretaria em um jogo a mais de suspensão para o infrator. Basicamente, seria a “Luis Suárez rule”, notório caso do uruguaio na Copa do Mundo de 2010, diante de Gana, nas quartas, que salvou um gol com a mão.

A medida, no entanto, só funcionaria para casos extremamente específicos. Fosse com David Braz, do Santos, no Brasileirão de 2015, a injustiça seria enorme.  No caso, Zeca derrubou Vagner Love, do Corinthians, quando o atacante estava prestes a empurrar a bola para o gol na pequena área. O pênalti foi marcado, mas o árbitro se enganou e expulsou David Braz.

Na prática, essa medida só funcionaria caso o teleárbitro seja aprovado pela Fifa e pela International Board.

Tratamento dentro do campo

Essa medida poderá ter um impacto forte em competições como a Libertadores, em que a catimba está presente em todos os jogos. Basicamente, quando um jogador precisar ser atendido após uma falta em que o agressor for advertido, poderá ficar no gramado.

Isso certamente irá truncar ainda mais as etapas finais dos jogos das competições continentais sul-americanas. Se os goleiros já abusam desse recurso, imagine os jogadores de linha? No entanto, nem tudo está perdido: talvez assim os atletas pensem duas vezes antes de fazer falta na bandeirinha de escanteio.

Pontapé inicial pode ser para trás

Sinceramente, isso faz alguma diferença?

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