Quando o Celta anunciou o técnico Eduardo Berizzo como substituto de Luis Enrique, que estava de saída para o Barcelona, a equipe celeste havia protagonizado uma campanha modesta no Campeonato Espanhol e amargurado uma queda precoce na Copa do Rei.
Era maio de 2014. Nada de atípico até aí, levando em consideração que o time de Vigo obtivera há pouco o acesso à elite.
Nas mãos do treinador argentino, porém, o nível do Celta iria mudar significativamente para a melhor e incomodaria os grandes.
Na primeira temporada de “Toto” Berizzo no Velho Continente, não houve transformações impactantes. Em termos de resultados, foi bem semelhante à última de Luis Enrique no Celta: meio de tabela no Espanhol e eliminação nas oitavas de final da Copa do Rei.
Com mais bagagem em território europeu e conhecimento sobre o novo clube, além de ter a seu favor vitoriosas experiências no Newell’s Old Boys (1988-93), River Plate (1996-00) e O’Higgins (2012-14), o trabalho do treinador de 47 anos aos poucos mostrou-se diferenciado. E com base nos ensinamentos de um velho conhecido.
Influenciado pelas ideias de Marcelo Bielsa, Berizzo tranferiu-se para a base do Newell’s após recomendação do próprio “El Loco”, que certa vez teve o ex-defensor como rival pelas divisões inferiores. Na equipe principal, ambos desfrutaram de um ciclo glorioso.
Já aposentado dos gramados, “Toto” foi convidado por Bielsa para integrar o comando técnico do Chile, entre 2007 e 2010. Quando deixou de trabalhar com seu mentor, assumiu brevemente o Estudiantes (23 jogos) até chegar ao O’Higgins e ganhar dois títulos nacionais. Essa passagem o credenciou para o cargo que exerce na atualidade.
Apesar de todas as limitações, sobretudo financeiras, Berizzo coleciona alguns feitos louváveis.
Partes importantes dessas façanhas, por exemplo, Sergio Álvarez, Hugo Mallo e Gustavo Cabral se destacam atrás, enquanto Iago Aspas, Fabian Orellana e John Guidetti brilham do meio para a frente.
Com um futebol ofensivo, domínio efetivo de posse de bola e movimentação rápida e criativa na frente, a equipe de Vigo já castigou três vezes o Barcelona (4 a 1, em casa, e 1 a 0 fora, ambos em 2015, e 4 a 3 em casa, no ano seguinte).
Os catalães, porém, não foram os únicos gigantes a sofrer. Recentemente, o Real Madrid perdeu em pleno Santiago Bernabéu, por 2 a 1, e foi eliminado das quartas de final da Copa do Rei devido ao empate por 2 a 2, fora de casa. Em 2016, o Atlético de Madrid de Diego Simeone caiu na mesma fase para o Celta.
Em duas temporadas e meia, Berizzo já conduziu seu time a vitórias nos oito estádios mais complicados da Espanha: Camp Nou (Barcelona), Santiago Bernabéu (Real Madrid), Vicente Calderón (Atlético de Madrid), Ramón Sánchez Pizjuán (Sevilla), San Mamés (Athletic de Bilbao), Mestalla (Valência), El Madrigal (Villarreal) e Anoeta (Real Sociedad).
Os títulos ainda não vieram. A Copa do Rei pode ser uma conquista inédita, mas o treinador, como bom aluno de Bielsa, mantém os pés no chão. “A euforia leva a conclusões exageradas”, disse certa vez. Todavia, a semente da transformação foi plantada e já começa a dar frutos que inspiram a torcida galega, há anos sedenta por taças.