Até que ponto um apelido prejudica uma carreira? “Marcio Sousa será o novo Maradona”, sentenciava o grande José Mourinho, ao falar sobre a promessa Marcio Sousa, jogador do Porto, em 2003.
A empolgação do treinador era explicável. O pequeno meio-campista de Portugal era Maradona naquele momento. Ou apenas mostrava ser. Com trejeitos parecidos ao do histórico craque argentino, o camisa 10 (luso) empolgava.
E não por acaso. Na base do Porto, já demonstrava potencial diferenciado. Na seleção nacional, levou Portugal ao título europeu sub-17, em 2003. Na final, fez dois belos gols diante da Espanha. Em casa. Para se consagrar.
Márcio guiou Portugal até a final, com dribles, fintas e uma habilidade sem igual na competição. No mundial da categoria, foi eliminando apenas nas quartas de final, para a Espanha.
Na decisão do Campeonato Europeu, Márcio não deu chances ao outro camisa 10, o mais conhecido, hoje, David Silva. Foi uma aula de Márcio. Com chutes de extrema perfeição.
Fã do argentino, eram grandes as comparações em solo português. Naquele mesmo ano, estreou pelo Porto B, e era ventilado para debutar com a equipe principal, comandada por José Mourinho à época.
Mas o que aconteceu pós-2003? Antes chamado de Maradona nos treinos, a alcunha, quase segundo nome mesmo, agora Márcio Sousa é apenas Márcio. No modesto Farense, o canhoto ainda tem brilharecos para levar sua equipe à divisão de elite.
No Tondela, permaneceu por cinco, até sair em 2015. Segundo algumas fontes, somou mais de 40 assistências no período, mostrando que a magia ainda resistia. Mas nada que o elevasse perto do que foi determinado, certas vezes, pela imprensa de Portugal.
A justificativa para tamanha desilusão, segundo o próprio jogador, não vem da alcunha de “novo Maradona”. Lesões e escolhas equivocadas o colocaram na linha das eternas promessas. Para se ter ideia, após quatro anos do título europeu, Sousa estava no Rio Maior, clube da quarta divisão portuguesa.
Em 2003, Márcio comandava uma geração campeã, junto com Vieirinha, seu parceiro de Porto. Hoje, o segundo, menos badalado à época, é peça do Wolfsburg, destaque nos últimos Campeonatos Alemães.
Aos 30 anos, os desafios são outros. Jogando em um clube considerado de massa no interior português, Sousa espera repetir os passos do Tondela. Se não conseguiu ser sombra de Maradona, a chance é marcar no futebol local. Marcar seu próprio nome na história. E deixar a velha alcunha para trás.
Será que os sucessivos empréstimos, muitas vezes uma pratica sem planejamento algum dos clubes, foi o fator fundamental para o insucesso?
“As coisas aconteceram assim. A alcunha já veio de muito cedo. Há algumas pessoas no mundo do futebol que ainda me conhecem por Maradona, mas eu sempre me chamei Márcio”. Que atendam o pedido dele.