Mecenas do futebol: Nasser Al-Khelaifi

Mecenas do futebol: Nasser Al-Khelaifi

Presidente do PSG gastou quase 400 milhões de euros só na contratação de jogadores. E ele quer muito mais. Qual seu objetivo, afinal?

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À época, pouca gente imaginava, mas um fato isolado em 2005 viraria o mundo do futebol de cabeça para baixo, anos depois. Preocupados com os rumos ecológicos da indústria dos combustíveis, o governo do Catar e um grupo de bilionários do país se juntaram para discutir possíveis alternativas ao gás natural e ao petróleo para a economia local.

A solução encontrada foi a criação do Qatar Investiment Authority (QIA), fundo de investimentos que remanejaria lucros dos combustíveis para outros setores, interna ou externamente.

A presidência do fundo, como não poderia deixar de ser, ficou a cargo de Hamad bin Khalifa Al Thani, então Emir em exercício – máximo título monarca do país, que possui autoridade superior ao parlamento e ao ministério local.

Pouco a pouco, Al Thani e os investidores do grupo perceberam que a missão não seria fácil. Como atrair empresas estrangeiras a um país pequeno, e tão dependente do gás e do petróleo, como o Catar? A solução encontrada foi apostar no mercado externo.

Nasser Al-Khelaifi: o homem que não tem medo de investir (Foto: Reprodução)
Nasser Al-Khelaifi: o homem que não tem medo de investir (Foto: Reprodução)

Barclays, Volkswagen, Porsche, Air Liquide, France Telecom e Shell foram alguns dos primeiros alvos do QIA. Compraram significativas porcentagens das mais variadas multinacionais e, hoje, têm capital estimado em 170 bilhões de euros. Conseguiram, assim, certa segurança para suas finanças.

Mas era muito pouco. O desenvolvimento do Catar seguia em segundo plano. Bastaria uma grande crise nos petrodólares para tudo ruir. As porcentagens adquiridas não convenceram as multinacionais a gerar capital no país de 1,9 milhão de habitantes.

Era preciso publicidade. Atrair os olhos do mundo. E, na visão dos árabes, os fins justificavam os meios. Usariam de qualquer método para colocar em prática os objetivos do fundo catari. Eis que descobriram o futebol. Decidiram que era o meio mais fácil para divulgar o país no ocidente. E fundaram a Qatar Sports Investments (QSI).

Foi quando surgiu a figura de Nasser Al-Khelaifi. Magnata do petróleo, o bilionário era uma pessoa próxima à família real do Catar. Foi indicado para a presidência do QSI, e não à toa. No passado, o empresário havia tentado a carreira de jogador de tênis. Não conseguiu entrar no ranking dos 1000 primeiros e fez apenas duas partidas oficiais da ATP.

Al-Khelaifi ainda contava com outra ligação importante ao mundo dos esportes: era o dono do conglomerado que comprou a Al-Jazeera Sports, braço do gigantesco grupo de comunicação árabe. Sua jovialidade foi outro fator a pesar para a escolha de Al-Thani. Não era interessante apostar em uma pessoa mais velha para ser o garoto propaganda do QIA no mundo.

A empreitada do empresário começou audaciosa. Qual a melhor maneira de tornar sua marca global por meio dos esportes? Patrocinando um grande clube, talvez. Sua meta era clara: queria estampar o nome de seu país no uniforme do Barcelona, clube mais evidente no cenário nacional.

Não houve obstáculos para Al-Khelaifi. Nem mesmo a regra interna do clube de não apresentar patrocínios nas camisas ou o rígido fisco espanhol. Em negociações obscuras com Sandro Rosell, ex-presidente do Barça, o empresário colocou seu plano em prática. Por uma fortuna.

Com o passaporte de entrada para o mundo do futebol em mãos, Al-Khelaifi começou a colocar em prática uma ação ainda mais ousada. Queria fazer com que o minúsculo Catar, sem tradição alguma no futebol, recebesse uma Copa do Mundo. Loucura? Jamais, pensava o cartola.

Tênis é uma das paixões de Nasser Al-Khelaifi (Foto: Divulgação)
Tênis é uma das paixões de Nasser Al-Khelaifi (Foto: Divulgação)

Nas eleições, a surpresa: Catar escolhido como palco para o Mundial de 2022. Jornalistas do mundo inteiro começaram a buscar os motivos para tamanho absurdo.  Anos mais tarde, acusações diversas sobre suborno culminariam em parte das ações da polícia norte-americana contra dirigentes da Fifa. Nada foi provado contra Nasser Al-Khelaifi ou contra o QIA.

A terceira parte do plano era ainda mais ousada: comprar um clube de futebol e torna-lo uma potência mundial. Mas em qual país? França, sem dúvida. As aproximações entre o QIA e o governo francês eram antigas. Em dado momento, o fundo chegou a se oferecer para financiar programas sociais em áreas pobres do país. Pesa, também, a imensa população muçulmana presente na região.

E qual o clube? Definitivamente, o QIA queria atrair olhares. Nada melhor, para isso, que Paris. Único time da cidade na primeira divisão, o Paris Saint-Germain apareceu na mesa de Al-Khelaifi, que topou a empreitada.

O PSG não estava entre os principais clubes franceses até a aquisição por parte do QSI. É uma equipe relativamente nova, fundada na década de 70, que dependia de aporte financeiro de investidores esporádicos para ter boas fases aqui e ali. Deu certo entre os anos 80 e 90, quando conquistou o Campeonato Francês em duas ocasiões.

Nos três últimos anos, porém, o clube já conquistou mais títulos do que em trinta anos atrás. Levou três vezes consecutivas o Campeonato Francês, já caminhando para a quarta. Conquistou ainda a Copa da França e alcançou as quartas de final da Liga dos Campeões.

O início não foi fácil. Al-Khelaifi, que assumiu a presidência do clube após a aquisição por parte do QSI, quis seguir o modelo do Chelsea, a princípio, trazendo apostas, como Pastore, e jogadores ambiciosos, mas longe de holofotes, como Thiago Motta e Maxwell, para mesclar à base atual do time.

A tentativa inicial não deu certo. O clube ficou com o vice-campeonato francês e caiu nas quartas de final da Copa da França. Pouco para os objetivos do QIA. Para 2012-2013, Al-Khelaifi decidiu tirar o escorpião do bolso.

Investiu milhões e milhões em Ibrahimovic, Thiago Silva, Lavezzi e Lucas. Convenceu David Beckham a encerrar sua carreira no Parc des Princes em 2013. Trouxe ainda Carlo Ancelotti, vitorioso treinador italiano. Mais tarde, viriam Cavani, Di María e outros atletas a peso de ouro.

As ações de Al-Khelaifi no mercado do futebol deixam claras suas intenções. Ganhar a Liga dos Campeões? Pode ser uma consequência, mas não é o objetivo principal. O que a QIA verdadeiramente deseja é contar com os melhores garotos propaganda do mundo.

Não é segredo para ninguém o sonho de Al-Khelaifi em contratar Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo, os dois atletas mais midiáticos do planeta. O segundo, parece próximo. E se Neymar um dia vir a ser o melhor do mundo, provavelmente será um novo alvo. Para a atual direção do PSG, o ato de contratar vale muito mais do que qualquer troféu.

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