A jornada cinematográfica do Atlético Tucumán para conquistar sua classificação inédita na Libertadores na noite desta terça (7) teve vários aspectos inusitados. Entre eles, o fato de a equipe ter que pegar emprestado o uniforme da seleção argentina sub-20, presente em Quito por conta do Sul-Americano da categoria.
O momento foi no mínimo curioso, mas não é sem precedentes na história do futebol. Ao longo dos anos, diversas equipes já tiveram que dar um jeitinho e usar o fardamento de outros para não perder a chance de jogar. E por inúmeros motivos.
Confira alguns exemplos:
Brasil xeneize
Em jogo válido pela Copa América de 1937, Brasil e Chile se enfrentariam em La Bombonera. Na época, o escrete brasileiro ainda não tinha seu icônico uniforme canarinho e utilizava camisas brancas, assim como o Chile.
Como nenhuma das seleções havia trazido um jogo de camisas reservas, teve início o impasse. O árbitro decidiu que algum dos times precisava usar outro fardamento. Em uma jogada de mestre, a delegação brasileira resolveu usar as camisas do Boca Juniors, conquistando o apoio da torcida local.
A manobra aparentemente deu certo. Os brasileiros saíram vitoriosos em um jogo maluco, que acabou com o placar de 6×4.
México/Cruzeiro-RS
Era a última rodada da fase de grupos da Copa do Mundo de 1950, no Brasil, e México e Suíça fariam um jogo aparentemente sem muitos atrativos, já que ambos estavam eliminados. Talvez por isso as comissões não tenham se preocupado tanto com detalhes pequenos, como o fato de os dois times jogarem de vermelho.
A partida seria realizada no estádio dos Eucaliptos, no Rio Grande do Sul, e um time local se ofereceu para resolver o problema: o Cruzeiro-RS, que emprestou gentilmente seus uniformes para a seleção mexicana. O duelo acabou com vitória suíça por 2×1.
Duas Suíças
Em 1957, a seleção suíça se viu envolvida novamente em um impasse envolvendo roupagem. Mas dessa vez a culpa não foi propriamente da organização, e sim da tecnologia da época.
Em jogo válido pelas eliminatórias da Copa, os suíços enfrentaram a Escócia, que chegou para o jogo com seu tradicional uniforme azul. Teoricamente, ele não se assemelhava em nada ao vermelho dos donos da casa. Mas o jogo seria transmitido pelas TVs, em preto e branco, complicando a diferenciação das duas cores para os telespectadores.
A solução dos diplomáticos suíços foi oferecer seu próprio uniforme 2, branco, para os visitantes escoceses. Os britânicos não retribuíram a cortesia e venceram os anfitriões por 2×1, conquistando pontos importantes para garantir a vaga no Mundial.
Argentina amarelinha
Pode parecer estranho imaginar a Argentina jogando com a cor marcante de seus maiores rivais no futebol, mas já aconteceu. Depois de passar 24 anos ausente de Copas do Mundo, os argentinos vivenciaram um fato curioso logo em seu retorno, em 1958.
Na estreia, contra a Alemanha, ambas as seleções chegaram com uniformes claros – os alemães de branco, e os argentinos de alviceleste. A solução dos hermanos foi pedir emprestado o uniforme do IFK Malmo, clube local. Mas a roupa não deu sorte: vitória alemã por 3×1.
Quem não tem Boca vai a Milão
O Boca emprestou suas camisas para o Brasil em 1937, e como tudo o que vai volta, acabou precisando de uma mãozinha anos depois. Pela Libertadores de 1963, enfrentaria a Universidad do Chile, que havia viajado somente com seu uniforme azul.
O Boca também não tinha segundo uniforme, mas alguém na delegação gozava de boa memória. Um ano antes, o Milan havia visitado La Bombonera para alguns amistosos e, como forma de pagamento pela transferência do peruano Victor Benítez, deixou algumas camisas de cortesia. Foi com elas que os argentinos conquistaram a vitória por 1×0.
Estreia confusa
Como se sabe, a Venezuela não era muito relevante no futebol até algumas décadas atrás. Em 1967, quando jogou no Uruguai a Copa América pela primeira vez, os venezuelanos não conseguiram demonstrar muita coisa dentro de campo, mas ficaram marcados pela curiosidade dos uniformes.
No duelo contra o Chile, que jogava de vermelho, os venezuelanos chegaram com seu fardamento vinotinto. O juiz percebeu a semelhança das cores e decidiu, por sorteio, que os caçulas da Copa América teriam de mudar de roupa. Coube ao Peñarol emprestar o uniforme utilizado pelos estreantes na derrota por 3×0.
Moda francesa
Talvez o caso mais emblemático de time que teve de jogar com uniforme emprestado seja o da seleção da França, que pediu uma mãozinha para o modesto Kimberley, da Argentina, na partida contra a Hungria na Copa de 1978.
Mais uma vez, a França, de azul, e a Hungria, de vermelho, não tiveram culpa, mas a confusão se deu por conta das transmissões de TV, que ainda eram feitas em preto e branco para a maior parte do mundo. O embate, apitado por Arnaldo Cézar Coelho, ainda atrasou por 40 minutos para que fossem costurados os números nas camisas do Kimberley. A França ganhou por 3×1.
Coisas que também acontecem com o Botafogo
Campeão brasileiro em 1995, o Botafogo foi convidado no ano seguinte para participar do tradicional troféu Teresa Herrera, em La Coruña. A equipe liderada por Túlio chegou à final depois de bater os donos da casa por 2×1 e enfrentaria a Juventus pelo título.
Por se tratar de um torneio amistoso, nenhuma das equipes alvinegras se preocupou em levar o segundo uniforme. Coube ao La Coruña ser camarada e emprestar camisas para seu algoz. Depois de um jogo frenético que acabou 4×4, o Glorioso levou o troféu nos pênaltis.
Clássico do Paraguai
Em 1998, o Vélez Sarsfield viajou até Assunção para enfrentar o Olimpia em jogo válido pelas quartas de final da Copa Mercosul. Só que os argentinos viajaram apenas com seu uniforme branco, similar ao dos donos da casa.
Catimbeiro, o time do Olimpia se recusou a trocar de camisa. Mais catimbeiro ainda, Chilavert, goleiro do Vélez na ocasião, sugeriu provocar os adversários jogando com a camisa de seu rival, o Cerro Porteño. A estratégia não deu muito certo, já que os paraguaios venceram o jogo por 2×0, com gols de um jovem Roque Santa Cruz.
Universitarios de Stuttgart
Em 2014, o Universitario de Sucre foi a Santa Cruz de la Sierra apenas com o jogo de camisas titular para o duelo contra o Oriente Petrolero, válido pelo Campeonato Boliviano. Não haveria problema, se o branco do Universitario não fosse confundido com o alviverde dos donos da casa.
Como a delegação do time de Sucre não encontrou nenhum clube local que cedesse o fardamento, a solução foi ir até a loja de artigos esportivos mais próxima e comprar uniformes. O único time com camisas sobrando na loja era o Stuttgart, da Alemanha, e com essa vestimenta o Universitario foi goleado por 4×0.