De quatro em quatro anos, um fenômeno parece acometer os batimentos cardíacos de grande parte da população mundial. As atenções ficam voltadas a um evento em especial, cujo charme afeta muita gente sem distinguir nacionalidade, raça ou religião.
Qualquer fã de futebol que se preze sabe que o evento em questão é a Copa do Mundo. E o cineasta brasileiro Murilo Salles conseguiu captar esse efeito hipnótico do torneio no documentário Todos os Corações do Mundo (Two Billion Hearts, EUA, 1995), o filme oficial da Copa de 1994.
Salles soube encontrar uma boa maneira de mostrar como a população local recebeu as estrelas da bola, e como os americanos, normalmente avessos aos encantos do soccer, acabaram entrando no clima da festa por conta da enorme quantidade de estrangeiros e imigrantes que assistiam à competição na terra do Tio Sam.
É interessante ver a interação entre os torcedores de vários países, alguns que nem participavam daquela Copa, mas todos conscientes da importância daquilo que estavam vivenciando. A animação pré-jogo, euforia depois de vitórias, a frustração das eliminações, nada escapa das lentes, com personagens bem selecionados.
O elenco da produção é de respeito. Com craques do quilate de Maradona, Klinsmann, Bergkamp, Hagi, Stoichkov, não faltam lances de extrema plasticidade dentro de campo, vistos de uma forma pouco usual para a época, com câmeras que colocam o espectador como parte da ação.
Mas não é no gramado que ocorre a cena mais memorável do filme, e sim no túnel para a entrada em campo. Brasil e Itália se preparam para jogar a final da Copa, com os dois times perfilados aguardando para entrar no palco.
Romário, o indiscutível craque da seleção brasileira, parece tranquilo e concentrado para o jogo, enquanto é observado com um olhar penetrante pela maior estrela italiana, Roberto Baggio. O que significaria aquele olhar? Admiração? Medo? Provocação? Confiança?
O diretor tem sensibilidade suficiente para deixar que a conclusão fique por conta dos espectadores, ajudados pelo rumo dos acontecimentos daquela partida. Afinal de contas, a história é sempre contada pelos vencedores. Se o pênalti de Baggio encontrasse as redes em vez das arquibancadas do Rose Bowl, a conversa poderia ser diferente.