Quando Sheringham empatou a partida aos 46 do segundo tempo eu fiquei em choque. No momento que Solskjaer virou, aos 48, eu entrei em êxtase. Afinal, era a primeira decisão de Liga dos Campeões a que eu assistia. Solskjaer se tornava um “craque” para mim, e o Manchester, o melhor clube do planeta. Para quem tinha apenas sete anos e começava a entender o futebol, aquilo era fulgurante.
Mas vamos ao início. A data era 26 de maio de 1999. Final da Liga dos Campeões envolvendo dois gigantes do futebol: Bayern de Munique-ALE e Manchester United-ING. Os bávaros haviam eliminado a surpreendente equipe do Dínamo de Kiev-UCR, liderada por Shevchenko, nas semifinais. Já os “Red Devils” sofreram para passar da Juventus-ITA.
Na primeira partida contra a Velha Senhora, igualdade por 1 a 1 em Old Trafford, com Giggs empatando nos acréscimos (seria um prelúdio?) e dando sobrevida para o jogo de volta. Na Itália, Inzaghi marcou duas vezes e deixou a Juve em grande vantagem, mas Roy Keane e Dwight Yorke trataram de empatar antes do intervalo. No fim da segunda etapa, Andy Cole liquidou a partida e garantiu a virada heroica do Manchester United.
Assim, era chegado o dia do encontro entre dois titãs em pleno Camp Nou, estádio do Barcelona, na Espanha. Ambas as equipes sofriam desfalques importantes. O Bayern não contava com Lizarazu e Élber, que estavam lesionados, obrigando o técnico Ottmar Hitzfield a jogar com três homens no ataque e um forte sistema defensivo liderado pelo camisa 10 Lothar Matthäus.
Já no lado inglês, Roy Keane e Paul Scholes não jogariam por cumprirem suspensão, prejudicando e muito o meio-campo do Manchester United, pois aquele era um verdadeiro cão de guarda na marcação e este, um ótimo armador e peça-chave na criação de jogadas.
Por isso, Ferguson trouxe Beckham para a volância ao lado de Butt, deixou Giggs como ponta-direita e Blomqvist aberto na esquerda. Além de, claro, contar com a dupla infernal formada Yorke e Cole. Para completar, Peter Schmeichel e Oliver Kahn, dois dos melhores arqueiros da história, estariam em campo, o que dava a entender que haveria poucos gols.
A festa das torcidas era bonita. A do Manchester United parecia ser maior, e cantava bem alto. No entanto, logo no início da partida, a festa viraria apreensão, pois Basler, aos seis minutos de jogo, abriria o placar para os alemães. O zagueiro Johnsen derrubou o centroavante Jancker muito perto da grande área da meta de Peter Schmeichel. Basler chutou forte, a barreira se abriu, e a bola entrou no canto esquerdo de Schmeichel.
Era tudo o que os bávaros queriam. Sem as referências de Lizarazu e Élber no ataque, um gol de bola parada no começo do jogo era mais que perfeito, pois o sistema defensivo deles era muito superior ao do Manchester, que sofria pela falta de criação no meio-campo e teria que se reencontrar após o baque inicial.
O primeiro tempo, então, seguiria com o Manchester United dominando a partida, mas sem apresentar perigo, e o Bayern de Munique muito seguro defensivamente e aproveitando perigosos contra-ataques. O árbitro Pierluigi Colina apitou o fim da primeira etapa, e as coisas não eram nada boas para os “Red Devils”.
Se o jogo começou mal para os ingleses, não seria diferente após o intervalo. O Bayern seguiu com seus contra-ataques quase que letais e o Manchester não conseguiu criar oportunidades reais de gol.
O time alemão teve duas ótimas oportunidades de ampliar o resultado. Na primeira, Jancker levantou para Effenberg que, de primeira, chutou fraco tentando encobrir Schmeichel, que espalmou para escanteio.
Na outra, a melhor chance do confronto. Mario Basler, autor do único gol até então, viria numa ótima arrancada, fintando quem estivesse pelo caminho, já na entrada da grande área, sem conseguir progredir, deixou com Scholl. Ele encobriu Schmeichel, mas a bola bateu na trave.
Precisando reagir, Ferguson colocou Sheringham no lugar de Blomqvist e Solskjaer no lugar de Cole. Quem diria que essas substituições seriam fundamentais para a partida, hein?!
Mas antes mesmo do milagre acontecer, o Bayern mandaria outra bola na trave, desta vez com Jancker, de bicicleta. Tudo corria bem para os alemães, que criavam as mais perigosas chances e conseguiam se segurar bem no ataque. Corria bem até os 45 minutos, quando Collina anunciou mais três de acréscimo.
Quase aos 46 minutos, o Manchester desceu pelo setor esquerdo de ataque com Beckham, que esticou para Neville cruzar na grande área e Effenberg cortar para escanteio. Schmeichel iria para a área e, se dependesse, até Bobby Charlton faria o mesmo.
Beckham cruzou, e a zaga alemã, que estava tão bem, afastou mal. A bola sobrou nos pés de Giggs, que chutou em direção ao gol. Sheringham, sozinho, desviou para empatar o jogo quando quase ninguém esperava. Euforia total no banco inglês, enquanto no banco alemão a frustração era iminente.
Se antes o título do Bayern era quase certo, desta vez a vinda da prorrogação era dada como inevitável, e ambos os técnicos já se preparavam para os 30 minutos que viriam. Pois é, mas os jogadores do Manchester United ainda acreditavam…
Após dar a saída de bola, atordoado pelo gol de empate, o Bayern perdeu a concentração e deu um contra-ataque para o Manchester United que, com Solskjaer, conseguiu mais um escanteio. Corriam 48 minutos no relógio. Era o último lance.
Com perfeição, Beckham cruzou na cabeça de Teddy Sheringham, que desviou para Solskjaer empurrar para o fundo da rede. Era a virada histórica do Manchester United. O gol do título. Os “Red Devils” faziam o impossível. Ou melhor, mostravam que nada é impossível, ainda mais no futebol.