Dois jogos, seis horas: O “dia de cão” de Mark Hughes

Dois jogos, seis horas: O “dia de cão” de Mark Hughes

Atacante teve uma dura escolha pra fazer em 1987, e acabou decidindo jogar duas vezes

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Hughes em ação pelo Bayern (Foto: Reprodução)
Hughes em ação pelo Bayern (Foto: Reprodução)

Você já viu aqui no Alambrado alguns casos de times que foram forçados a jogar duas partidas em um mesmo dia. Situações que acontecem normalmente por desorganização do calendário, e que normalmente são resolvidas com a escalação de um time reserva em um dos jogos.

Mas imagine a situação de um jogador que tem a chance de conquistar uma classificação histórica para sua seleção, mas que ao mesmo tempo precisa mostrar serviço em seu novo clube. Pior que isso, precisando se desdobrar para fazer ambas as coisas em um intervalo de aproximadamente seis horas. Essa era a missão quase impossível enfrentada por Mark Hughes em 1987.

Um dos ícones do Manchester United nos anos 1980, o galês foi uma das estrelas que abandonaram a ilha britânica depois da tragédia de Heysel, que provocou o veto a times da região nas competições europeias. Em 1986 Hughes se transferiu para o Barcelona, mas não teve muito sucesso e acabou sendo emprestado para o Bayern de Munique na temporada seguinte.

Enquanto tentava mostrar que poderia render mais no futebol alemão, o atacante liderava também a seleção galesa, que disputava diretamente a vaga para a Euro de 1988 nas eliminatórias. Faltando uma rodada a ser disputada, o País de Gales estava na liderança do grupo 6, empatado em pontos com a Dinamarca mas com dois gols a mais no saldo. A outra concorrente era a Tchecoslováquia, com um ponto a menos, e que receberia os galeses na última rodada.

A seleção não se classificava para um grande torneio havia quase 30 anos, quando jogou a Copa de 1958, então logo se percebeu a importância do jogo. Mas logo surgiu um problema. O Bayern teria que fazer um jogo replay da Copa da Alemanha contra o Borussia Monchengladbach, marcado para o dia 11 de novembro. Mesma data do encontro derradeiro pelas Eliminatórias.

Hughes tentou conversar com o diretor geral do Bayern, Uli Hoeness, sobre uma possível liberação para defender sua seleção. Hoeness concordou, mas perguntou qual seria o horário da partida em Praga. Após ouvir que o duelo estava marcado para as 16h30, respondeu: “Certo, então você pode jogar conosco durante a noite”.

A ideia parecia maluca. Além da óbvia fadiga, a logística para viajar em tão pouco tempo de Praga até Munique não parecia muito possível, apesar da proximidade. Hughes teria que sair diretamente do estádio para o aeroporto para ter qualquer chance de entrar em campo pelo seu clube mais tarde.

Chegou o grande dia, e o time do País de Gales, com Hughes ostentando a faixa de capitão, sabia do nível de dificuldade do desafio, apesar de contar com outros grandes nomes do futebol britânico, como Neville Southall e Ian Rush. Só que o time não foi páreo para os anfitriões da Tchecoslováquia, que venceu por 2×0. E de nada adiantou: A Dinamarca venceu a Finlândia no outro jogo, e acabou com a única vaga do grupo.

Mas Hughes não tinha tempo pra chorar a eliminação. Assim que a partida acabou, se trocou e partiu rumo ao aeroporto com Hoeness, que havia assistido a partida nas tribunas do estádio em Praga. Quando o avião pousou em Munique, o jogo entre Bayern e Gladbach já havia começado. O atacante perdeu o primeiro tempo, que terminou 0x0.

No entanto, estava pronto para a disputa da segunda etapa. Ou quase. Segundo o próprio Hughes, o cansaço da primeira partida somado com o desgaste do vôo o deixaram totalmente debilitado para uma nova partida eliminatória, mas ele acabaria entrando no jogo mesmo assim.

Coincidência ou não, o jogo mudou a partir do momento da entrada do galês na partida. O desânimo da etapa inicial se transformou num duelo agitado. Os visitantes abriram o placar com Thiele, mas Lothar Matthaus empatou para o Bayern. Na prorrogação, Rummenigge marcou duas vezes e Criens descontou para o Borussia. Com o 3×2, o Bayern avançou para as oitavas.

É de se perguntar o motivo de tanto esforço para jogar um mero duelo preliminar de Copa da Alemanha, mas vale lembrar que Hughes queria provar sua qualidade fora do Reino Unido, e ganhar uma moral com os alemães. Mas o esforço não deu muito certo. Ao final da temporada, ele acabou sendo vendido de volta para o Manchester United, por um valor inferior ao que tinha sido gasto na sua saída.

 

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Jornalista, 23 anos. Amante do futebol bonito e praticante do futebol feio