O “Novo Ryan Giggs” desembarcava, aos 15 anos, em Manchester, no ano de 2001. Com o aval de Sir Alex Ferguson, o atacante Ramon Calliste chegava ao norte da Inglaterra com a sua família. A recepção feita pelo comandante escocês mostrava que a promessa era, sim, uma joia a ser lapidada. Ele era um dos 100 jogadores mais promissores do mundo em 2001, à frente, por exemplo, de Kaká, em publicação da revista inglesa Four Four Two.
Nascido em Cardiff, mesma cidade em que Giggs despontou para o futebol, as comparações com o grande ídolo dos “Red Devils” eram inevitáveis. Com muita velocidade e força física, Calliste se caracterizava pelo bom arremate de fora da área. Não era exatamente o que Giggs fazia em campo que rendia comparações, mas a trajetória tão semelhante.
A dimensão em que as comparações chegaram impressionou. Peter Nicholas, ex-jogador da seleção do País de Gales, afirmou que “Calliste tinha o potencial para ser tão bom quanto Giggs”. Isso em 2002, com o craque do United já consagrado.
Inversamente proporcional às expectativas depositadas na promessa era o desempenho nas categorias de base do Manchester. Apesar do talento visível, Calliste não decolava. Sem sequência como protagonista, ficava difícil afirmar que faria sua estreia como profissional em breve.
O roteiro, parecido com o de grandes promessas do futebol brasileiro, começava a tomar forma. Durante a passagem pelo United, Calliste chegou a ser comparado também com David Beckham– em função da qualidade nas cobranças de falta.
Nada que tenha aflorado a todo espírito e se propagado para a posteridade. No título da FA Youth Cup 2003, sua grande conquista pelo United, o atacante foi reserva. A estrela Kieran Richardson brilhava no mais alto tom sem a concorrência do galês.
Mesmo assim, a “fama” adquirida ainda em sua terra natal o colocava na seleção sub-21. “Ferguson não estaria se equivocando ao dar um contrato de três anos para um jogador mediano”, enunciava Nicholas.
Ferguson já foi ironizado por algumas contratações precipitadas em mais de 25 anos de United. Digamos que apenas para não perder a piada. É impossível não errar – como no caso do brasileiro Kleberson – em tanto tempo.
Porém, o erro em Calliste é pouco comentado até hoje. Até pela projeção do jogador pós-Manchester. Em 2005, ele quebrou um jejum – e aí entrou para a eternidade para jornalistas e historiadores. Desde a década de 1960, um jogador não se transferia diretamente do United para o Liverpool.
Rivalidade que dificulta. E acabou com qualquer chance de Calliste. Foi apenas uma temporada no Liverpool. E sem nenhum destaque. Aos 21 anos, Calliste era um promissor atleta preparado para buscar seu espaço em divisões inferiores. Ou não?
Segundo Brian Flynn, técnico de Calliste na seleção galesa sub-21, a promessa esperava estar na Premier League após sair do Liverpool, mesmo sem sequer ter disputado uma partida como profissional. Talvez a falta de tato à época o tenha prejudicado.
Porém, nada tão prejudicial quanto a sua lesão no tornozelo, no Scunthorpe. Às vésperas da estreia na terceira divisão inglesa, a lesão o afastou dos gramados por um longo tempo. E lá se passava mais um clube em que Calliste não conseguiu jogar.
Em 2009, aos 23 anos, prestes a completar 24, transferiu-se para o Farnborough, da sétima divisão. E foi lá que conseguiu marcar quatro gols na temporada. Após isso, foi para o Cambridge City, e, logo depois, para o Saracens, da 12º divisão – trabalhava, ao mesmo tempo, em uma loja de relógio.
O que aconteceu com Calliste? Pergunta que poucos conseguem responder. Talvez só ele mesmo. O fato é que o jogador não cumpriu às expectativas de um povo, de uma torcida e de um Sir.
