A 47º edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior terminou em grande estilo – da maneira que merece a maior competição das categorias de base do Brasil. Flamengo e Corinthians incendiaram um Pacaembu lotado. A festa das arquibancadas contagiou os jogadores na decisão. O título rubro-negro, conquistado após acirrada disputa por pênaltis, foi consagrado após uma campanha impecável. O tricampeonato do time da Gávea.
Na democrática Copinha, está localizada a maior vitrine para os jovens jogadores brasileiros. Sem preconceitos. De A a Z. De Galvez a Flamengo. Nada passa incólume pelos olhares de olheiros e apaixonados. Além do surgimento de ídolos e criação de personagens fantásticos, a Copinha tem a finalidade de selecionar. Como em um vestibular, o Vestibular da Bola.
E no último passo para o ingresso no curso superior, a ansiedade, por muitas vezes, fala mais alto. Por isso, paciência é o melhor remédio. E dar chances aos atletas na equipe profissional é uma das soluções para o fortalecimento de um futebol em crise (?) existencial.
Na edição 2016, como de costume, algumas surpresas. O América-MG chegou às semifinais, e por pouco não levou a taça. Tudo passando pelos ótimos pés do meio-campista Matheusinho. Sport e Mirassol foram outras equipes que surpreenderam. Com uma postura ofensiva, revelaram jogadores do nível de Fábio e Bala, pelo lado pernambucano, e o ousado Murilo, do lado amarelo.
Para a surpresa, a decepção. Alguns gigantes brasileiros não fizeram bom papel no torneio. O Galo caiu ainda na primeira fase. Santos, Fluminense, Grêmio, Vasco e Botafogo não foram longe, cada um por seus motivos diferentes. Porém, no final, o saldo é mais do que positivo. A principal função de expor e dar experiência aos jogadores da base foi bem cumprida.
Até porque, dentre 112 equipes, apenas uma atingirá o ápice. Na Copinha, perder não significa ser derrotado. Revelar é vencer. E, revelar sendo campeão, o grande sonho.
A equipe do Alambrado, como sempre, traz os destaques da histórica Copa São Paulo e monta a seleção do torneio. Confira!
Seleção da competição (formada em um 4-3-3)
Goleiro
Thiago – Flamengo – 19 anos (12/06/1996)
Caio Alves: Muito seguro durante toda a campanha do Flamengo, Thiago era um dos alicerces do ótimo sistema defensivo do Rubro-negro. Sempre bem colocado, fez defesas incríveis durante a competição, como nas partidas cruciais diante de São Paulo e América-MG – em que mostrou muito reflexo. Levou só oito gols em nove jogos, além de ter sido essencial em duas disputas por pênaltis.
Jonatan Androwiki: Entre 2011 e 2013, disputava com Marcos Felipe o posto de melhor arqueiro 1996 do Brasil. ‘Ameaçado’ por Daniel Miller no Flamengo, retomou a titularidade do time sub-20 e mostrou por que chegou a ser comparado ao ídolo Júlio César: Thiago também é goleiro de estatura média, foi infalível nos oito gols sofridos – em nove jogos – pelo time carioca e brilhou na decisão por pênaltis diante do Corinthians.
Lateral direito
Thiago Ennes – Flamengo – 19 anos (05/03/1996)
CA: Lateral com grande capacidade de marcação e ótima disposição, Ennes se difere daquele estilo tradicional do lateral brasileiro. Primeiro, marca. Depois, avança – e com qualidade. Foi determinante para o título do Flamengo, principalmente nas partidas finais. Ex-Fluminense, conseguiu convencer a exigente torcida do Flamengo. Tem potencial para ser excelente no profissional.
JA: Há pouco mais de dois anos, quando sub-17, Ennes atuava no Fluminense, onde sequer era titular absoluto – por vezes foi preterido pelo /97 Breno Santos. Pelo Fla, curiosamente, jogava o hoje corintiano Léo Príncipe. A mudança de clube fez o rubro-negro ganhar um ala muito regular, consciente taticamente e de boa técnica.
Zagueiros
Léo Duarte – Flamengo – 19 anos (17/07/1996)
CA: Impecável durante toda a campanha. Léo Duarte foi, com sobras, o melhor zagueiro da competição. Seguro, rápido e com ótimo senso de cobertura, fez os jogos do torneio parecerem tranquilos. A técnica exacerbada também o fez sobrar. Capitão, liderou o elenco do Flamengo ao título. Mostra sua qualidade desde o Desportivo Brasil, campeão paulista sub-15 em 2011. Tem potencial para ser importante aos profissionais já neste ano.
JA: Jonatan Androwiki: Líder, tranquilo na saída de jogo, rápido nas ações, bem posicionado para as bolas aéreas e preciso no confronto com os atacantes pelo chão. A técnica mostrada pelo zagueiro Léo Duarte não impressiona quem o viu atuar desde os 15 anos, quando já era destaque do Desportivo Brasil. Agora, maduro, sobrou na Copinha 2016 e é opção real para Muricy Ramalho no Flamengo.
Vinicius Del’amore – Corinthians – 19 anos (05/01/1997)
CA: Recém-chegado do rival Palmeiras, Vinicius tomou conta da zaga corintiana. Com bons recursos aéreos e tranquilidade no chão, foi intocável na zaga formado por Osmar Loss. Boa opção para a defesa da seleção brasileira sub-20, que começará a ser formada neste ano.
JA: Beque firme e bom pelo alto, Del’Amore teve atuações que fizeram o torcedor palmeirense questionar sua saída do clube. Sem receber um cartão sequer durante a competição, fez parte da pouco vazada defesa corintiana – 0,77 gol por partida. Ainda abaixo dos /95 Sam e Pedro Henrique, pode amadurecer até a edição 2017.
Lateral esquerdo
Guilherme Romão – Corinthians – 19 anos (01/01/1997)
CA: Contratado junto ao Marília, Romão foi uma das surpresas desta Copa São Paulo. Com a responsabilidade de substituir o ótimo Guilherme Arana, ele não fez feio. Com muito recurso técnico e ofensividade aguçada, participou de diversas jogadas no ataque do Corinthians. A frequência de Romão no ataque favoreceu o trio de ataque corintiano nos 28 gols marcados.
JA: Rápido, voluntarioso e de bom recurso técnico, foi surpresa em edição carente em variedade na ala esquerda. Integra a lista de destaques do Corinthians na posição nas últimas Copinhas, ao lado de Ronny, Éverton Ribeiro – foi ala na base–, Bruno Bertucci, Dodô, Denner, Igor, Victor PC e Arana – cuja saída, ventilada, pode abrir brecha para Romão no clube paulista.
Meio-campistas
Ronaldo – Flamengo – 19 anos (23/10/1996)
CA: A inteligência e versatilidade de Ronaldo impressionam. Maduro para a idade, Ronaldo é daqueles jogadores que todos os técnicos gostam. Com senso tático, faz de forma perfeita a transição no meio-campo, além de ser ótimo marcador. Vindo do Paulista, em 2013, está pronto para integrar o elenco profissional. E ser muito importante.
JA: Discreto e muito eficiente, comandou o setor defensivo do Flamengo e foi fundamental na conquista do título. Meio-campista inteligente na leitura de jogo e boa disposição tática – pode, ainda, atuar na lateral-direita –, parece estar preparado para ser alçado aos profissionais em breve.
Maycon – Corinthians – 18 anos (15/07/1997)
CA: Herói da conquista em 2015, Maycon quase repetiu o eito em 2016. Volante com pés de armador, foi o melhor jogador do alvinegro no torneio. Além de marcar e criar, ele faz gols. E muitos. Nesta edição, foram seis. Tem qualidade para suprir a necessidade da posição elenco treinado por Tite.
JA: Certamente, foi um dos três jogadores mais valiosos desta edição. De futebol vistoso, alia passes precisos na criação a finalizações decisivas em chegadas ao ataque. Maycon possui qualidades que o credenciam a ser um grande jogador no futuro e será peça fundamental na construção da seleção sub-20 de 2017.
Alex Apolinário – Cruzeiro – 19 anos (07/11/1996)
CA: Meio-campista clássico. Daqueles raros no futebol mundial. A camisa 10 casa perfeitamente com o atleta. Após ser destaque na Copa São Paulo 2015, pelo Botafogo-SP, Alex chegou ao Cruzeiro para ser líder. E vem conseguindo. Desde que desembarcou, foi o grande jogador da Raposa em todos os torneios. Na Copinha, marcou quatro gols, além de distribuir passes e dar muitas assistências. O craque da competição.
JA: Deixar Ribeirão Preto para assumir a camisa 10 do Cruzeiro não é tarefa simples – ainda mais você se chamar Alex. Pelo segundo ano consecutivo, Alex Apolinário é dono absoluto do posto de melhor meia da Copinha. Decisivo e refinado, o armador participou de quase todos os gols do time mineiro no torneio e foi o grande nome da Copa SP.
Matheusinho – América-MG – 17 anos (11/02/1998)
CA: O mais jovem da nossa seleção. E talvez o mais habilidoso. O baixinho atormentou as defesas adversárias, seja com dribles ou jogadas em velocidades. Além disso, possui uma grande técnica no passe. Foi o grande responsável pela ótima campanha dos mineiros. Integrante das seleções de base, a joia tem tudo para ir bem na equipe profissional do Coelho neste ano.
JA: Pouco lembrou o jogador baixinho e tímido que participou do Mundial Sub-17 com a seleção brasileira, em 2015. Incisivo, com velocidade impressionante e extremamente habilidoso, Matheusinho foi determinante para o América-MG. Agigantou-se pra cima das defesas adversárias e, mesmo com 17 anos, foi o jogador mais valioso – para seu time – da Copa São Paulo. Impressionante.
Atacantes
Lucas Paquetá – Flamengo- 18 anos (27/08/1997)
CA: Dono de um futebol ousado, e muitas vezes irresponsável (no bom sentido), Lucas Paquetá era a válvula de escape do Flamengo. Dono dos contra-ataques mortais da equipe, demonstrou velocidade e habilidade em grande dose. Meio-campista de origem, formou uma dupla quase perfeita com Vizeu. Titular desde o sub-15, pode ser peça importante para a equipe profissional. Poucos jogadores têm esse perfil hoje.
JA: Em crescente na base rubro-negra desde 2015, quando assumiu o protagonismo que dele tanto se esperava, Paquetá tornou-se o parceiro ideal para Vizeu. Habilidoso com a perna esquerda e capaz de fazer a bola “grudar no pé” ao conduzi-la, parece, às vezes, um jogador de futsal adaptado ao futebol de campo. Nome para se acompanhar de perto.
Felipe Vizeu – Flamengo – 18 anos (12/03/1997)
CA: Centroavante típico, daqueles à moda antiga, Vizeu conquistou a torcida do Flamengo durante a competição. Capaz de fazer um pivô perfeito, aproveitou cada chance que teve diante dos goleiros adversários. A briga constante pela bola também foi elogiável. Um jogador raro que pode ser muito importante – até para a seleção brasileira da categoria. Foi o vice-artilheiro da competição, com sete gols – atrás apenas do atacante Itinga, do Bahia, com oito.
JA: Marcador em quase todos os jogos do Flamengo, Vizeu foge ao estereótipo de centroavante ‘paradão e empurrador’. Ágil, voluntarioso e participativo, possui capacidade técnica para sair da área e auxiliar nas jogadas ofensivas – além, claro, do faro goleador, boa finalização com as duas pernas e ótimo cabeceio. Tem tudo para vestir a 9 da seleção sub-20.
Seleção reserva (formação no 4-3-3)
Lucão (Cruzeiro), Kevin (Cruzeiro), Adryelson (Sport), Lucas Kal (São Paulo), Inácio (São Paulo); Fábio (Sport), Charles (Internacional), Felipinho (Bahia); Kauê (Palmeiras), Rick Sena (Cruzeiro), Geovane Itinga (Bahia)