“A gente mostrou que o grupo do São Paulo não tem playboy nem moleque. Aqui é um grupo de homens, de guerreiros com sangue nos olhos”.
A frase acima foi dita por Banguelê, capitão do time sub-20 do São Paulo que levantou a taça da cobiçada Libertadores Sub-20, no início de 2016. Poderia ser de qualquer outro jovem que integra essa equipe. Ou Cotia.
A estereotipação dos atletas formadas pelo São Paulo em Cotia é antiga. Mimados para alguns, despreparados para outros. O fato é que pouco se argumenta quanto a isso. Apenas uma verdade inventada por alguém e que se tornou definitiva.
Porém, além dos títulos conquistados pela base são-paulina recentemente (em todas as categorias), a forma dramática como alguns foram obtidos dão o tom aguerrido destas equipes. Copa Votorantim, em 2016, Campeonato Paulista Sub-17, 2015, e Libertadores Sub-20 comprovam tal fato.
Um jogador, em especial, chama atenção pela personalidade: David Neres. Maior expoente da base são-paulina há algum tempo, o atacante é a grande esperança do clube e da torcida.
Há cerca de um ano, escrevi sobre Ewandro, outra joia formada em Cotia, mas que não teve tanta sequência no São Paulo – atualmente está na Udinese. David Neres segue a mesma linhagem: habilidade, técnica e muita qualidade.
Mais do que isso: personalidade. Neres é daqueles jogadores diferentes (não só pelo talento). Capaz de decidir uma partida em poucos toques, ele não se abate com zagueiros duros e provocativos. Joga com a malícia da várzea, sem medo do desconhecido. Neres está no São Paulo desde os 10 anos. Nascido em Perus, bairro de São Paulo, sempre foi destaque na base tricolor.
Tal qual Ewandro, a qualidade no drible e a boa finalização são as principais marcas de seu futebol. Talvez até um pouco abaixo que o ex-companheiro de clube em potencial, Neres compensa com atributos subjetivos, como a já dita malícia positiva.
Além da semelhança citada, os dois possuem uma espécie de desligamento automático. Algumas vezes, parecem não manter o alto nível durante toda a partida. Mas isso é algo a ser corrigido, já que até mesmo profissionais de alto gabarito padecem dessas dificuldades.
Para Jonatan Androwiki, especialista em categorias de base, o atacante tricolor lembra Douglas Costa. De fato, algumas características se confundem com o jogador do Bayern de Munique – como a verticalidade.
Em 2015, pelo sub-20, Neres atuou mais pelo lado direito, podendo fazer dois tipos de jogada: cortar pro meio e chutar, além de levar a bola até a linha de fundo. Porém, o jogador também pode jogar aberto pelo lado esquerdo, funcionando quase como um ponta antigo.
Em 2016, Neres encerrou um ciclo vitorioso na base. E iniciou outro. É a chance do atacante de 19 anos se mostrar na equipe profissional. O jogador ficou, no entanto, ficou quase seis meses parado por lesão no ombro após o título da Libertadores Sub-20. Quem sabe até iniciar, de imediato, um capítulo na Libertadores principal. Competição na qual o São Paulo tem três títulos.
Na base, David Neres talvez tenha sido o grande jogador de 2015. Decisivo nas conquistas da Copa do Brasil Sub-20 e Copa Ipiranga – ambas como melhor jogador e a primeira como artilheiro, ao anotar seis gols.
Além disso, fez sete gols no Campeonato Paulista Sub-20, em que o São Paulo foi eliminado nas semifinais, e três gols no título da Copa Ouro. Na Copa São Paulo, marcou três gols, sendo um dos melhores do Tricolor no torneio. Com quatro títulos em um ano, a hora agora é de brilhar nossos profissionais.
Na última segunda-feira (17), Neres estreou. O cenário era negativo. Equipe próxima ao rebaixamento, visitando o Fluminense e perdendo no segundo tempo. A resposta? Dribles e jogadas pelo lado. Com tanta personalidade, a torcida do São Paulo já tem uma grande esperança em um ano tão difícil.
