Como uma tragédia no rival abalou o Everton nos anos 80

Como uma tragédia no rival abalou o Everton nos anos 80

Time de Liverpool viveu uma era dourada que não chegou em seu auge por conta de tragédia envolvendo rival.

COMPARTILHAR

Imagine-se na pele de um torcedor de um clube grande e tradicional, que vê seu maior rival passar uma década inteira colecionando títulos tanto dentro como fora do país. Na hora que seu time finalmente ressurge e tem a chance de desfrutar da elite do continente, uma tragédia envolvendo esse mesmo adversário te afasta essa possibilidade.

A situação, que parece uma peça pregada pelo destino, foi aplicada aos torcedores do Everton na metade da década de 1980. Sob a batuta do treinador Howard Kendall, o time azul vivia naquela época uma das melhores fases de sua história, acumulando bons resultados em nível doméstico.

O técnico Howard Kendall mudou a história do Everton (Foto: Reprodução)
O técnico Howard Kendall mudou a história do Everton (Foto: Reprodução)

De 1984 a 1987, foram dois títulos do Campeonato Inglês, uma Copa da Inglaterra e três Supercopas, além de vários vice-campeonatos. Como cereja do bolo, o Everton ainda levantou a taça da Recopa Europeia de 1985, em cima do bom time do Rapid Viena.

A chave para o bom desempenho da equipe, além da revolução provocada por Kendall desde sua chegada, estava no auge de alguns atletas que escreveram seus nomes na história do clube justamente por conta de suas performances naquele período.

É o caso, por exemplo, do goleiro Neville Southall. Recordista de atuações pela equipe, o goleiro era um dos destaques da equipe que sofreu apenas 17 gols na temporada 1984/85 do Campeonato Inglês. Para ajudá-lo, outros defensores que se tornariam parte do “Hall da Fama” azul: o lateral-direito Gary Stevens e o zagueiro Kevin Ratcliffe.

Everton comemora o título inglês em 1985, com apenas 3 derrotas em 42 jogos (Foto: Reprodução)
Everton comemora o título inglês em 1985, com apenas 2 derrotas em 42 jogos (Foto: Reprodução)

Do meio para a frente, o time mostrava um padrão de troca de passes em velocidade acima da média inglesa, misturando técnica com objetividade. Trevor Steven, Peter Reid e Kevin Sheedy contralavam as ações no setor, enquanto Andy Gray e Graeme Sharp tinham a responsabilidade de mandar a bola para a rede.

Tudo parecia ótimo para o Everton, e até mesmo para a cidade de Liverpool, já que os Reds também mantinham a competitividade e a sequência de bons resultados tanto no país como nas comeptições europeias. Mas aí veio o baque.

Em 1985, na final da Copa dos Campeões entre Liverpool e Juventus, um confronto entre italianos e hooligans do time inglês deixaram um total de 39 mortos. Por conta do ocorrido, a UEFA baniu as equipes inglesas de competições organizadas pela entidade por cinco anos.

A punição só serviu para aumentar a tensão entre os dois clubes do Merseyside Derby. O Everton havia montado a melhor equipe de sua história e não podia brigar pela maior glória da Europa por conta de atos envolvendo torcedores de seu rival.

Os times continuariam seus embates locais, ocupando quase sempre os postos mais altos nos torneios da Inglaterra até o final da década. Foi só ali, em 1989, que outra tragédia serviu para transformar a tensão em solidariedade e mudar o futebol inglês.

Naquele ano, durante a semifinal da Copa da Inglaterra entre Liverpool e Nottingham Forest, 96 torcedores dos Reds morreram pisoteados e 766 ficaram feridos em um desastre que depois seria devidamente atribuído às autoridades.

A partir dali, normas de segurança mais estritas foram estabelecidas e o padrão de torcida no país mudou. Além disso, o Everton se sensibilizou com a situação do rival, e ambos juntaram esforços para limpar o nome das vítimas e investigar os reais responsáveis pela tragédia.

Se fora de campo as coisas mudaram para melhor, dentro dele o Everton nunca mais conseguiu repetir aqueles anos dourados em meados da década de 1980. Para a torcida do clube, ficou a lembrança de um grande esquadrão e a eterna dúvida sobre o quão longe ele poderia ter chegado a nível europeu.

Deixe seu comentário!

comentários