No Sudão do Sul, futebol uniu um país dividido

No Sudão do Sul, futebol uniu um país dividido

Marcado por conflitos, país estreou nas Eliminatórias para a Copa do Mundo diante da Mauritânia

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(Foto: Reprodução/FIFA)
Sudão do Sul tornou-se membro da CAF e da FIFA em 2012, um ano após conquistar sua independência (Foto: Reprodução/FIFA)

Terminou na terça-feira passada (13) a inédita aventura do Sudão do Sul nas Eliminatórias para a próxima Copa do Mundo, que será realizada em 2018, na Rússia. O mais novo representante do continente africano foi superado pela Mauritânia na primeira rodada da qualificação, tendo empatado o primeiro confronto por 1 a 1, na última quinta-feira (7), em Juba, e perdido por 4 a 0 na condição de visitante, em Nouakchott.

Curiosamente, o jogo de ida havia começado na quarta-feira, mas precisou ser interrompido com 10 minutos de bola rolando em função da chuva torrencial que castigou o Juba Stadium. Quando o árbitro ugandense Rajab Bakasambe decidiu pela suspensão da partida, o mauritano Boubacar Bagili e o sul-sudanês Dominic Abui Pretino já haviam balançado as redes. A disputa só terminou no dia seguinte, 19 horas após o apito inicial.

Antes dessa breve jornada, o Sudão do Sul teve quatro compromissos pelas Eliminatórias para a Copa Africana de Nações de 2017. Em maio de 2014, sofreu uma goleada de 5 a 0 para Moçambique, fora de casa, e não saiu do zero ao receber o algoz em Khartoum, no Sudão. Em junho deste ano, visitou Mali e perdeu por 2 a 0. Em setembro, enfim, a primeira vitória de sua história: 1 a 0 sobre a Guiné Equatorial, em Juba.

O resultado encheu de esperança dirigentes e jogadores, que definiram o futebol como importante elemento de unificação. “A equipe nacional é um grande exemplo de unidade”, resumiu o capitão Richard Justin Lado em entrevista publicada pelo site da FIFA. Citado pela African Independent, o presidente da Associação de Futebol do Sudão do Sul, Chabur Goc Alei, também fez avaliações positivas sobre o primeiro triunfo do país.

“Houve uma reação incrível à nossa vitória sobre a Guiné Equatorial. Nós éramos um país unido comemorando uma conquista histórica no futebol. Acredito que a seleção, que inclui jogadores de várias tribos, pode ajudar o processo de paz. Mesmo aqueles que se opõem ao governo comemoraram esta vitória porque ela foi alcançada em nome do Sul do Sudão, e não de uma tribo ou partido político”, explicou o cartola.

Vale lembrar que o país havia mergulhado em crise em dezembro de 2013 devido à luta pelo poder entre o presidente, Salva Kiir, da etnia dinka, e seu vice, Riek Machar, da etnia nuer, acusado por Kiir de promover um golpe de estado e logo demitido.

Após o episódio, combatentes das tropas do governo e facções rebeldes irromperam em uma guerra civil que matou milhares de pessoas e resultou na fuga de mais de 2,2 milhões de habitantes. O acordo de paz para finalizar o conflito foi assinado apenas no último mês de agosto.

Hoje, quatro anos após a independência em relação ao Sudão, aprovada por 98,83% dos sul-sudaneses em referendo, o país sofre com uma grave crise humanitária. Apesar de todos os problemas, incluindo os de origem étnica, a seleção nacional conseguiu deixá-los de lado e reuniu grupos opostos para celebrar sua primeira vitória.

A euforia permaneceu intacta nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, e esse é o grande legado que a equipe comandada pelo técnico sul-coreano Lee Sung-jea alcançou.

Com a eliminação precoce, o próximo jogo da “Estrela Brilhante” só acontecerá em novembro, quando o vice-líder do grupo G recebe Benim pela terceira rodada das Eliminatórias para a Copa Africana de Nações. Na primeira posição está Mali, que soma um ponto a mais (4) e enfrenta a Guiné Equatorial em casa, no mesmo mês.

Agora, resta saber se o futebol continuará sendo um instrumento eficaz para levar um sopro de esperança e paz ao povo sul-sudanês, que convive com grandes dificuldades.

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