“Chicotada psicológica”, como dizem os portugueses, é uma das mais antigas técnicas para tentar melhorar o desempenho de uma equipe no decorrer de uma competição. Uma, duas, cinco… oito partidas sem vencer e a torcida clamando inflamadamente por mudanças. Contratar jogadores? Nem sempre é possível. Sobra para o técnico.
Chega o novo professor – ou profeta – com uma bomba relógio nas mãos. Vencer ou vencer. Mas como conseguir em duas rodadas o que seu antecessor não conseguiu em meses? O elenco é o mesmo. O recurso é o discurso motivacional: nós contra o mundo. Vocês podem. Vocês devem. Pobre do comandante que tenha Wallace, Paulo André, Ganso ou qualquer outro niilista no time titular.
Nem para o camarada torcedor-de-sofá-padrão é segredo que o Campeonato Brasileiro é, historicamente, o líder mundial dos pés na bunda futebolístico-motivacionais. Ao menos até o mais novo candidato a PVC nos contradizer. Mas, neste seco e quente 2015, descobrimos ter um concorrente de pesos. O Campeonato Argentino.
O novo formato do Tangozão, colocado em prática no começo do ano, fez a alegria dos chicoteadores. Agora é disputado em turno único, no ano inteiro, com a participação de 30 equipes. Isso aumentou exponencialmente as demissões, antes quase sempre relegadas a cada intervalo entre Apertura e Clausura. E fez com que a liga argentina brigasse por una cabeza com o Marinzão 2015 pelo honroso título de campeão mundial dos “desligamentos em comum acordo”.
Considerando ainda pedidos de demissão, o comparativo abaixo traz os dois maiores torneios sul-americanos, líderes absolutos, e algumas ligas importantes da Europa e da América Latina encerradas nos últimos meses. E também quebra frases feitas. Sim, no Velho Mundo há mais técnicos demitidos do que você pensa. Alguns com a proeza de repetir o feito na mesma temporada e pelo mesmo time (alô, Zdenek Zeman).
Safam-se os campeonatos do México e da França, com médias muito baixas. Mas o Arribazão é enganoso. A disputa no formato Apertura e Clausura tende a diminuir as chicotadas, que são as mudanças no decorrer da disputa, mas quase todos os times mexicanos costumam trocar de professor entre um torneio e outro. Como é na Colômbia, no Chile, e, até 2014, na Argentina. Afinal, são dois campeões nacionais por ano.