Alguns feitos são difíceis de dimensionar. Com o passar do tempo, todavia, as lembranças ajudam os participantes – coadjuvantes ou não – a relembrar o que aconteceu. Para o atacante Elvir Bolic, um momento foi especial em sua carreira.
O bósnio era um dos ídolos do turco Fenerbahce na década de 1990. Centroavante de bom porte físico e técnica apurada, cabia a ele a responsabilidade de fazer os gols de uma equipe que acabou encerrando um jejum incômodo de conquistas.
Mais do que o papel de protagonista no título turco da temporada 1995-96, além dos 64 tentos em 145 jogos, ele fez um gol que espantou o planeta. Diante do Manchester United, no dia 30 de outubro de 1996, Elvir calou, de forma espetacular, o Old Trafford. Tratava-se da primeira derrota europeia dos Red Devils em casa em mais de 40 anos.
O choque foi causada pelas situações das suas equipes à época. O Manchester vinha em uma crescente com Alex Fergunson e contava com jogadores do calibre de Scholes, Beckham e Cantona. Além do que, na primeira partida da fase de grupos daquela Liga dos Campões League, havia batido o Fenerbahce, com relativa facilidade, na Turquia.
Em casa, a expectativa era da confirmação da classificação para a próxima fase. Com a Juventus sobrando, a briga pela segunda vaga foi acirrada até o fim, muito em função do inesperado jogo de Old Trafford.
Um conhecido no banco de reservas
No banco de reservas, Sebastião Lazaroni era o comandando turco. O brasileiro vivia bom momento na Turquia, com goleada sobre o Galatasaray, seu principal rival – e em solo adversário – por 4 a 0.
Um mês depois, para enfrentar os poderosos ingleses, Lazaroni mandou a campo o mítico Rüştü Reçber no gol. A defesa foi formada por Uche Okechukwu, nigeriano que tinha bom poder defensivo, Jes Høgh, dinamarquês de ótimo nível, Saffet Akbas e Erol Bulut. No meio, a principal posição do time, İlker Yağcıoğlu, Kemalettin Şentürk, Tuncay Akgün e o craque nigeriano Jay Jay Okocha formavam uma espinha dorsal de grande nível.
Avançados, Emil Kostadinov, da seleção búlgara, e Elvir Bolić, que já era convocado pela Bósnia naquela altura, compunham o setor ofensivo. A qualidade da equipe era elevada, principalmente comparado aos times nacionais da época. Porém, diante do Manchester United, a missão era basicamente defender e aproveitar os espaços. E deu certo.
Um gol que marcou época
Após a pressão do início do duelo, o Fenerbahce foi ganhando confiança e atacando, principalmente com Okocha. Na defesa, Bulut e Rustu se mostravam muito bem. A primeira etapa estava “boa” com o 0 a 0.
E não é que o Fenerbahce aprontou? Em contra-ataque, Bolic resolveu decidir sozinho e arriscou de fora da área. A bola desviou no defensor May e entrou sem chances para o goleiro Schmeichel. Era o gol da vitória histórica, aos 33 minutos do segundo tempo.
Com a pressão desordenada do time mandante, a equipe de Sebastião Lazaroni ainda poderia ter feito o segundo, mas a bola não entrou em cabeçada de Kostadinov na trave. Era a demonstração de poder dos turcos.
A invasão em solo inglês causou repercussão não só na Europa. Era um jejum sendo quebrado. Ninguém era capaz de bater o Manchester United em seu reduto. Bolic entrava para a página dourada do Fenerbahce com o gol. Era um feito muito grandioso.
A invencibilidade foi destruída, assim como a força do Manchester em casa naquela Liga dos Campeões. Quase um mês depois, a Juventus repetiu o placar e obteve mais uma vitória em Old Trafford. Nas instâncias decisivas, o Borrussia Dortmund ganhou por 1×0 em visita aos Red Devils e eliminou o clube inglês nas semifinais do torneio continental.
Bolic marcou seu nome na história. Com o passar do tempo, a sua marca terá ainda mais repercussão. A dimensão vai ser refeita daqui a alguns anos.