Nos dias de hoje, o futebol ainda está longe de ser considerado um dos principais esportes nos Estados Unidos. Apesar de investimentos pesados por partes das equipes e da grande audiência nas TVs americanas que transmitiram a última Copa do Mundo, o soccer ainda é visto com desdém por grande parte do público, que ainda resiste às regras e até mesmo à cultura do jogo. Se em 2016 a situação é essa, imagine em 1970.
Para um país que mal conhecia o esporte, ter uma equipe recém-criada ousada o suficiente para contratar atletas consagrados parecia loucura. Mas dentro do padrão americano de investir no espetáculo, até que fazia sentido. Para atrair espectadores, é preciso ter estrelas. Uma constelação. Ou simplesmente o Cosmos.
Criado em 1970, o New York Cosmos é o protagonista de uma típica história de rápida ascensão e queda, retratada no documentário “O Mundo aos Seus Pés” (Once in a Lifetime), de 2006, dirigido por Paul Crowder.
O filme mostra os detalhes e os bastidores por trás da criação do time, ligado ao grupo de comunicações Warner. Narrada pelo ator Matt Dillon, a obra conta a forma como o futebol era enxergado na sociedade norte-americana daquela época, e como funcionava a liga local, a North American Soccer League (NASL).
De fato, o aspecto dominante não só no filme como na história em si é o pitoresco, e o estranhamento que pode causar em nós, tão acostumados a encarar o esporte como o mais popular do mundo, vendo as reações dos americanos que pouco entendiam sobre as regras e os prazeres do jogo.
É claro que as tais estrelas na constelação do Cosmos não poderiam ser outras. O documentário relata a chegada no time nova-iorquino de Pelé, Beckenbauer, Carlos Alberto Torres e Chinaglia, entre outros, e como o mero fato de serem astros do mundo da bola despertaram o interesse do público.
Vale conferir os depoimentos dos envolvidos na história, principalmente daqueles que se impressionaram quando conheceram o fenômeno Pelé dentro de campo, e a forma como é a mostrada a derrocada da equipe depois de sua aposentadoria, em 1977. Um auge que durou pouco, uma história de fato muito curta para um clube, mas que acabou deixando uma marca pela simples excentricidade envolvida.
O lado cômico fica por conta da apresentação de lances dos jogos do Cosmos na época, sob regras diferentes do futebol que era praticado nos outros cantos do mundo. E também as histórias que mostram como era a relação dos jogadores nativos com os supercraques que chegavam para reforçar o time.
A proposta de “O Mundo aos Seus Pés” pode ser apenas mostrar a relativamente breve história do Cosmos, mas propositalmente ou não, acaba atingindo um alvo ainda maior. É um retrato do choque de culturas e da tentativa delas se integrarem, além da expressão de um rei que tentava conquistar novos territórios.
