Quando Telê treinava o Palmeiras – Parte II

Quando Telê treinava o Palmeiras – Parte II

Ídolo do São Paulo, Telê coleciona duas passagens pelo rival Palmeiras. Confira como foi a segunda, em 1990.

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O Telê Santana que retornou ao Palmeiras em 1990 já não era o mesmo Telê que havia trocado o alviverde pela seleção brasileira em 1980. O técnico tinha perdido boa parte de seu prestígio, deixando de estar entre os principais treinadores do país.

Suas convicções, contudo, permaneciam iguais. Era o Telê de sempre: futebol ofensivo, técnico e leal; Fora de campo, um pai, amigo e conselheiro para seus jogadores. Podia até não ser campeão, mas seu time deveria, necessariamente, mostrar o melhor futebol.

Naquele momento, o Fio de Esperança ainda estava sendo assombrado pelo fantasma das duplas eliminações nas Copas de 1982 e 1986, pela seleção brasileira. Telê chegava a ser chamado de “pé-frio” por algumas publicações.

No Atlético Mineiro, em 1988, o professor esboçou reação. Levou o título do Campeonato Mineiro, e, no ano seguinte, levantou o troféu da Taça Guanabara pelo Flamengo.  Mas ainda não era o suficiente para apagar a má impressão na memória dos brasileiros, especialmente depois de uma passagem curta e sem sucesso pelo Fluminense após deixar o rubro-negro.

Telê tentou, mas não conseguiu conquistar títulos pelo Palmeiras (Foto: Reprodução)
Telê tentou, mas não conseguiu conquistar títulos pelo Palmeiras (Foto: Reprodução)

A impressão dos palmeirenses, contudo, ainda era boa. A primeira passagem havia sido a melhor desde o início da incômoda fila de títulos iniciada a partir de 1976. 14 anos haviam passado, e, desde Telê, o alviverde sequer conseguia chegar perto de exibir um futebol minimamente aceitável.

A situação não era pior para Telê somente na parte da pressão da torcida por títulos. O elenco também era inferior em relação ao time de 1979. Não havia mais um craque do porte de Jorge Mendonça, por exemplo.

A armação estava a cargo de Jorginho, que hoje é um conhecido – e rodado – técnico de futebol.  Era um bom jogador, mas nunca um craque. Nivelava por baixo o time encontrado por Telê em seu retorno ao Palestra Itália.

No ataque, Mirandinha e Careca. Mas não o Mirandinha carrasco verde, tampouco o Careca craque. Somavam-se a nomes como Elzo, Betinho e Aguirregaray. O gol, ao menos, estava em boas mãos: futuro ídolo palmeirense, Velloso era o dono da posição.

O clima era de urgência. Telê teria pouco tempo para arrumar a casa, tendo chegado em meio à disputa do Campeonato Paulista. O técnico comandaria a equipe na terceira fase da competição, com a equipe já classificada, esperando a fase de repescagem se encerrar para estrear.

O retorno oficial aconteceu mais de um mês depois, diante do América-SP, fora de casa. Resultado? Um 0 a 0 morno, que não condizia com os ensinamentos propostos pelo treinador. Naquele momento, Telê percebeu que sua missão não seria nada fácil.

Vieram os jogos seguintes, contra XV de Piracicaba e Ferroviária, e o Palmeiras venceu. Parecia ter engrenado. Mesmo com um elenco fraco, Telê novamente estava conseguindo arrancar leite de pedra, esboçando a criação de um bom jogo coletivo.

Mas aquele não era um Paulistão qualquer. A terceira fase era dividida em dois grupos de sete times, sendo disputado em dois turnos, com os líderes de cada chave disputando a final. Em um dos grupos, o Bragantino simplesmente surpreendeu e terminou em primeiro, deixando Corinthians e Santos para trás.

No outro, o Palmeiras passou a brigar ponto a ponto com o Novorizontino. Venceu a equipe de Nelsinho Batista no confronto direto, mas bastaram duas derrotas, contra Guarani e XV de Piracicaba, além de cinco empates, para que o time do interior levasse vantagem na pontuação final e formasse a famosa “final caipira” diante do Braga.

O cenário inusitado e o tropeço coordenado dos rivais não bastou para amenizar a pressão no clube. A torcida seguia sedenta por títulos, e encarava a eliminação como um vexame, e não como mérito do adversário.

Telê não resistiu a pouco mais de um mês após a decepção no estadual. Começou mal o Brasileirão. Para piorar, viu seu time perder para o Corinthians e, em seguida, ser derrotado pelo Bahia em pleno Parque Antártica. O próprio professor achou que não conseguiria mais motivar seu elenco e pediu demissão.

Desacreditado, Telê assumiria o São Paulo – que também passava por crise – pouco tempo depois, sob certa desconfiança. Não apenas classificou a equipe para a final, como também teve a sequência mais vitoriosa de sua carreira. Mas isso é outra história.

O técnico ainda se arriscaria a voltar ao Palmeiras em 1997, já multicampeão, para tentar o título que não havia conseguido. Porém, sua saúde não o permitiu. Um mês após o anúncio de seu acerto, Telê foi obrigado a deixar o clube, sem sequer estrear.

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