Chovia. O clima era europeu para o clássico mais sul-americano existente. Nas arquibancadas do mítico estádio Centenário de Montevideo, a alegria de duas torcidas apaixonadas. Naquele dia nove de outubro de 1949, corações calientes pulsavam na expectativa de uma grande partida.
Apesar de toda a rivalidade, era sabido da imensa força do Peñarol. A grande máquina aurinegra estava no auge. Seria quase impossível para os guerreiros do Nacional impedir mais uma vitória dos rivais. Missão praticamente impensável para qualquer time do mundo.
Porém, estava em jogo uma rica história. Um guerreiro nunca se dá por vencido antes da batalha. Mesmo o inimigo ostentando armas como Varella, Ghiggia, Hohberg, Miguez, Schiaffino, Vidal, entre tantas outras de diferentes calibres.
Armas conhecidas, posteriormente, do público brasileiro. Àquela época, munição capaz de, no Torneio Competência, marcar 35 gols e sofrer apenas nove. Campeão com sobras e direito de quem intimidava em todo o solo Charruá. Uma equipe que perdeu apenas uma partida durante todo o ano, além de ganhar o Campeonato Uruguaio de forma invicta.
O treinador húngaro Emerico Hirsch era a cereja do bolo. Ousadia levada ao extremo quando o sexteto ofensivo estava em campo. A equipe tricolor também contava com jogadores de respeito, como Tejera, Gambetta e Atilio Garcia. Mas seria difícil conter o arsenal carbonero.
O “Esquadrão da morte” estava no principal palco do futebol uruguaio disposto a uma vingança. Nove anos antes, em 1940, o Nacional havia goleada o Peñarol por 6 a 0. Derrota que doía.
Dispostos a fazer história, os carboneros iniciaram a partida a todo vapor. Com a característica ofensividade, logo encaixou os melhores ataques. Porém, somente aos 38 minutos a rede foi balançada. Em um ataque com a colaboração de Vidal e Schiaffino, a lendária flecha Ghiggia foi o responsável pelo primeiro gol da partida. Foi também o primeiro tento de Ghiggia sobre o rival.
Explosão da metade aurinegra, Festa que se intensificaria pouco antes do intervalo. Em um pênalti polêmico, com uma consequente expulsão de Tejera, Vidal aproveitou o rebote da cobrança de Schiaffino, após defesa de Paz, e marcou o segundo gol do Peñarol.
Em meio à comemoração do Peñarol, confusão generalizada entre os jogadores do Nacional e o árbitro. Após muitos empurrões e reclamações de uma possível invasão de Vidal na cobrança da penalidade máxima, sobrou para Walter Gómez. Segundo expulso do quadro dos albos.
Em um dos intervalos mais longos do clássico, emoções divididas. De um lado, euforia e esperança de uma goleada homérica. Do outro, indignação com o árbitro e um misto de sentimentos: Medo ou revolta?
Após o retorno do Peñarol ao campo, todos esperavam o a volta Nacional. Retorno que nunca aconteceu. Estava definido o “Clássico da Fuga”. Até hoje ambas as torcidas discutem tal episódio. Talvez o mais marcante do clássico gigante.
Em algum lugar, os ensinamentos de guerra se perderam. Um guerreiro teoricamente nunca desiste. E os guerreiros tricolores não voltaram ao gramado naquela tarde.
Clássico que ainda repercute e reverbera na atualidade, em um dos capítulos históricos do futebol uruguaio.