Nos últimos meses, um jogador pouco renomado tem causado um enorme debate que extrapolou a esfera esportiva. Hakeem Al Araibi, 25 anos, zagueiro do Pascoe Vale, time da segunda divisão australiana, foi preso em novembro ao desembarcar na Tailândia para uma lua de mel com sua esposa. E a história é ainda mais complicada do que parece.
Nascido no Bahrein, Al Araibi chegou a atuar pela seleção em quatro partidas em 2011. As aparições pela equipe começaram a rarear quando o jogador começou a protestar contra as violações de direitos humanos e o regime autoritário vigente no país do Golfo Pérsico. No ano seguinte, ele seria preso pela primeira vez, atuando no Catar.
A acusação era de vandalismo contra uma viatura policial em manifestações durante a chamada Primavera Árabe, movimento que envolveu diversos países do Oriente Médio contra os governantes vigentes. Al Araibi passou três meses preso na ocasião, por um crime que nega ter cometido. De fato, ele possuía um ótimo álibi: estava em campo pelo seu clube enquanto o ato de vandalismo ocorria a centenas de quilômetros dali.
Depois de comprovar sua inocência, Hakeem foi à Austrália para tentar seguir sua vida no futebol, mas sem deixar de denunciar os abusos cometidos pelas autoridades do Bahrain, que segundo ele haviam cometido atos de tortura durante seu tempo no cárcere.
Em 2017, o jogador conseguiu oficialmente o status de refugiado na Austrália, e deu entrevistas falando sobre como o membro da família real barenita e presidente da Confederação Asiática de Futebol, Sheikh Shaman Al-Khalifa, havia fechado os olhos para atleta que haviam sofrido perseguições durante o período da Primavera Árabe.
Foi então que surgiu um novo mandado de prisão emitido pelas autoridades do Bahrein a Hakeem, mais uma vez sob acusação de vandalismo, relembrando o caso de 2012. A Interpol chegou a emitir um alerta vermelho solicitando a detenção do jogador a pedido do seu país de origem, algo que seria retirado depois, mas em vão. Ao pisar na Tailândia, Al Araibi foi detido, e desde então não foi mais solto.
Nesta segunda-feira (4) o jogador participou de uma audiência para esclarecer seu caso, e vestindo um uniforme de presidiário e com os pés acorrentados, recebeu o apoio de vários manifestantes na porta da corte judicial de Bangkok. A comunidade futebolística também se pronunciou a favor do jogador, com a FIFA e a Federação Internacional de Atletas Profissionais entrando no movimento #SaveHakeem.
Além dos órgãos ligados ao futebol, Al Araibi também tem recebido suporte de autoridades internacionais que representam os direitos humanos, como a Anistia Internacional. No entanto, o atleta deve ficar detido por pelo menos mais 60 dias, prazo para que apresente sua defesa ao tribunal. Caso seja considerado culpado, Hakeem será extraditado de volta ao Bahrein, onde diz que será torturado novamente.