Leicester, um lindo devaneio azul

Leicester, um lindo devaneio azul

Derrubando todas as expectativas, Leicester fez campanha memorável e faturou título inédito

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O desfecho da Premier League ainda faz alguns fãs, como este escriba, terem dificuldades para assimilar que o improvável realmente ocorreu. Afinal, o Leicester celebrou sem entrar em campo a inédita conquista do título inglês, graças ao emocionante empate por 2 a 2 entre Tottenham e Chelsea, em Stamford Bridge, na segunda-feira (2).

Como faltam duas rodadas para o fim da competição e o time orientado pelo italiano Claudio Ranieri tem sete pontos a mais que o vice-líder, não resta qualquer dúvida. Talvez pela ausência da festa no King Power Stadium seja difícil de acreditar em uma das maiores façanhas do ludopédio. Mas está feito. É incontestável. Surpreendente. Inspirador. Um lindo devaneio azul (às vezes colorido em preto ou branco).

Leicester foi campeão inédito da Premier League (Foto: Reprodução/Telegraph/REX)
Desacreditado, Leicester foi campeão atentecipadamente (Foto: Reprodução/Telegraph/REX)

A narrativa ganha traços ainda mais épicos quando se sabe que os “Foxes” foram recentemente promovidos para a elite nacional e lutaram para escapar do rebaixamento na temporada passada.

Claro, é necessário reconhecer a importância de um modelo em que o dinheiro oriundo das negociações dos direitos de transmissão televisiva é dividido de forma que preza pela equidade e, logo, não fere os princípios da competitividade.

Basicamente, o valor obtido com as cotas de tv é dividido em três partes: I) 50% do valor é repartido igualmente entre todos os clubes; II) 25% de acordo com a classificação na última temporada; III) 25% variáveis de acordo com o número de jogos transmitidos. Assim, a diferença entre o que mais arrecada e o que menos recebe é menor do que o dobro. Seria inviável pensar em um feito semelhante no Brasil, por exemplo.

Destacado o sistema de distribuição justo, é preciso também considerar os méritos esportivos. Ganhar com sobras um campeonato de pontos corridos parece ser impossível para equipes de menor expressão, sobretudo para uma que apresentava problemas defensivos no início dele, apesar dos resultados positivos. Mas a situação mudou.

Quando assumiu a liderança na 13ª rodada, ao vencer o Newcastle por 3 a 0, em St. James Park, o Leicester se sobressaía no setor ofensivo, muito em virtude do ex-operário Jamie Vardy, artilheiro da equipe com 22 gols, seguido por Riyad Mahrez (17).

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Homem-gol, Vardy balançou as redes 22 vezes até a 36ª rodada (Foto: Divulgação/Leicester City FC)

Além da eficiência no ataque, é o argelino quem mais brilha na criação, tendo distribuído 11 assistências, à frente de Drinkwater (7), Vardy e Albrighton (ambos com 6).

Com os placares magros que se seguiriam (até agora, 14 das 22 vitórias ocorreram com margem de um gol de diferença), quem passou a chamar a atenção foram os jogadores de trás.

Na meta, o dinamarquês Kasper Schmeichel, auxiliado por jogadores como Kanté, Drinkwater e o capitão Morgan, ficou 15 partidas sem ser vazado, campanha que garante hoje aos Foxes a terceira melhor defesa ao lado do Arsenal (34 gols).

Os festejos oficiais do primeiro título inglês do Leicester em seus 132 anos de vida acontecerá no próximo sábado (7), ao final do jogo contra o Everton. Será a recompensa de um futebol simples, aplicado, construído coletivamente por um grupo de homens que deixarem seus corações no trabalho de Ranieri e conquistaram, sem estrelas e à base de muito suor, simpatizantes ao redor do globo, o que renova nossa fé no futebol.

Quando haverá outro Leicester? É difícil dizer. O próprio Ranieri, de 64 anos, acredita que fenômenos como o que ele protagonizou são raros. “Na próxima temporada será a mesma coisa e pelos nos próximos 10 ou 20 anos será a mesma coisa (clubes ricos campeões)”, afirmou o técnico italiano, conforme reproduzido pela BBC, indicando os exemplos de Nottingham Forest em 1978 e Blackburn Rovers em 1995.

A explicação, nas palavras o treinador, é simples. “O mais rico, ou o time que contratar os melhores jogadores para fazer um time, vencerá”. A exceção é justamente sua equipe, a mais barata na metade de cima da tabela, montada com £ 57 milhões. Para efeitos comparativos, o Tottenham gastou £ 159 milhões, segundo estudo da CIES Football Observatory e da BBC Sport.

Líder dessa relação o Manchester City investiu £ 415 milhões. Mas deixemos as análises de lado por um momento. Mais vale aproveitar desassossegado esse inesquecível furacão azul que derrubou prognósticos e encantou os fãs do futebol e até rivais.

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